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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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pouco de pessedismo não faz mal a ninguém”, onde ele analisa a posição do teatro brasileiro<br />

naquele momento, a postura dos dois “setores” - como ele bem frisa: o “engajado” e o “desen-<br />

gajado”, ou simplesmente “esteticista”, que é o teatro que vê com ceticismo a participação con-<br />

creta na vida social e política do país: “Os desacertos e a descontinuidade estéticos - diz Viani-<br />

nha - parecem-lhe produto de uma posição a priori, de uma parcialidade, de uma posição dou-<br />

trinária, estranha à arte. Prefere pesquisar e trabalhar no sentido de cada vez mais dominar os<br />

segredos da fluidez estética, sem se preocupar com o mundo significativo que elaboram” 56 .<br />

Vianinha, como todo o teatro engajado, estava profundamente preocupado em elaborar<br />

uma linguagem que falasse com clareza ao público.<br />

Anatol Rosenfeld, analisando a posição <strong>das</strong> vanguar<strong>das</strong> naquele momento, publicou um<br />

artigo intitulado “Teatro Agressivo”, em que, procurando entender os motivos estéticos da a-<br />

gressividade, disse: “Quando a tensão entre as metas e a realidade, entre a verdade e a retórica,<br />

entre a necessidade de transformação e a manutenção do status quo, entre a urgência de ação e o<br />

conformismo geral torna-se demasiado dolorosa, é inevitável a “ira recalcada” e a violência <strong>das</strong><br />

manifestações artísticas” 57 .<br />

Comentando o artigo de Vianinha, Fernando Peixoto disse que aquele foi “um instante<br />

marcado por certa radicalização do pensamento e projeto e/ou por um anárquico e desenfreado<br />

espírito de negação, de auto-destruição”. E completou: “Parte do teatro acompanha a radicaliza-<br />

ção do único público que lhe permanecia razoavelmente fiel: estudantes secundários e princi-<br />

palmente universitários. As manifestações e lutas de protesto estão nas ruas, a violência da re-<br />

pressão faz vítimas. Alguns encenadores não aceitam a aparente passividade do espetáculo en-<br />

quanto ato de contemplação: a impaciência e o impulso de revolta atingem a própria linguagem<br />

cênica” 58 .<br />

Nesse debate, entra <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, naturalmente que ao lado da corrente “engajada”, para<br />

fazer a defesa da palavra, da racionalidade contra o desespero, enfim, a defesa do bom-senso<br />

como arma de luta contra uma situação agravantemente opressiva.<br />

56 VIANNA FILHO, Oduvaldo. “Um pouco de pessedismo não faz mal a ninguém”. In Vianinha. S. <strong>Paulo</strong>, Brasiliense,<br />

1983, p. 120.<br />

57 ROSENFELD, Anatol. “Teatro Agressivo”. In revista Teatro Paulista. S. <strong>Paulo</strong>, 1967, sem editora, sem página.<br />

58 PEIXOTO, Fernando. “Nota XIV”. In Vianinha, op. cit. p. 128.

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