Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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comunicação da maior importância. Ser bem sucedido como apresentador de um programa de<br />
televisão, sabe-o muito bem o Dr. Fausto da Silva, significa dinheiro, significa poder: e sua<br />
ambição última não é outra.<br />
No livro que trata do tema fáustico, Haroldo de Campos afirma que a perspectiva da<br />
humanidade, para o Fausto de Goethe, coincide com o da burguesia capitalista 125 .<br />
Se na época de Goethe o pensamento burguês se estruturava, e se o seu Fausto espelha-<br />
va toda a contradição refletida na modernidade burguesa, na época de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, e num país<br />
vilipendiado pela corrupção, o seu Dr. Fausto da Silva refletia um velho lema que é apanágio<br />
de todos os corruptos: levar vantagem em tudo. E para isso, ele não mede esforços: se para re-<br />
conquistar os índices de audiência perdidos fosse necessário apresentar a sua própria mãe mor-<br />
rendo, ele não hesitaria em levá-la à frente <strong>das</strong> câmeras e apresentá-la moribunda.<br />
A imagem do Dr. Fausto da Silva é degradante na mesma proporção (embora inversos<br />
de natureza) que é grandiosa a imagem do velho Fausto. Se Fausto é um filósofo hedonista, o<br />
Dr. Fausto da Silva é um canalha fundamental.<br />
A canastrice da personagem Dr. Fausto da Silva é o básico da peça. A sua luta para con-<br />
seguir maior índice de audiência é o problema proposto pelo texto, que se desenvolve em três<br />
distintos movimentos sinestésicos:<br />
4.1.1 - Primeiro movimento<br />
Flash-back em que Thiago, produtor de televisão, na abertura da peça, numa espécie de<br />
conferência para um público imaginário, relembra a humanidade variada que habita as salas e<br />
os corredores de uma emissora de televisão. Antes de contar a história do Dr. Fausto da Silva,<br />
Thiago resolve contar alguns acontecimentos engraçados e comuns dentro de uma emissora.<br />
Aqui a conferência em que Thiago se apresenta ao público resvala para uma sequência de sket-<br />
ches humorísticos, cantados, no mesmo estilo de Paraí-bê-a-bá: as situações curtas resultando<br />
em uma piada. Ao final desta sequência entra o flash-back propriamente dito:<br />
125 CAMPOS, Haroldo de. Deus e o Diabo no Fausto de Goethe. São <strong>Paulo</strong>: Perspectiva, 1981, p. 120.