Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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320 - Olha, menino, não fale assim de mim. Não lhe dei essa liberdade de falar assim de mim.<br />
Estou fazendo uma visita. Faça o favor de respeitar as visitas. Teu pai não te ensinou isso, não?<br />
GAROTO - Ensinou.<br />
320 - Então?<br />
GAROTO - Estou com medo de você...<br />
320 - Medo de mim? Você tem medo de mim? Eu vim te fazer uma visita... Eu sou amigo...<br />
Sou bom, sabe? Lá no meu emprego, tudo que mandavam fazer eu fazia... A Sandra caçoava de<br />
mim... Eu não ligava...”<br />
Ou então este outro:<br />
“320 - Está com medo de mim?<br />
GAROTO - Estou...<br />
320 - Toma... Toma teu automóvel...<br />
GAROTO - Minha avó vai trazer gente pra te pegar...<br />
320 - Eu sou teu amigo... Você me deu água... Eu sou teu amigo... Porque é que você tem medo<br />
de mim?... Eu sou teu amigo... Te protejo... É só pedir minha ajuda. (TIRA DO BOLSO UM<br />
BONECO DE FANTOCHE. PÕE AS MÃOS DENTRO. FAZ O BONECO SE MEXER) Olha<br />
aí... Esse boneco é pra você (FAZ A VOZ DO BONECO) Rubinho, por que você tem medo<br />
dele? Ele é amigo... Ele é amigo de todo mundo... Pode caçoar dele... Todo mundo caçoa de-<br />
le...”<br />
320 é um louco manso. Mas é um louco que tem profunda consciência de sua diferença.<br />
Não gosta que caçoem dele. Estabelece de fato uma simpatia com Rubinho, e abre a exceção<br />
para que o menino ria dele, com o objetivo de afugentar o seu medo, de afastar a distância entre<br />
eles.<br />
É quando entra a empregada, babá do garoto. Ele tenta correr para ela. 320 o segura. Em<br />
alguns momentos a sensação é de que alguma coisa grave vai acontecer. Nada acontece. O lou-<br />
co é verdadeiramente manso. A babá sabe lidar com ele e ganha a sua confiança. 320 percebe<br />
que a multidão l embaixo era sinal de sua captura próxima. A babá lhe diz que não; a multidão<br />
procura-a, porque ela teria roubado remédio na farmácia. A polícia invade o apartamento.