06.05.2013 Views

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

egras de convívio local marcadas pela impessoalidade da segurança, da proibição e da<br />

f<strong>em</strong>inilização <strong>do</strong> espaço masculino.<br />

As sere<strong>na</strong>tas começavam no dia seis de janeiro (dia de Reis Magos), perío<strong>do</strong><br />

que tinham pouco serviço <strong>na</strong> propriedade, e durante o ano eram realizadas duas ou três<br />

dessas reuniões. Algumas famílias reuniam-se e saíam pelas estradas, no fi<strong>na</strong>l da tarde<br />

ou início da noite, cantan<strong>do</strong> músicas acompanhadas de violão, gaita (acordeão) e<br />

pandeiro. Escolhiam a casa de um parente ou amigo para chegar de surpresa, logo<br />

depois as mulheres começavam o preparativo da comilança, o que a família anfitriã<br />

tinha para oferecer; eram canjas (sopas), galinhadas (galinha com arroz), e pães. A<br />

bebida consumida era o café, alguns destacam a presença de bebidas alcoólicas<br />

(cachaça), mas <strong>em</strong> pouca quantidade (sagra<strong>do</strong> e profano). 301 As sere<strong>na</strong>tas começavam<br />

ao anoitecer e só encerravam ao amanhecer, com pequenos intervalos para o descanso<br />

<strong>do</strong>s músicos e para aguar o chão (de terra) para não deixar a poeira levantar. Uma<br />

figura de destaque <strong>na</strong>s sere<strong>na</strong>tas era o mestre-sala, pessoa i<strong>do</strong>sa que impunha o respeito<br />

e a ord<strong>em</strong> pelo prestígio e a idade, era identifica<strong>do</strong> por uma rosa no peito, tinha o papel<br />

de apaziguar e coorde<strong>na</strong>r a festa para que esta acontecesse num clima de alegria e<br />

confraternização. A figura <strong>do</strong> mestre-sala foi usada nos bailes comerciais, mas logo<br />

depois substituída pela <strong>do</strong> segurança, trocan<strong>do</strong> o prestígio e o respeito pela força e o<br />

constrangimento como guardiões da harmonia. Hoje as sere<strong>na</strong>tas não faz<strong>em</strong> mais parte<br />

<strong>do</strong>s acontecimentos sociais da localidade, perden<strong>do</strong> formas de sociabilidade, de cultura<br />

e religiosidade.<br />

Outro acontecimento social era as carreiras de cavalos, um ou <strong>do</strong>is dias que<br />

envolvia parte da sociedade local; segun<strong>do</strong> relatos, toda a família participava delas,<br />

mulheres, crianças, mas eram os homens que pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>vam. Eles tinham prazer <strong>em</strong><br />

lidar com os animais, <strong>em</strong> apostar e contar vantagens entre os amigos, resgatan<strong>do</strong><br />

heranças passadas <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos que o cavalo era o único b<strong>em</strong> e companheiro <strong>do</strong> gaúcho<br />

solitário <strong>do</strong>s campos, <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos das façanhas e <strong>do</strong> comportamento ti<strong>do</strong> como belicoso.<br />

As famílias, para passar o dia à espera das corridas de cancha reta, levavam carne de<br />

porco assada, <strong>do</strong>ces <strong>em</strong> calda (de figo, laranja e melancia) e bebiam vinho moscatel<br />

(<strong>do</strong>ce) e gasosa (refrigerante tipo guaraná). Apesar da presença das famílias, as brigas<br />

eram comuns, resulta<strong>do</strong> das l<strong>em</strong>branças das heranças culturais, da atmosfera<br />

competitiva e da bebida alcoólica. Hoje as carreiras de cavalos <strong>na</strong> região são<br />

esporádicas, deram lugar aos rodeios campeiros (tradição recriada) com tiro de laço,<br />

paleteada, gineteada, atividades que eram características <strong>do</strong> gaúcho, voltan<strong>do</strong> às raízes<br />

das criações de ga<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> colonial.<br />

Na época que as leis ambientais eram mais frouxas, a caça era uma atividade de<br />

lazer e uma forma de suprir a subsistência da família, para os produtores e os mais<br />

humildes, respectivamente. Nas caçadas eram utilizadas armas de fogo e cães. Para os<br />

caça<strong>do</strong>res mais apaixo<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelo esporte, o cachorro era um companheiro e instrumento<br />

301 Nas conversas não registradas, ao desligar o grava<strong>do</strong>r, um <strong>do</strong>s probl<strong>em</strong>as de saúde relata<strong>do</strong>s era o<br />

consumo de bebidas alcoólicas, afligin<strong>do</strong> boa parte das famílias. Conforme um depoimento, os<br />

dependentes <strong>do</strong> álcool “(...) são a<strong>na</strong>lfabetos, não estudaram, trabalham muito mal <strong>na</strong> agricultura, são<br />

ler<strong>do</strong>s, plantam mal e colh<strong>em</strong> mal. (...) Às vezes eles trabalham (como diaristas), mas é difícil porque o<br />

pessoal já conhece os que bebe e não oferece trabalho. (...) alguns faz<strong>em</strong> carvão para ter alguma renda<br />

(...).” Observamos que o alcoolismo é um probl<strong>em</strong>a reconheci<strong>do</strong> <strong>na</strong> localidade, e que parece ser malvisto<br />

por parte da sociedade local, talvez seja o motivo de os entrevista<strong>do</strong>s negar<strong>em</strong> ou ocultar<strong>em</strong> a presença ou<br />

salientar como baixo o consumo da bebida alcoólica <strong>na</strong>s sere<strong>na</strong>tas. Por outro la<strong>do</strong>, as condições<br />

fi<strong>na</strong>nceiras das famílias restringiam o poder de consumo e compra. O que pod<strong>em</strong>os observar é que o<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>do</strong> alcoolismo está relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à falta de perspectiva, nível de educação e cultura – “(...) o pai<br />

bebe e ensi<strong>na</strong> o filho a beber (...) macho t<strong>em</strong> que beber.” Também foram relata<strong>do</strong>s casos de alcoolismo<br />

f<strong>em</strong>inino (preferimos não nomi<strong>na</strong>r os depoentes).<br />

124

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!