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estrutura fundiária pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> região da Campanha favoreceu o isolamento e<br />

distanciamento das pessoas, reduzin<strong>do</strong> os laços das relações sociais. O que, de certa<br />

forma, proporcionou a religiosidade individual e desestimulou a religiosidade coletiva;<br />

c) as condições econômicas vigentes <strong>na</strong> região da Campanha eram precárias,<br />

inviabilizan<strong>do</strong> a manutenção de religiosos <strong>na</strong> região, segun<strong>do</strong> Freitas (1980, p. 75), “a<br />

capitânia era d<strong>em</strong>asiada pobre para poder atrair o clero”; d) a atividade pastoril não<br />

favorecia o convívio familiar, o peão ficava por longos perío<strong>do</strong>s distante da família<br />

dedican<strong>do</strong>-se ao trabalho com o ga<strong>do</strong>. Reduzia as relações e a participação <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros<br />

da família, a ausência <strong>do</strong> chefe de família, muitas vezes, ocasio<strong>na</strong>va o relaxamento de<br />

certos hábitos familiares, como as reuniões religiosas. Nas famílias de agricultores<br />

(principalmente <strong>na</strong>s de al<strong>em</strong>ães e italianos) isso não acontecia, as lavouras (roças),<br />

localizavam-se próximas às casas, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> a aproximação e coesão <strong>do</strong> grupo<br />

familiar, como, por ex<strong>em</strong>plo, a reunião diária da família durante as principais refeições;<br />

reunião que dedicava algum t<strong>em</strong>po para a cont<strong>em</strong>plação religiosa.<br />

Por um outro prisma, pode-se identificar uma outra religiosidade. A imensidão<br />

<strong>do</strong>s pampas, as fogueiras, o sentar nos calcanhares, o falar com o cavalo, o olhar para o<br />

céu e para as estrelas, etc., que caracterizaria um isolamento específico da sociabilidade<br />

<strong>do</strong> gaúcho, é também um mun<strong>do</strong> de meditação, de si<strong>na</strong>is divinos e de interpretações não<br />

mediadas diretamente pelas instituições religiosas. Talvez esta fosse a religiosidade <strong>do</strong><br />

gaúcho peão. A religiosidade <strong>do</strong> gaúcho estancieiro (aristocrata), no entanto, seria algo<br />

mais controla<strong>do</strong> pelas religiões instituídas por suas relações com segmentos poderosos<br />

da sociedade; viviam <strong>em</strong> família, e, provavelmente, os el<strong>em</strong>entos de cont<strong>em</strong>plação eram<br />

distintos <strong>do</strong> gaúcho peão.<br />

A religião t<strong>em</strong> papel importante <strong>na</strong> questão da sociabilidade, favorece a<br />

aproximação das pessoas e desperta o espírito de coletividade e de cooperação, 132 mas,<br />

<strong>na</strong> opinião de Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 133), ela não foi representativa <strong>na</strong> formação, diga-se,<br />

da perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>s habitantes <strong>do</strong> sul <strong>do</strong> país: “(...) no ponto de vista religioso é<br />

nenhum o espírito de solidariedade das nossas populações <strong>do</strong> sul.”<br />

Como vários autores postulam, a perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho foi formada no campo<br />

de batalha, também foi <strong>na</strong> guerra que os laços de solidariedade foram reforça<strong>do</strong>s. As<br />

guerras, as ameaças, aproximaram as pessoas <strong>em</strong> prol da sobrevivência, uma<br />

solidariedade forçada por interesses individuais – a vida. Vian<strong>na</strong> (1987, p. 142) destaca<br />

que no extr<strong>em</strong>o-sul “(...) a luta era da população inteira contra o estrangeiro. Era a<br />

sociedade, <strong>na</strong> sua totalidade, que se via ameaçada <strong>na</strong> sua tranqüilidade e <strong>na</strong> sua própria<br />

conservação material.” Na comparação com o sertão, o autor destaca uma diferença<br />

marcante entre as sociedades das duas regiões, os conflitos no sertão eram entre famílias<br />

rivais, não tinham a capacidade de mobilizar a sociedade, e, <strong>na</strong> Campanha riograndense,<br />

o <strong>em</strong>bate era contra os espanhóis. As disputas territoriais entre Portugal e<br />

Espanha despertaram no gaúcho a idéia <strong>do</strong> interesse coletivo, <strong>do</strong> b<strong>em</strong> comum <strong>do</strong> grupo,<br />

<strong>do</strong> sentimento de comunidade local. Vian<strong>na</strong> (1987a, p. 152) resume o que leva à coesão<br />

de um grupo: “É o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> inimigo comum, é a ameaça <strong>do</strong> perigo comum, é a<br />

necessidade da defesa comum que dá <strong>na</strong>scimento ao fenômeno da solidariedade e aos<br />

fatos da organização social.” Inimigo, <strong>na</strong> nossa percepção, construí<strong>do</strong> como comum<br />

pelas classes <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes.<br />

Com o desenrolar <strong>do</strong> processo de ocupação e formação <strong>do</strong> território riograndense,<br />

os conflitos foram reduzi<strong>do</strong>s, as fronteiras fixadas, e os campos cerca<strong>do</strong>s.<br />

Inicia-se um novo perío<strong>do</strong>, as ameaças contra a integridade física desaparec<strong>em</strong>, o<br />

sentimento de insegurança que unia a sociedade foi esvain<strong>do</strong> e com ele a coesão social e<br />

132 Estamos atentos à diferença entre religião como instituição e religião como sentimento de união e de<br />

ligação.<br />

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