14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

6.3.1 - Medeias, ou o tema da separação dos amantes<br />

A) Em Vianinha, na primeira fala do texto, diz Medeia:<br />

“MEDEIA - Me traiu, homem. Me traiu, Jasão.. Punhalada, punhal no escuro, não é?... Tem<br />

volta... Tem... Retorno... ódio. Quero meu ódio todo... Vem mais, meu ódio...” (Prólogo).<br />

Esta fala, além de toda a movimentação do conjunto residencial popular, mostra a dife-<br />

rença entre a vida de todo dia, de todo mundo e, em particular, o abandono de uma mulher que,<br />

em sua fala, embora curta, já expõe o problema com o qual irá lidar.<br />

Em Eurípides, a personagem Aia relata brevemente o passado de Medeia, e o que lhe<br />

acontece no presente:<br />

“AIA - Jasão traiu os filhos e minha ama para entrar num tálamo real: desposa a filha de Creon-<br />

te, que cinge a coroa do país /.../ Deprimida, sem se alimentar, abandona o corpo às dores; con-<br />

some dias inteiros em pranto desde que conheceu a perfídia do marido; já não alça a vista nem<br />

desprende do chão o olhar; parece uma rocha ou uma onda do mar quando ouve as consolações<br />

dos amigos /.../ É uma alma violenta, não suporta afrontas” (p. 14).<br />

Em <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Chico, Corina, a vizinha, comenta com as outras o estado em que Jo-<br />

ana se encontra:<br />

“CORINA - Pois ela está como o diabo quer/ Comadre Joana já saiu ilesa/ de muito inferno,<br />

muita tempestade/ Precisa mais que uma calamidade/ pra derrubar aquela fortaleza/ Mas deste<br />

vez... acho que não aguenta,/ pois geme e treme e trinca a dentadura/ E, descomposta, chora e<br />

se esconjura/ E num soluço desses se arrebenta/ Não dorme, não come, não fala certo,/ só tem<br />

de esperto o olhar que encara a gente/ e pelo jeito dela olhar de frente,/ quando explodir, não<br />

quero estar por perto” (p. 4).<br />

Os autores, logo na abertura, apresentam a personagem num ponto alto de conflito.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!