Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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<strong>Paulo</strong>, como sempre de saúde frágil, estava para ser outra vez internado quando Ziem-<br />
binski o procurou, pedindo um texto. Conta Bibi Ferreira: “Veio uma fase boa. <strong>Paulo</strong> foi opera-<br />
do e descobriu que não tinha nada no pulmão. Recuperou-se. Baseado na sua experiência no<br />
hospital, nos 42 dias que passamos lá dentro, no hospital da Lagoa, no Rio, ele escreveu uma<br />
peça chamada Chek-up” 111 .<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> disse que a peça discute “talvez os problemas mais candentes que afetam a<br />
vida do brasileiro hoje” 112 , embora não diga quais problemas seriam esses.<br />
A linha geral do texto é muito simples: um ator que é internado em um hospital para tra-<br />
tar de uma úlcera no duodeno. O tempo passa. A operação nunca é realizada por causa de uma<br />
suspeita de tuberculose; enquanto isso, o ator incomoda a rígida norma hospitalar com os seus<br />
conceitos racionalistas, sua ironia, sua capacidade de perceber as contradições entre a institui-<br />
ção e o seu fim.<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, para a imprensa, não disse quais são os problemas candentes que afetam a<br />
vida do brasileiro, mas, analisando o seu texto, conhecendo sua história e, particularmente, a<br />
história que o país vivia, é possível perceber que Check-up é uma peça escrita contra a censura.<br />
A história da luta travada entre os artistas de teatro e a censura, está fartamente documentada<br />
pelos trabalhos de Yan Michalski, de Tânia Pacheco e, em perspectiva histórica, por Sônia Sa-<br />
lomão Khéde 113 .<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, em 1976, disse a Sérgio Gomes, que o teatro, premido pela censura, fora<br />
obrigado a buscar nova sintaxe do espetáculo, de forma que pudesse continuar falando, mas em<br />
uma linguagem que não fosse detectada pela censura 114 .<br />
Em 1975, falando a Sérgio Fonta, ele apontou qual o problema que trás para o teatro a<br />
tal sintaxe que engana a censura: “Impede que vá para os palcos aquilo que o teatro tem de van-<br />
111 FERREIRA, Bibi. Op. cit. p. 14.<br />
112 Apud Helena Christina. Op. cit.<br />
113<br />
MICHALSKI, Yan. O Palco Amordaçado. Rio de Janeiro: Avenir, 1979 & O Teatro Sob Pressão. Rio de Janeiro,<br />
Zahar, 1985.<br />
PACHECO, Tânia & outros. Anos 70 - Teatro. Rio de Janeiro, 1980<br />
KHÉDE, Sônia Salomão. Censores de Pincenê e Gravata. Rio de Janeiro: Codecri, 1981.<br />
114 GOMES, Sérgio. “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, a Gota D'água contra a maré”, in Folha de S. <strong>Paulo</strong>, 21 de dezembro de 1976.