Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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desequilibrado, não é assim que se diz?... Subiu o rio... Andando, andando... Lá em cima, foi<br />
pra margem e deu um tiro na cabeça.”<br />
Mas, antes de fazer a revelação do problema por ela proposto, Dolores (que forçou E-<br />
neida a revelar sua carreira feita de oportunismos) resolve que vai cumprir o que prometera:<br />
matar Eneida se ao final de cinco minutos ela não adivinhasse a razão de sua atitude. Este é o<br />
ponto máximo de desmontagem da soberba anterior que Eneida demonstrava. Mas a mulher<br />
puxa o gatilho e, afinal, o revólver está descarregado.<br />
O motivo que levou Dolores a propor aquele problema para Eneida: ela queria que E-<br />
neida sofresse em cinco minutos a dor que o seu filho sofrera em duas semanas antes de matar-<br />
se.<br />
Eneida, arrependida, corre atrás da mulher que se vai sem querer ouvir a sua desculpa e<br />
a sua promessa de reparar o dano. Em cinco minutos uma postura feita de máscaras vai ao chão.<br />
E o que diz a canção do garoto?<br />
“A ferro e fogo<br />
você vai pagar<br />
cada pedaço de mim<br />
que você me fez roubar.”<br />
1.5 - Balanço parcial: uma justiça moral<br />
Parece-nos que entre os textos vistos até agora há como ponto em comum, um certo sen-<br />
timento de justiça que cobre a existência <strong>das</strong> personagens. Não a justiça legal, jurídica. Mas<br />
uma outra que não cabe em um código de leis. Algo como uma justiça “moral”, se isso é possí-<br />
vel.<br />
Olhando com cuidado, vamos ver que não existem nesses textos forças sociais em con-<br />
flito, à exceção de Sem Saída, assim mesmo bastante atenua<strong>das</strong> pelo fato de o conflito se con-