Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> não concordava com um espetáculo cujo resultado fosse um mergulho no<br />
imaginário, nas neuroses ou fantasias do artista. O seu objetivo, como se fora um pedagogo, era<br />
instruir; o seu resultado, como se fora cientista, era esclarecer; o seu meio, para isso, era falar<br />
sobre as coisas sabi<strong>das</strong> pelo público, e transformá-las em espetáculo.<br />
Um dia ele disse que é preciso ver a história como continuidade. E porque ele tinha en-<br />
tendimento da história como resultante dos conflitos sociais, entendeu que o melhor espetáculo,<br />
é o espetáculo; que o melhor teatro é o que atrai público; que o melhor público é o que está no<br />
teatro. Política e estética misturavam-se em seu pensamento: com uma, ele apoiava o seu racio-<br />
nalismo; com outra, pensava o teatro pelo gosto do público. As coisas sabi<strong>das</strong>, mas retrabalha-<br />
<strong>das</strong> de modo que o saldo fosse positivo, para o teatro e para o público.<br />
Somar, era esse o seu desejo; nunca perder a perspectiva, era essa a sua visão. E nos<br />
momentos que o artista de teatro cedeu ao desespero e, impotente contra o regime instituciona-<br />
lizado, passou a agredir ao público - embalado por uma vaga idéia de vanguarda - foi a sua voz,<br />
entre outras, que se fez ouvir: teatro não pode prescindir de público. Apontou caminhos e cum-<br />
priu os caminhos que apontou.<br />
Falar de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> é uma maneira de falar de uma geração e de seu modo peculiar de<br />
pensar o teatro brasileiro; é falar de um tempo ainda tão próximo, mas que parece tão distante; é<br />
fazer um esforço para, como sempre lutou <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, não se perder a perspectiva da história.<br />
O desenvolvimento deste trabalho parte de dois planos fundamentais: o primeiro, a biografia de<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>; o segundo, a história como pano de fundo, delineando um cenário onde a pessoa<br />
de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> se postar em destaque. No cruzamento da biografia com a história, encontra-<br />
remos a obra de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, e aí nos deteremos, objetivando extrair dela to<strong>das</strong> as informações<br />
que digam respeito a ele e a seu pensamento sobre a história, a estética e o momento político<br />
em que o país vivia, revelando assim, a unidade de sua obra, como também somando num<br />
mesmo universo de significações, estética e ideologia, como resultante da história.<br />
Dois Pontos a ressaltar: nos prefácios que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> escrevia apresentando a base te-<br />
órica de cada obra, está contido o seu pensamento. Todos os prefácios acompanham o estudo<br />
que fizemos dos seus textos para teatro. São partes importantes para a compreensão da obra e<br />
do problema geral em que cada uma está situada.<br />
Segundo: uma parte dos textos que apresentaremos não está editada ou é de difícil aces-<br />
so. Por isso, para que se possa usufruir melhor a obra de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, resolvemos transcrever<br />
cada texto citado, inclusive para pôr ao critério do leitor textos que nunca foram reunidos em<br />
estudo.