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LUIZ GONZAGA DE ALVARENGA - Webnode

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A música, como arte, baseia-se em sólidos princípios científicos, como se viu nos<br />

primeiros três capítulos desta obra. A teoria musical que se desenvolveu<br />

principalmente a partir do século XVII (sistema tonal; modos maior e menor; teoria<br />

dos acordes; etc.), bem ou mal, serviu como um sistema teórico capaz de fundamentar<br />

a produção de uma grande quantidade de peças musicais que ainda são extensamente<br />

executadas em todos os palcos musicais do mundo. A crítica de Moles é cientificista, e<br />

quer exigir algo que talvez seja impossível de se fazer, que é tornar científica, uma<br />

categoria de produção humana que talvez não se enquadre desta maneira. Assim como<br />

a intuição serve ao cientista, ao artista serve a inspiração, e ambas as produções devem<br />

reger-se pelos seus próprios métodos. Método científico, no primeiro caso; método<br />

artístico, no segundo. A música, como arte, exige três instâncias: a composição (o<br />

compositor e a sua inspiração); a reprodução (o intérprete e a sua técnica ou<br />

virtuosismo); a audição (o ouvinte e o seu senso artístico). O método artístico interfere<br />

unicamente nas duas primeiras (por exemplo, se ao compositor cabe anotar a sua<br />

música, cabe ao intérprete saber lê-la e executá-la com maior ou menor perfeição). 276<br />

Entretanto, as variações de interpretação dificilmente serão percebidas pelo ouvinte<br />

médio (que constitui a grande maioria da audiência).<br />

Em função da ambigüidade da mensagem musical, bem como do repertório do<br />

indivíduo receptor, o qual é função principalmente de sua educação formal e cultura<br />

musical, o conjunto desta mensagem apresenta-se como uma sucessão variável de<br />

feixes ou blocos cuja originalidade é função do número de repetições e da<br />

complexidade dos elementos musicais. A atenção do ouvinte varia principalmente na<br />

razão da maior ou menor originalidade da mensagem, a qual, se muito alta, pode levar<br />

o ouvinte a rejeitá-la, por chocar-se com os seus esquemas culturais já consolidados,<br />

não encontrando ressonância neles. Este é o motivo porque muitas obras musicais<br />

somente são aceitas pelo público muitos anos depois de sua primeira apresentação,<br />

quando então já se tornaram banais, pela contínua reapresentação (ou pela assimilação,<br />

pelo público, das novas estruturas de informação). É o caso, p. ex., de Stravinsky, com<br />

a sua obra Sagração da Primavera, que escandalizou a platéia em sua primeira<br />

apresentação. Também a excessiva redundância pode provocar a diminuição do<br />

interesse do ouvinte, bem como a banalidade (pouca originalidade).<br />

Moles afirma que a obra musical, sob a forma de mensagem, pode ser traduzida<br />

sob o aspecto semântico (simbolismo lógico) ou sob o aspecto estético (estado<br />

subjetivo), esta última sendo bem mais rica em elementos, de onde se infere que<br />

comporta uma maior quantidade de informações (inclusive com um nível elevado de<br />

redundância).<br />

A estrutura de uma mensagem qualquer é determinada pelas suas regras internas<br />

que a organizam e ao seu repertório de símbolos; as notações operatórias presentes na<br />

partitura formam o campo de possibilidades para a estruturação de um esquema de<br />

música, onde a parte semântica assume valor preponderante. Por exemplo, ao<br />

executante interessa muito mais o esquema operatório (leitura e interpretação da<br />

partitura) do que o aspecto estético de fruição da música que executa (exceto, é claro,<br />

nos improvisos, quando o executante deixa-se levar por esta fruição).<br />

276 Veja-se, como complemento a este tema, o artigo As Metáforas na Música, de Frederico Richter, na<br />

Revista Brasiliana Número 4 - Janeiro de 2000 (da Academia Brasileira de Música, cujo site encontra-se<br />

em http://www.abmusica.org.br/).<br />

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