Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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essado. É um instrumento e, como tal, submetido às leis de mercado, às ideologias e, no Brasil<br />
em particular, ao controle do Estado que a transformou numa espécie de sesmaria moderna,<br />
transformando-a em “latifúndios”.<br />
A televisão é uma realidade presente na vida cotidiana de milhões de pessoas. Ou como<br />
já o notou Umberto Eco, a televisão é um serviço 68 . E como serviço, presumivelmente à popu-<br />
lação, o seu problema primordial não é o que ela exibe, mas - disse Vianinha - o que ela deixa<br />
de exibir: “A revista TV Guide (americana, com tiragem de 6 milhões de exemplares) fez uma<br />
análise da programação mundial de televisões. Chegou à conclusão de que, praticamente em<br />
todo o mundo, no chamado horário nobre, predomina a produção americana, as séries para TV:<br />
a mentalidade do policial, de um perseguindo o outro. A revista notava, porém, com indulgente<br />
estranheza que, num país da América do Sul, a televisão não seguia essas normas mundiais.<br />
Era o Brasil. No Brasil, <strong>das</strong> 6 da tarde até 10 e meia da noite - uma faixa bem mais extensiva do<br />
que o “horário nobre” - só existe produção de autor nacional, só produção nacional. The novels,<br />
como eles dizem. Ser que este simples fato não justifica a participação de um homem de cultu-<br />
ra na TV brasileira, ou o preconceito exige mais justificativas? Nada tenho contra o que é exi-<br />
bido na TV. O problema da TV não é o que ela exibe, mas o que ela deixa de exibir. Esse pro-<br />
blema foge à alçada decisória da própria TV. A emissão fatual da grande realidade é uma cons-<br />
tante de todos os meios de comunicação. No plano da informação, portanto, a televisão não é<br />
criadora - é extensiva, é democratizadora, difusora de valores vigentes socialmente e também<br />
difusora de valores espirituais conquistados pela humanidade ao longo de sua grande aventura<br />
espiritual” 69 .<br />
No momento que fala da televisão como democratizadora dos valores conquistados pela<br />
humanidade, Vianinha toca num ponto que é também muito caro a Umberto Eco, quando estu-<br />
dou o assunto da cultura de massa, da qual a televisão é um braço. Ele considera que a nossa<br />
época é de alargamento da área cultural, onde se realiza, a nível mais amplo, a circulação de<br />
uma arte e de uma cultura popular 70 , com o que concorda <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>. Ele mantém-se sempre<br />
obstinado em encontrar a linguagem adequada para falar à massa: “Televisão é por natureza um<br />
veículo democrático. Interessa a milhões de pessoas, pode ser ligada por qualquer um. O grande<br />
68 ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. S. <strong>Paulo</strong>: Perspectiva, 1987, p. 335.<br />
69 Apud Carmelinda Guimarães. Op. cit. p. 97.<br />
70 ECO, Umberto. Op. cit. p. 9.