Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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víamos o prédio ser tomado, pulamos o muro dos fundos e saímos numa tinturaria. Pegamos um<br />
t xi, que deu a volta pelo Aterro, e em lágrimas, vimos o nosso prédio pegando fogo - eu, Via-<br />
ninha, João <strong>das</strong> Neves e acho que Milani - e um verdadeiro piquenique da classe bem alimenta-<br />
da, dos jovens rapazes da classe média que comemoravam entre urras o incêndio do CPC e da<br />
UNE" 32 .<br />
Hélio Silva, no livro O Poder Militar, diz que o movimento de 64 marcou o fim do papel<br />
tradicional dos militares na política e o aparecimento de novos padrões. Até então, os militares<br />
limitavam-se a derrubar presidentes, mas não ousavam assumir o poder, por não confiarem em<br />
sua própria capacidade política. Tinham até aí o papel de poder moderador. Diz-se que a morte<br />
de Getúlio Vargas retardou por dez anos o golpe dado em 64. Hélio Silva cita uma palestra do<br />
general Castelo Branco em 19 de setembro de 1955, na Escola Superior de Guerra, quando ele<br />
aconselhou que não se aceitasse a tese do golpe de Estado como salvação política para o país<br />
(devido à incapacidade <strong>das</strong> instituições políticas para resolver os problemas da Nação). Naquela<br />
ocasião, dizia o general: "As forças arma<strong>das</strong> não podem, se são fiéis à sua tradição, fazer do<br />
Brasil uma outra republiqueta sul-americana. Se nós adotarmos esse regime, entraremos nele<br />
pela força, haveremos de mantê-lo pela força e sairemos dele pela força" 33 .<br />
No dia 1º de abril de 1964, o general Castelo Branco assumia o poder apoiado pelas for-<br />
ças militares. O Brasil, assim, continuava a ser uma simples republiqueta sul-americana.<br />
32 Idem, ibidem.<br />
33 SILVA, Hélio. O Poder Militar. Porto alegre: L&PM, 1984, p. 29.