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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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forçar Galileu a abjurar... Olha, Elias, e presta atenção na minha silhueta. Quando eu for termi-<br />

nando a frase você entra em resistência, assim: “apaga-te, débil facho. A vida não é mais do que<br />

um sombra passageira, um pobre ator pavoneando-se e excitando-se uma hora sobre o palco, e<br />

que depois se deixa de ouvir...” Vai escurecendo e apaga, Elias. Apaga porque isso era o que<br />

dizia Macbeth, que confundiu o seu destino com o da humanidade. Agora, dê toda a luz, até a<br />

da platéia, pra fala de Fortinbrás no final do Hamlet. (PAUSA. GEMENDO) - Meus nervos não<br />

suportam mais...”<br />

Zambor termina por morrer. O interessante é que se trata de um artista com veleidades<br />

intelectuais. Apesar de todo o seu racionalismo, do seu ceticismo, ele afirma que a vida tem<br />

sentido, que tem sentido a aventura humana, mesmo que o homem sofra restrição de sua liber-<br />

dade, tem sentido viver e lutar. O mesmo conceito de crença na aventura humana será emitido<br />

pelo casal de velhinhos na peça Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, que <strong>Paulo</strong> Pon-<br />

tes escreveria em companhia de Alfredo Zemma.<br />

Mesmo considerando que o texto tenha sido escrito sob encomenda para Ziembinski, e<br />

que de alguma forma o nome Zambor da personagem central lembre o nome de Ziembinski,<br />

Zimba 123 , como era chamado, não é possível esquecer que Check-up é a obra de um homem que<br />

conhecia a rotina dos hospitais e, por isso, tivesse o pressentimento de que a vida é tênue, que a<br />

vida do modo que era, sem liberdade, é um vazio, um fio estendido sobre o abismo.<br />

Check-up, em 1972, ganhou o prêmio Governador do Estado da Guanabara.<br />

123 O professor Dr. Fausto Fuser, durante a apresentação deste nosso trabalho à banca arguidora do Mestrado<br />

em <strong>Arte</strong>s, na ECA-USP, em 1989, disse-nos que não seria o nome “Zimba” a inspiração para o nome “Zambor” da<br />

personagem de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, mas não explicou de onde teria vindo à inspiração do nome. O professor Fausto<br />

Fuser escreveu um capítulo numa revista editada pela Edusp, no qual ele falou sobre os artistas poloneses que<br />

migraram para o Brasil durante a ocupação nazista. Entre eles, Boguslaw Samborski, ator famoso na Polônia,<br />

amigo de Ziembinski, porém colaboracionista: teria trabalhado num filme nazista, Heimker (Volta ao Lar). A consequência<br />

do filme na vida do ator foi a sua posterior fuga da Polônia, até que chegou ao Brasil usando o nome<br />

de Gottlieb Sambor.<br />

Vide FUSER, Fausto. “A Turma da Polônia na Revonação Teatral Brasileira”. Revista Diálogos Sobre Teatro. São<br />

<strong>Paulo</strong>: Edusp, 1992, p. 57 e ss.

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