Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira
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vra é, em si, a expressão mais imediata e primária do espírito em sua esfera consciente. É a pon-<br />
te entre o espiritual e o material, entre o sujeito do conhecimento, "eu", e o mundo que o cir-<br />
cunda. Guiada pela vontade, é o estágio criativo prévio, que leva a força da imaginação para as<br />
formas materiais de expressão". Quem escreveu isto foi Richard Kolb, na Alemanha, no ano de<br />
1931, no artigo intitulado "O desenvolvimento da peça radiofônica artística a partir da essência<br />
do rádio" 13 . E mais: "A palavra - assim como o ruído - só pode evocar a representação da reali-<br />
dade se esta for bem conhecida pelo ouvinte por tê-la visto antes. Por isso, a comicidade causa-<br />
da pela situação exclui-se a si mesma, pois consiste, em geral, numa situação externa surpreen-<br />
dente, isto é, inesperada, que quase sempre vai de encontro ao desenrolar normal da ação" 14 .<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong> conheceu o rádio em seu melhor momento no Brasil, e ouvia com admira-<br />
ção os programas de humor que se fazia. Ouvia e, curioso, tentava apreender o mecanismo des-<br />
sa linguagem. Esse tipo de linguagem, segundo Richard Kolb, é, sobretudo, a palavra que, saída<br />
de uma caixa receptora, adquire um poder de convencimento tamanho, a ponto de, como acon-<br />
teceu em 1938, Orson Welles parar, e mais do que isso, pôr em pânico a cidade de Nova York<br />
com a radiofonização de A Guerra dos Mundos, de H. G. Welles. Palavra e convencimento.<br />
Palavra e realidade. Palavra e comédia. A palavra palavra é um dos fundamentos b sicos do<br />
comportamento artístico de <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, sobretudo nos fins dos anos 60, quando ele, junta-<br />
mente com Vianinha, combatendo a vanguarda de 68 e a sua estética agressiva, faz a defesa da<br />
palavra, a palavra como antídoto contra o desespero pelo fechamento de um regime político já<br />
em si duro.<br />
E não deveria ser difícil para <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, garoto ainda, a julgar-se pelo episódio com o<br />
grupo de Teatro do Estudante, deixar-se encantar pelo rádio e pela possibilidade de, nele, usar a<br />
sua linguagem, a palavra.<br />
Aceitando a versão de seu pai, João <strong>Pontes</strong> 15 , <strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>, em 1959, teria ido morar no<br />
Rio de Janeiro. Em 1962 estava de volta à Paraíba. É outra vez Jório Machado 16 quem diz que<br />
13 Apud George Bernard Sperber. Introdução à peça radiofônica. São <strong>Paulo</strong>: Editora Pedagógica e Universitária,<br />
1980, p. 114.<br />
14 Idem, ibidem, p. 115.<br />
15 PONTES, João. Op. cit. p. 67.<br />
16 MACHADO, Jório. Op. cit.