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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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<strong>Paulo</strong> queria, entre outras coisas, dar continuidade ao ciclo de debates que se realizara<br />

no teatro Casa Grande. Desta vez, pelos planos, o novo ciclo se chamaria Projeto Popular de<br />

Cultura e teria como base quatro peças que fariam um aprofundamento epistemológico do Bra-<br />

sil. Das quatro peças, uma se chamaria Luna Bar - que seria escrita pelo próprio <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> -,<br />

pretendendo analisar o comportamento da classe média. A outra seria escrita por Antonio Cal-<br />

lado, dessa vez enfocando o trabalho no campo. Haveria ainda espetáculos sobre o trabalhador<br />

urbano, por Fernando Peixoto e Guarnieri e, finalmente, um trabalho que focasse a marginali-<br />

dade - provavelmente por Chico Buarque. Com Chico Buarque, ainda existia um outro plano:<br />

escrever uma peça que se chamaria O dia em que Frank Sinatra veio ao Brasil.<br />

Mas nada disso foi possível. Não houve tempo suficiente. Fernando Peixoto relata os<br />

instantes finais de sua vida: “Nos últimos dias, sobretudo nas últimas horas, foi a luta de um<br />

cérebro vigoroso contra um corpo já esquelético que se destruía por dentro. <strong>Paulo</strong> falava sem<br />

parar, palavras desencontra<strong>das</strong>, mas evidência de uma dilacerante batalha na ânsia de viver con-<br />

tra uma morte que se aproximava inevitável. Pouco antes de falecer, às 11:50 hs. do dia 27, teve<br />

um dramático instante de lucidez: chamou o médico, disse que ia morrer e queria ser salvo. Mas<br />

já era o fim” 154 .<br />

Era o dia 27 de dezembro de 1976.<br />

Sábato Magaldi relata: “A morte não foi uma surpresa para os amigos mais chegados.<br />

Todos já a esperavam desde os últimos 15 dias, com o agravamento de seu estado de saúde. O<br />

paraibano <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> morreu no Hospital Samaritano, no Rio, onde estava internado desde<br />

setembro. E foi sepultado esta manhã, segundo sua vontade expressa, no Cemitério São Fran-<br />

cisco Xavier (do Caju), ao lado do seu amigo e também teatrólogo Oduvaldo Vianna Filho,<br />

morto há dois anos e também de câncer, como <strong>Pontes</strong>” 155 .<br />

No dia 28 de dezembro, dia do sepultamento de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, foi lido um texto em sua<br />

homenagem, em cena aberta, por todos os espetáculos encenados no Rio: “Nós somos artistas<br />

de teatro, e ao longo do tempo temos nos acostumado a representar diante de quaisquer condi-<br />

ções. Mas hoje é um dia particularmente triste para nós e para todo o teatro brasileiro; porque é<br />

o dia que marca o sepultamento de um dos mais expressivos nomes de nossa arte. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong><br />

/.../ era, além de um dramaturgo talentoso, uma <strong>das</strong> pessoas que melhor pensaram o fenômeno<br />

cultural brasileiro. Sua influência se espalhou por todos nós, já que exercia uma liderança natu-<br />

ral, graças à sua poderosa inteligência e rara lucidez /.../ Paulinho amava o teatro e amava o<br />

154 Idem, ibidem, p. 287.<br />

155 MAGALDI, Sábato. “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>”. Op. cit

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