Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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povo, que sonhou livre e no exercício de suas potencialidades. Lutou pela liberdade de expres-<br />
são, por uma cultura nacional e popular, pela regulamentação de nossa profissão, e foi incansá-<br />
vel em to<strong>das</strong> essas atividades /.../ Também lutou para que os teatros permanecessem abertos,<br />
acima de quaisquer pressões ou dificuldades; e por isso não cancelaremos o espetáculo desta<br />
noite” 156 .<br />
Tarso de Castro, depois de relatar seus últimos encontros com <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, inclusive<br />
no hospital, onde, internado, <strong>Paulo</strong> não sabia se devia fazer a operação que resultou inútil, Tar-<br />
so confessa: “Não tenho muito a dizer em público sobre <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>. Nós, entretanto, perde-<br />
mos um cara preocupado na criação, na liberdade, no homem. E a censura perdeu um clien-<br />
te” 157 .<br />
Comovida, Tânia Pacheco se faz perguntas irrespondíveis, mesmo pela metafísica, sobre<br />
o sentido que envolve a existência humana: “O que é que mata um homem? O que é que enterra<br />
um homem? Decididamente, não é o automático gesto dos coveiros vedando com cimentos as<br />
gretas <strong>das</strong> lápides brancas. Um homem pode ser aparentemente vencido pelo câncer. Pode de-<br />
saparecer da nossa visão, encerrado numa caixa. Mas um homem é maior do que isso. E perma-<br />
nece. Em tudo o que criou, em tudo o que defendeu, na memória dos amigos, no remorso dos<br />
inimigos. Um homem, mesmo calado, fala. Mesmo amordaçado, fala. Mesmo morto e enterra-<br />
do, fala” 158 .<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, nos últimos instantes de sua vida, sentiu a proximidade do fim e queria ser<br />
salvo. Tinha trinta e seis anos, vividos de esperança, como brasileiro que era - como no título<br />
do seu show. E foi com a esperança que lutou. Uma esperança racional, lógica, uma arquitetura<br />
de idéias que projetava um destino justo para um país como o nosso. Por isso lutou. E lutou<br />
contra a morte que sempre o perseguiu de perto. Mas não conseguiu evitar que, mais cedo do<br />
que esperava, as mãos do abismo envolvessem a sua existência num aperto fraterno.<br />
156 Carta sem assinatura, lida nos teatros do Rio. Jornal do Brasil, 29 de dezembro de 1976.<br />
157 CASTRO, Tarso de. “Algumas coisas de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>”. Folha de São <strong>Paulo</strong>, 28 de dezembro de 1976.<br />
158 PACHECO, Tânia. “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Gota D'água”. O Globo. Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1976.