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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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Analisando esse problema, Anatol Rosenfeld reconheceu que a agressividade precisava<br />

de uma tradução estética adequada para cumprir o seu fim, caso contrário, seria inócua: “A vio-<br />

lência pode certamente funcionar - e tem funcionado - no caso de peças e encenações excelen-<br />

tes ou ao menos interessantes /.../ Mas fazer da violência o princípio supremo, afigura-se con-<br />

traditório e irracional. Contraditório porque uma violência que se esgota na “porrada” simbólica<br />

e que /.../ tendo de limitar-se ao lançamento de palavrões e gestos explosivos, é em si mesma,<br />

como princípio abstrato, perfeitamente inócua. Contraditório ainda porque a violência em si,<br />

transformada em princípio básico, acaba sendo mais um clichê confortável que cria hábitos e<br />

cuja força agressiva esgota-se rapidamente” 59 .<br />

O Brasil - como de resto, o mundo - vivia momentos de extremada violência. Os estu-<br />

dantes, a sociedade civil, enfrentavam com pedras e slogans a força dos urutus. A revolta pro-<br />

vocada por uma ditadura que sufocava os anseios e as reivindicações populares, acrescentava a<br />

agressividade no espírito de um tempo já perturbado por tantas radicalizações repentinas e es-<br />

pontâneas. A força da ditadura é capaz de provocar o medo, o sentimento de impotência, mas,<br />

ao mesmo tempo, não é capaz de destruir certo sentimento utópico de liberdade e, juntamente<br />

com esse sentimento, a reação contra as forças que o oprimem. O ser humano precisa ter a ilu-<br />

são da liberdade. A ditadura destrói esta ilusão. Então, só resta lutar contra a ditadura.<br />

<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> era daqueles que pensava que essa luta necessitava de clareza. Daí por que<br />

fazia a defesa da palavra. É preciso entender que ele nunca fora contra a forma <strong>das</strong> vanguar<strong>das</strong><br />

que, até mesmo por tradição, subverte a linguagem já assimilada por outra a ser (ou não) assi-<br />

milável. Algumas vezes ele próprio se considerava vanguarda.<br />

A luta contra o chamado “teatro agressivo”, em nome da “defesa da palavra”, muitas<br />

vezes se confundiu como se fora contra as vanguar<strong>das</strong>, mesmo porque o “teatro agressivo” pro-<br />

clamava-se de vanguarda, assim como o “engajado” também se proclamasse. Esse foi um perí-<br />

odo em que a palavra “vanguarda” esteve em moda. E essa vanguarda tanto podia ser “estética”<br />

(como se dizia <strong>das</strong> “vanguar<strong>das</strong>”), como ser “política” (como se dizia da turma da “palavra”).<br />

Tudo era uma questão de interpretação.<br />

João <strong>das</strong> Neves, num artigo relembrando <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, marcou datas precisas em que<br />

ocorreram a luta “contra” versus “pela palavra”: “Quando a cultura brasileira nada pode dizer,<br />

59 ROSENFELD, Anatol. Op. cit.

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