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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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seu caráter.<br />

O Delegado tem, portanto, medo. O Justiceiro, ao contrário de Nelsinho, se impõe pelo<br />

Mas os autores conduzem a narrativa para outro ponto, em um corte rápido: a mulher de<br />

preto, ninando o garoto, seu filho, conta-lhe uma história pouco infantil, uma verdadeira histó-<br />

ria de horror, que é o ponto central do texto, o núcleo da narrativa que coloca to<strong>das</strong> as outras<br />

personagens sob suspeição, sobretudo quando se sabe que, dentre eles, alguém matou o seu<br />

marido. Esta é justamente a história que a mulher conta ao filho, enquanto o garoto adormece:<br />

“MULHER DE PRETO - Aí São Pedro perguntou: “O senhor aí, morreu de quê?” Teu pai res-<br />

pondeu: “Onde eu estava, São Pedro, o ar era pouco, comida ruim, frio de manhã à noite numa<br />

cela pequena, me deu uma pneumonia, eu morri”... Que lugar era esse? A cadeia. São Pedro:<br />

“Por que o senhor foi pra cadeia?” Aí, teu pai respondeu: “Não sei, São Pedro, pode mandar<br />

seus anjos investigar. Eu tinha minha mulher, minha terra, só vivia pro meu trabalho. De re-<br />

pente, eu estava num tribunal e cinco desconhecidos juraram pela Bíblia que eu tinha matado<br />

um homem”. Aí, São Pedro falou pra teu pai: “Acredito na sua história. Você vai ficar aqui no<br />

céu e o teu filho lá na terra vai ficar contente de saber que você está aqui no céu...”<br />

Nervoso é a personagem que, junto com a mulher, dá o toque de comicidade em v rios<br />

cortes da narrativa. Nervoso quer, embora ainda não tenha coragem de cometer o gesto suicida,<br />

desafiar o Justiceiro, tirar a limpo a diferença, já que ele considera que é a si que o Justiceiro<br />

espera. O Coronel e o Banqueiro querem expulsar o Justiceiro do lugar, temendo que fosse a<br />

algum deles que o assassino espera. Num outro corte o Coronel e o Banqueiro se acusam mutu-<br />

amente de corrupção. Até que o jovem Doutor apresenta-se diante do Justiceiro, acompanhado<br />

de sua namorada, para pedir-lhe que deixe a cidade. Ao mesmo tempo o Coronel, o Banqueiro e<br />

um número de capangas apresentam-se diante do Justiceiro. Ele concorda em deixar a cidade,<br />

mas antes, quer conversar com a namorada do Doutor. A sós, bate na moça, rasga-lhe o vestido<br />

e foge. Corte.<br />

Enfim, Estrela, o Justiceiro, dirige-se com a Mulher de Preto para a casa do Juiz. Era es-<br />

te o culpado e que não tinha aparecido ainda na história, mas, por sua vez, já esperava o Justi-<br />

ceiro em casa. O Justiceiro provoca o juiz, mostrando-lhe pedaços de roupa de sua filha, a na-<br />

morada do Doutor. O Juiz, que sabia que ia morrer, esperava ao menos que o crime fosse inicia-<br />

tiva do Justiceiro, para que ele pudesse ser preso. Diante da provocação do Justiceiro, perde a<br />

calma, tenta matá-lo com a sua espingarda. O Justiceiro atira primeiro, só que para o alto. O<br />

velho Juiz morre do coração. O Justiceiro cumpriu sua função.

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