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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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tanto fazia falar à classe média quanto ao operariado, uma vez que o regime ditatorial fazia-os<br />

todos, sem exceção, seus inimigos políticos.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, em entrevista à Associação Pró-Teatro Tijuca, falou desse período: "Era<br />

necessário abrir-se uma frente ampla contra a onda de autoritarismo que existia". E mais adian-<br />

te, na mesma entrevista: "O Opinião precisava encontrar uma brecha de atuação. E descobriu.<br />

Achou, à medida que viu e formulou uma política, onde entendia que a marginalização do pro-<br />

cesso político tinha-se estendido a quase todos os setores da sociedade brasileira. E ao mesmo<br />

tempo teve muita habilidade para procurar seus próprios aliados na sociedade brasileira e na<br />

categoria teatral, sem sectarizar ninguém" 36 .<br />

Mas não mudou só a clientela do teatro. Mudou também a sua estética. Agora, não se<br />

tratava de fazer proselitismo político. Mas uma outra preocupação se apresentava, a de que o<br />

teatro deveria ter um certo acabamento estético, algo que o aproximasse mais de uma lingua-<br />

gem artística e lhe desse a feição de uma obra de arte, diferentemente do que se fazia antes,<br />

onde teatro mais parecia tribuna de denúncia ou cartilha de consciência política. Vianinha, em<br />

um dos seus muitos momentos de reflexão, disse numa entrevista em 1967: "Não é fácil passar<br />

de panfletário a artista. Desde 1960 venho escrevendo, são 7 anos de tentativa. Dentro disso<br />

tem cinco anos de sectarismo irascível dentro do CPC e da UNE" 37 .<br />

João Das Neves, falando sobre as principais idéias desenvolvi<strong>das</strong> pelo Opinião, disse:<br />

"Houve uma maior preocupação, em primeiro lugar, por um entendimento mais aprofundado da<br />

cultura popular espontânea. Absorver, entendendo suas formas não apenas estratificadoras, mas<br />

também o que há de revolucionário nessa forma de cultura. Portanto, uma valorização a nível<br />

de cultura. Em segundo lugar, uma preocupação muito maior com o acabamento artístico do<br />

espetáculo. Quer dizer, o espetáculo já não seria mais pretexto para veicular idéias políticas, ao<br />

contrário, seria um fundamento em si. E as idéias políticas seriam tanto mais eficazmente veicu-<br />

la<strong>das</strong> quanto mais artisticamente se realizasse o espetáculo. Em relação ao documento do CPC,<br />

representa um giro de 180 graus. E o caminho do Opinião é pautado por essas diretrizes" 38 .<br />

36 In <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> - a arte da resistência. Op. cit. p. 39.<br />

37 Apud Carmelinda Guimarães. Um Ato de Resistência. S. <strong>Paulo</strong>: MGM Ed. Associados, 1984, p. 62.<br />

38 In "Grupo Opinião: A Trajetória de uma Rebeldia". Entrevista a Sérgio Kraselis. Revista Problemas nº 9. S. <strong>Paulo</strong>,<br />

Ed. Novos Rumos, p. 56.

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