Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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se cruzam. A partir desse momento, ela é, por excelência, o conflito: da amante abandonada, da<br />
trabalhadora explorada. E a sua forma de reação aos dois conflitos somados em si, é violenta, é<br />
de afrontamento, para o que der e vier. Eis o momento em que ela, para Jasão, apresenta a con-<br />
fluência da segunda ação:<br />
“JOANA - Otário,/ Creonte é ladrão...<br />
JASÃO - Ele é proprietário.../<br />
JOANA - É proprietário seu...<br />
JASÃO - Está co'a lei.../<br />
JOANA - Vou sair e perder o que paguei?/<br />
JASÃO - Você á atrasada...<br />
JOANA - Eu sei, Jasão/ Estou e nunca mais pago um tostão/ O preço que constava na escritura/<br />
eu já paguei” (p. 121).<br />
Na mesma cena, Jasão explica a Joana o motivo de sua separação. Joana, em resposta,<br />
soma o seu abandono ao dos outros, mostrando-se, mais uma vez, um ponto de intercessão en-<br />
tre as ações. O resultado disso ela transfere para Jasão, como uma maldição, uma premonição<br />
do que acontecer com o samba dele, resultado de dupla traição: com ela e com o povo:<br />
“JOANA - Só que essa ansiedade que você diz/ não é coisa minha, não, é do infeliz/ do teu po-<br />
vo, ele sim, que vive aos trancos,/ pendurado nas quinas dos barrancos/ Seu povo é que é ur-<br />
gente, força cega,/ coração aos pulos, ele carrega/ um vulcão amarrado pelo umbigo/ Ele então<br />
não tem tempo, nem amigo,/ nem futuro /.../ tem u'a coisa que você vai perder,/ é a ligação que<br />
você tem com sua/ gente, o cheiro dela, o cheiro da rua,/ você pode dar banquetes, Jasão,/ mas<br />
samba é que você não faz mais não,/ não faz e aí é que você se atocha/ porque vai tentar e sai<br />
samba brocha,/ samba escroto, essa é a minha maldição/ “Gota D'água”, nunca mais, seu Jasão”<br />
(p. 126 e ss).<br />
O) Quando as ações já correm uni<strong>das</strong>, a trama da peça caminha para a sua resolução.<br />
Nesse momento Egeu consegue juntar os moradores da Vila em torno dos objetivos que ele se<br />
propõe: ajudar Joana e ao mesmo tempo unir o povo contra o déspota:<br />
“EGEU - /.../ A fúria e a indignação/ pertencem a Joana. Sua mazela/ é sua. A dor é dela. O<br />
homem dela,/ seu destino, seu futuro, seu chão,/ seu lar e os filhos dela. Acabou. Chora/ em