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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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dade com a oprimida Joana-Medeia, contra a opressão de Creonte, símbolo do poder, e do fraco<br />

Jasão, que o serve. A introdução do mecanismo social numa trama que, sem descurar o ímpeto<br />

de sentimento desencadeado, não se esgota nele. O achado poético de tantos versos e tantos<br />

diálogos. Essas virtudes sobrepujam os defeitos e levam o público a explodir, no final, numa<br />

<strong>das</strong> mais calorosas ovações já registra<strong>das</strong> nos palcos brasileiros” 144 .<br />

Sobre o grande comparecimento do público e a recepção à peça, Chico Buarque comen-<br />

tou: “As pessoas vinham porque viam que era uma peça que dizia respeito à sua realidade. Já<br />

era sensível que elas começavam a se desiludir com o “milagre” brasileiro. Talvez dois anos<br />

antes a problemática da peça fosse considerada absurda, porque se vivia a era do pleno “mila-<br />

gre”. Mas em 75, por exemplo, estourou o problema da casa própria. Aliás, a peça trata um<br />

pouco disso e não de maneira aleatória, pois procuramos informar-nos junto a advogados e a<br />

organização de mutuários. Quisemos falar de pessoas dos extratos mais baixos da sociedade<br />

que embarcaram no “milagre” e confiaram, por exemplo, no sonho da casa própria” 145 .<br />

Macksen Luiz soma em seu depoimento as idéias conti<strong>das</strong> no de Sábato e Chico ao<br />

mesmo tempo: “Em forma de versos, integrando as melodias uma verdadeira procura da lin-<br />

guagem musical. Gota D'água alcança uma comunicação popular insuspeitada. As personagens<br />

falam poeticamente, muitas vezes, mas nunca se tornam eruditas ou falsamente imposta<strong>das</strong>. São<br />

reais, e respondem como seres humanos brasileiros identificados com o seu meio. O texto seria<br />

populista? Certamente que não, já que procura ampliar a análise do meramente impressionista<br />

para levá-la a um plano quase sociológico. Gota D'água não é apenas mais uma peça sobre esta<br />

classe, mas um mergulho até as raízes profun<strong>das</strong> de suas contradições, angústias e aspira-<br />

ções” 146 .<br />

Em outro texto, Sábato Magaldi voltou a falar sobre a peça: “Atualiza<strong>das</strong> as linhas ge-<br />

rais da tragédia grega pelas regras da verossimilhança moderna, com um sentido de crítica à<br />

realidade brasileira, Gota D'água impõe-se principalmente pela beleza da linguagem teatral.<br />

Desse ponto de vista, a peça inova o estilo de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e anuncia uma dramaturgia mais<br />

exigente” 147 .<br />

144 MAGALDI, Sábato. Apud Jornal Correio Brasiliense. Brasília, 29 de dezembro de 1976.<br />

145 OLIVEIRA-JOUÉ, Lisa. Op. cit. p. 154.<br />

146 LUIZ, Macksen. “Gota D'água não é só uma música do Chico”. Isto é, 29 de junho de 1977, p. 44.<br />

147 MAGALDI, Sábato. “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>”. Jornal da Tarde. São <strong>Paulo</strong>, 28 de dezembro de 1976.

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