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LUIZ GONZAGA DE ALVARENGA - Webnode

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fenômenos sonoros foram concebidos como realidades concretas. Entre 1952 e 1953, o<br />

chamado grupo de musique concrete fez uma extensa e variada análise em laboratório<br />

dos diversos sons lingüísticos e ruídos variados, submetidos a aparelhos de medida<br />

para determinação das suas propriedades, tanto sob o prisma da fonética quanto da<br />

acústica.<br />

Para uma apreciação formal da estética da música concreta, são transcritos a seguir<br />

vinte e cinco verbetes apresentados originalmente pelo musicólogo Luís Cosme. 374<br />

1. Antecipação (Prélèvement). – Todo o movimento que produz um som cujo efeito é<br />

registrado numa placa de disco ou sobre uma fita magnetofone 375 constitui uma antecipação.<br />

As antecipações podem, pois, ser registros de som ‘direto’ ou registros de sons obtidos com o<br />

auxílio de registros prévios.<br />

2. Classificação material dos objetos sonoros. – É preciso definir uma classificação<br />

material dos objetos obtidos por antecipação, antes mesmo de submetê-los a uma análise<br />

técnica ou estética. Essa classificação é fundamentada no comprimento temporal do objeto no<br />

seu meio de rendimento e distingue: o modelo, o fragmento e o elemento.<br />

3. Modelo. (Êchantillon). – Uma antecipação de qualquer comprimento (da ordem de<br />

alguns segundos a um minuto, por exemplo), que não é escolhida por nenhum meio de<br />

rendimento bem definido, tem o nome de modelo.<br />

4. Fragmento. – Um objeto sonoro da ordem de alguns segundos no qual se distingue um<br />

‘meio de rendimento’ chama-se fragmento, com a condição de não apresentar desenvolvimento<br />

nem repetição.<br />

5. Elementos. – Se a análise for levada ainda mais longe, até isolar um dos componentes do<br />

objeto sonoro (componente que, aliás, isolado, o ouvido mal poderia escutar, e cujo som direto,<br />

em todo o caso, não permite análise), diz-se que o fragmento foi decomposto em ‘elementos’.<br />

Exemplos de elementos: um ataque, um final, uma parte da matéria de uma nota complexa.<br />

6. Classificação musical dos objetos sonoros. – Uma vez definido o ‘meio de rendimento’<br />

que constitui o objeto sonoro, por uma pura limitação de sua duração, é necessário fazer um<br />

julgamento de valor sobre o seu conteúdo, quando aparece mais simples ou mais complexo.<br />

Assim devem ser definidas: a monofonia, o grupo, a célula e a nota complexa.<br />

7. Monofonia. – O corte no tempo não permite dissociar sons concomitantes. Somente o<br />

ouvido tem a possibilidade de dissociar, de abstrair esses sons concomitantes em elementos<br />

monofônicos, que serão em seguida estudados por si mesmos, por escuta seletiva. A<br />

monofonia, uma superposição de sons, é, pois, o equivalente de uma melodia distinguida pelo<br />

ouvido num conjunto polifônico.<br />

8. Grupo. Uma monofonia (da ordem de alguns segundos) estudada por suas repetições ou<br />

sua evolução, recebe o nome de grupo.<br />

9. Célula. – Um grupo é formado por definições sejam de células, sejam de notas<br />

complexas. Uma célula é um conjunto sem repetição nem desenvolvimento, que não apresenta<br />

os caracteres definidos da nota complexa. Trata-se, em geral, de complexos do mesmo tempo,<br />

densos e de evolução rápida (em ritmo, timbre ou tessitura), onde as notas, mesmo complexas,<br />

mal seriam discerníveis.<br />

10. Nota complexa. – Todo elemento de uma monofonia que apresente claramente um<br />

início, a matéria e um fim, recebe, por analogia com uma nota de música (a qual tem sempre<br />

estas características simples), o nome de nota complexa.<br />

11. Grosse note. – Uma nota complexa pode ser ou muito breve ou muito longa. Chama-se<br />

‘grosse note’ uma nota complexa cujo ataque, matéria ou fim sejam superficialmente<br />

desenvolvidas. Se esse desenvolvimento ultrapassa certos limites, tem-se, antes, um grupo no<br />

qual a evolução poderá ser analisada em ritmo, timbre e tessitura.<br />

374 A transcrição destes verbetes visa perpetuar um texto ainda atual, e que de outra maneira estaria<br />

perdido para os pesquisadores, por se encontrar como parte de uma obra literária rara, esgotada e difícil<br />

de ser encontrada.<br />

375 Evidentemente, a tecnologia mudou, mas as idéias básicas permanecem.<br />

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