14.04.2013 Views

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1.10 - Balanço Parcial: Em Favor da Esperança<br />

Apesar do título, Uma Noite de Terror não causa tanto terror quanto A Vida Por Um Fio<br />

ou A Testemunha. As três têm o mesmo núcleo tem tico: uma mulher presa em uma casa, en-<br />

frentando a sanha dos marginais. Pode-se incluir também De Repente, Uma Visita entre este<br />

núcleo temático. Como intenção, Uma Noite de Terror aproxima-se bastante <strong>das</strong> duas primeiras<br />

peças. Como resultante moral, está mais próxima da última, pela conversão do bandido ao final.<br />

Milena, em De Repente, Uma Visita, também se deixa converter pelo marginal inofensivo Rú-<br />

bis.<br />

Essa mudança de comportamento <strong>das</strong> personagens ao final <strong>das</strong> peças, parece mensagem<br />

cifrada dos autores para o momento: é possível haver mudança (no comportamento humano, na<br />

sociedade), apesar de tudo.<br />

Esse salto qualitativo (em sentido positivo) <strong>das</strong> personagens, faz-nos pensar que, por<br />

volta de 1971, quando esses textos foram escritos, o medo e o negror da vida no Brasil sufocado<br />

pela ditadura fosse desesperador. Nos faz pensar que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Vianinha procuravam in-<br />

centivar a esperança de que as coisas podem mudar. O que não devia ser fácil de imaginar-se,<br />

naquele momento, quando a ditadura, em tudo vitoriosa, dava início à campanha do “Brasil:<br />

ame-o ou deixe-o”; em que as oposições estavam totalmente silencia<strong>das</strong>, pela morte, pelo medo,<br />

pelo exílio ou pela censura. E a luta armada agonizava: sem apoio popular, não poderia ir longe.<br />

Era preciso ter esperança em alguma coisa. Pelo menos, quando não resta mais nada, isto ainda<br />

pode servir como capital para manter-se o ânimo. Não foi em vão que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> por essa<br />

época escreveu um show, montado com <strong>Paulo</strong> Gracindo e Clara Nunes cujo título não poderia<br />

ser mais revelador: Brasileiro, Profissão Esperança.<br />

Essa esperança da qual o brasileiro faz profissão de fé, parece-nos que <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e<br />

Vianinha apresentavam-na pela televisão para todo o Brasil, do modo como era possível trans-<br />

miti-la. A mudança de comportamento <strong>das</strong> personagens, do ponto de vista dramatúrgico parece<br />

sem sentido. <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> e Vianinha, muitas vezes, sacrificaram o encadeamento formalmente<br />

lógico, em função de algo que lhes parecia maior, a qual os seus textos, os seus trabalhos, deve-<br />

ria servir. A arte posta a serviço da vida. Ou pelo menos da esperança. Apesar da arte.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!