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estringiam a compra <strong>em</strong> peque<strong>na</strong> quantidade, aumentaram o grau de exigência <strong>na</strong><br />

classificação <strong>do</strong> fruto e diminuiram o valor pago pelo pêssego. Por outro la<strong>do</strong>, as<br />

<strong>em</strong>presas de tabacos oferec<strong>em</strong> garantia de compra, fi<strong>na</strong>nciamento, seguro por perda de<br />

safra e assistência técnica. As possíveis conseqüências da mudança <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a de<br />

produção são conhecidas pelos agricultores, como <strong>na</strong> expla<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> senhor Ivo (52<br />

anos):<br />

Eu enxergo diferente. Vai ter dinheiro no bolso? Vai. Vai melhorar? Vai, mas não<br />

vai ter o que comer. Vai faltar alimentação. O que o pessoal vai fazer? Eu<br />

conheço planta<strong>do</strong>r de fumo, que começou no ano passa<strong>do</strong>, que não t<strong>em</strong> uma<br />

batata-inglesa pra botar <strong>na</strong> panela, eles não têm uma batata-<strong>do</strong>ce, eles não têm um<br />

grão de feijão, eles não têm uma espiga de milho para dar para um porco, pra dar<br />

pra um boi. Por quê? O fumo dá dinheiro e eles têm que se envolver com <strong>aqui</strong>lo<br />

dali. O fumo dá dinheiro porque t<strong>em</strong> que ter qualidade, o pêssego dá dinheiro mas<br />

t<strong>em</strong> que ter qualidade. Qu<strong>em</strong> planta fumo é escravo <strong>do</strong> fumo, da lavoura, porque<br />

t<strong>em</strong> que estar o ano inteiro ali, baten<strong>do</strong> <strong>em</strong> cima. Aí não consegue plantar outras<br />

coisas, t<strong>em</strong> famílias <strong>aqui</strong> que não plantaram pro gasto. Não conseguiram plantar<br />

pro gasto porque não deu. Tenho conhecimento de pessoas que sobrou cinco seis<br />

mil [reais] <strong>do</strong> fumo, primeiro ano que plantaram, que <strong>aqui</strong>lo ali foi uma cruzada<br />

[terminou rápi<strong>do</strong>]. (...) Ninguém vai viver <strong>do</strong> fumo, só fuman<strong>do</strong>, qu<strong>em</strong> vai comer<br />

o fumo. Pra mim o fumo é droga! Nunca plantei fumo, mas não sei se amanhã ou<br />

depois os filhos vão querer plantar com essa queda <strong>do</strong> pêssego. Porque eles já<br />

estão falan<strong>do</strong> <strong>em</strong> colocar uma estufa. 415<br />

Para o senhor Belarmino, extensionista rural, o desenvolvimento é perfeitamente<br />

observa<strong>do</strong> <strong>na</strong>s localidades produtoras de fumo. “Você pode andar por esse interior, só<br />

vai ver desenvolvimento econômico <strong>na</strong>s regiões aonde t<strong>em</strong> a produção de fumo.”<br />

Justifica a afirmação pela relação da atividade produtiva <strong>do</strong> fumo com outras, a<br />

necessidade de infra-estrutura (estufas para a secag<strong>em</strong> das folhas de fumo) acio<strong>na</strong><br />

serviços de ferreiros e pedreiros, e a compra <strong>do</strong>s insumos necessários para a construção<br />

das estufas. 416<br />

Como salientou-se no decorrer desta seção, além da agricultura, as famílias <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Maia sobreviviam de trabalhos externos à propriedade e à localidade, da<br />

venda de lenha e carvão e alguns outros como, por ex<strong>em</strong>plo, a <strong>do</strong>ma de animais de<br />

tração. Hoje a grande maioria da população trabalha <strong>na</strong>s suas próprias terras ou<br />

prestan<strong>do</strong> serviços <strong>na</strong> localidade, principalmente nos pomares de pêssego e <strong>na</strong>s lavouras<br />

de fumo (vínculos agroindustriais).<br />

No passa<strong>do</strong> a agricultura e os diversos tipos de trabalhos des<strong>em</strong>penha<strong>do</strong>s pela<br />

sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia eram principalmente para prover a subsistência da<br />

família. Atualmente, reserva-se uma boa parte à melhoria da qualidade de vida, com a<br />

construção ou reforma de casas, a compra de bens duráveis, entre outros. Sobre a<br />

alimentação no perío<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> as condições eram menos favoráveis, pod<strong>em</strong>os destacar<br />

algumas informações que obtiv<strong>em</strong>os <strong>na</strong>s conversas com as famílias de Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

Ao início de cada novo ciclo agrícola, 417 o agricultor organiza sua atividade produtiva,<br />

nesse momento orde<strong>na</strong> suas prioridades e escolhas produtivas. Para as famílias que se<br />

sent<strong>em</strong> frágeis, as escolhas estão incli<strong>na</strong>das para a sobrevivência, subsistência <strong>do</strong> grupo<br />

familiar, priorizan<strong>do</strong> o cultivo de alimentos indispensáveis à mesa. As declarações <strong>do</strong>s<br />

senhores Raul (39 anos) e Jo<strong>aqui</strong>m (57 anos), respectivamente, deixam claro: “Eu<br />

planto milho, feijão, batata-<strong>do</strong>ce e inglesa, coisas pro gasto. Primeiro lugar pro gasto da<br />

família. Alimentação da minha família <strong>em</strong> primeiro lugar! E também tenho chácara de<br />

pessegueiro.” “Planto milho, feijão, alguma batatinha pro gasto, as verdurinhas da horta<br />

415 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia. Parece que quer dizer que a plantação <strong>do</strong> fumo escraviza os<br />

agricultores, a ponto de perder parte da autonomia, referin<strong>do</strong>-se à produção de subsistência.<br />

416 Retor<strong>na</strong>r<strong>em</strong>os a questão <strong>do</strong> fumo adiante.<br />

417 Referimos ao início <strong>do</strong> ano agrícola ou ano civil, momento <strong>em</strong> que a roti<strong>na</strong> produtiva é reiniciada.<br />

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