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Paulo Pontes, A Arte das Coisas Sabidas - Paulo Vieira

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tema da TV é aquele que diz respeito à maioria da população /.../ O autor não pode escolher um<br />

tema que só interessa a uma minoria, como também não pode usar, para a maioria, uma lingua-<br />

gem de minoria. Seria destruir a própria natureza da televisão: democrática, ampla, social, feita<br />

para milhões. Isso não quer dizer que haja qualquer contradição entre qualidade e TV. Existe<br />

contradição entre linguagem aristocrática e TV” 71 .<br />

Mas se o fator positivo da televisão é alargar o domínio da informação e da cultura para<br />

uma ampla camada da população, existe, por outro lado, o fator negativo de, num país como o<br />

nosso, dotado de uma diversidade cultural acentuada, receber a imagem de apenas um lado,<br />

uma região, menos do que isso, duas cidades de um país, conforme já frisamos anteriormente 72 .<br />

A televisão, a princípio, é um veículo democrático de difusão da informação e cultura, mas não<br />

num país como o nosso, cujos canais de televisão são concessões do governo, atendendo a inte-<br />

resses de grandes grupos econômicos que disputam, agressivamente, todo o território nacional.<br />

A televisão brasileira não expressa a imagem do Brasil, mas sim de dois centros produtores, até<br />

mesmo quando põe no ar programas que buscam retratar a vida ou a cultura interiorana, por<br />

exemplo, ou de outras regiões do país. Frequentemente, o interior é apenas cenário, e a fala do<br />

apresentador (ou dos atores), macaqueamento da fala regional, transformando em ridículo o que<br />

é específico de uma cultura, ou de uma região.<br />

Nesse sentido, tem razão Fernando Peixoto quando afirma: “A televisão produzida no<br />

sul, invade o norte, levando imagens que, pouco a pouco, passam a determinar o comportamen-<br />

to e os valores sociais e éticos de populações desprotegi<strong>das</strong>. O vídeo mata os valores regionais e<br />

a cultura popular, ao mesmo tempo em que entrega a esta população, um mundo de sonho e<br />

fantasia, mentira e ilusão. As perspectivas da vida em pequenas cidades e vilas do interior de<br />

Pernambuco ou da Paraíba não são radicalmente altera<strong>das</strong>. Padrões morais e condicionamentos<br />

coletivos são fundamentalmente modificados. Em certo nível existe uma modernização dos<br />

costumes que pode ter uma dose de elementos positivos. Mas o preço pago é bastante alto. Atu-<br />

almente, folhetos de cordel analisam fatos mostrados pela televisão. E muitos heróis populares<br />

71 Apud Alex Santos, “<strong>Paulo</strong> <strong>Pontes</strong>: viver da máquina de escrever eu sempre vivi”. In jornal O Norte. João Pessoa,<br />

25 de janeiro de 1977.<br />

72 Ver tópico Rodízio.

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