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egio<strong>na</strong>l da década de 1950 causou <strong>na</strong> psique da sociedade rio-grandense. Pesavento,<br />

Freitas e Sodré, apud Schmidt e Herrlein Jr. (2002, p. 267), refer<strong>em</strong> à década de 1950<br />

como a “grande frustração histórica”, o “desfaleci<strong>do</strong> orgulho gaúcho”, e o<br />

“<strong>em</strong>pobrecimento <strong>do</strong> Rio Grande”, respectivamente. To<strong>do</strong>s eles traz<strong>em</strong> como fun<strong>do</strong> de<br />

suas reflexões a posição periférica que o Rio Grande <strong>do</strong> Sul assumiu <strong>em</strong> relação ao<br />

centro <strong>do</strong> país, posição, segun<strong>do</strong> os autores, que abalou os traços sociais, políticos e<br />

morais que a sociedade rio-grandense construiu no decorrer de sua história. No nosso<br />

entendimento, traços da perso<strong>na</strong>lidade rio-grandense construí<strong>do</strong>s e váli<strong>do</strong>s (ou<br />

acio<strong>na</strong><strong>do</strong>s) somente nos perío<strong>do</strong>s de conflitos, principalmente <strong>na</strong>s guerras, ou <strong>em</strong><br />

momentos de exaltação <strong>do</strong>s feitos. Como trata<strong>do</strong> no capítulo anterior, a perso<strong>na</strong>lidade<br />

<strong>do</strong> gaúcho foi forjada, boa parte, <strong>na</strong>s disputas de território ou de interesse econômico ou<br />

político, destacan<strong>do</strong>-se a solidariedade e a coesão da população rio-grandense; mas,<br />

findan<strong>do</strong> os conflitos, a desagregação tomava sua posição <strong>na</strong>s relações sociais. A<br />

solidariedade nos conflitos e a desagregação <strong>em</strong> outros perío<strong>do</strong>s compunham parte da<br />

perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho, a primeira pela necessidade de união <strong>em</strong> momentos de<br />

ameaça e a segunda produzida pelo ambiente social e geográfico que constituía a região<br />

sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (por ex<strong>em</strong>plo, o distanciamento físico produzi<strong>do</strong> pela estrutura fundiária<br />

pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> Campanha e o sentimento de solidão que o pampa enseja no ser<br />

humano). Creditar a um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> perío<strong>do</strong> e a uma porção da sociedade pode ser um<br />

exercício de simplificação da história, outros fatores estavam <strong>em</strong> jogo, mesmo antes das<br />

ações de governo (como no caso <strong>do</strong> Plano de Metas), e boa parte da população riograndense<br />

(as camadas de menor poder econômico e político – subalternos) não tinham<br />

muito a perder (esperança, orgulho ou bens materiais). 206<br />

Continuan<strong>do</strong> a discussão sobre a década de 1950 no Rio Grande <strong>do</strong> Sul,<br />

Pesavento (1994) assi<strong>na</strong>la que os frigoríficos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is estavam restritos ao merca<strong>do</strong><br />

interno, por não atingir o padrão de qualidade exigi<strong>do</strong> pelo merca<strong>do</strong> inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l,<br />

qualidade que era alcançada pelas <strong>em</strong>presas estrangeiras. Os frigoríficos estrangeiros,<br />

pelo eleva<strong>do</strong> volume da produção, mantinham o controle <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> tensões<br />

para rebaixar o preço da carne. 207 Dada a conjuntura, muitos pecuaristas e<br />

charquea<strong>do</strong>res foram à falência, s<strong>em</strong> condições de honrar as dívidas junto às instituições<br />

fi<strong>na</strong>nceiras, repassan<strong>do</strong> as propriedades aos bancos e logo depois arr<strong>em</strong>atadas por outros<br />

grandes fazendeiros, acentuan<strong>do</strong> o processo de concentração da propriedade da terra. Na<br />

lavoura, o trigo começava a despontar, principalmente <strong>na</strong>s regiões serra<strong>na</strong>s, cultiva<strong>do</strong><br />

<strong>na</strong>s peque<strong>na</strong>s e médias propriedades. A ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> arroz, o trigo era largamente<br />

planta<strong>do</strong> <strong>em</strong> áreas arrendadas, elevan<strong>do</strong> o preço da terra e <strong>do</strong>s arrendamentos.<br />

A agricultura colonial continuava no mesmo esta<strong>do</strong> da década anterior,<br />

produtividade limitada pelo padrão tecnológico e pelos preços baixos, 208 <strong>em</strong>purran<strong>do</strong><br />

parte da população para outros esta<strong>do</strong>s. 209 A região de Pelotas vivia <strong>do</strong>is momentos<br />

distintos, o primeiro, salienta<strong>do</strong> há pouco, refere à crise das charqueadas, e o segun<strong>do</strong> à<br />

206 O perío<strong>do</strong> Vargas requalifica positivamente o gaúcho brasileiro. Getúlio Vargas – gaúcho –<br />

representava, de certa forma, o pai da Nação. A perda desse poder pode ser visto como crise. A própria<br />

noção de crise regio<strong>na</strong>l deve ser questio<strong>na</strong>da, pois pode estar referida à representação das lutas de poder<br />

entre as heg<strong>em</strong>onias regio<strong>na</strong>is no plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

207 Com o preço <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> <strong>em</strong> baixa, restava ao pecuarista o aumento da produtividade, essa alcançada pela<br />

introdução de novos méto<strong>do</strong>s como, por ex<strong>em</strong>plo, formação de pastagens artificiais, vaci<strong>na</strong>s, banheiros,<br />

carrapaticidas e melhoramento genético com a introdução de reprodutores importa<strong>do</strong>s.<br />

208 Entende-se que a dinâmica e a lógica da agricultura familiar, de um la<strong>do</strong>, não é capitalista e, de outro<br />

la<strong>do</strong>, estava associada historicamente aos merca<strong>do</strong>s locais e regio<strong>na</strong>is.<br />

209 Na década de 1950, conforme Pesavento (1994), o Rio Grande <strong>do</strong> Sul destacou-se pelo número de<br />

<strong>em</strong>igrantes que forneceu para outros esta<strong>do</strong>s, contribuin<strong>do</strong> para a expansão da fronteira agrícola <strong>em</strong> outras<br />

regiões <strong>do</strong> país.<br />

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