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estes últimos colaboraram para a transferência de parte <strong>do</strong> setor para outras regiões <strong>do</strong><br />

país. Nos dias atuais, a atividade agrícola resume-se no plantio <strong>do</strong> feijão, <strong>do</strong> milho e <strong>do</strong><br />

fumo para as multi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de tabacos estabelecidas nos municípios de Santa Cruz <strong>do</strong><br />

Sul e Vera Cruz. Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista essas experiências, observamos que os agricultores <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques respond<strong>em</strong> a mudanças no campo de possibilidades postas por<br />

agentes externos.<br />

O feijão e o milho foram uns <strong>do</strong>s poucos produtos que não deixaram de ser<br />

planta<strong>do</strong>s, base da subsistência das famílias, simbolizam fartura. 284 Segun<strong>do</strong> o senhor<br />

Nelson (59 anos), agricultor, o merca<strong>do</strong> (preço) não t<strong>em</strong> grande influência <strong>na</strong> hora de o<br />

agricultor tomar a decisão sobre o que plantar, mas destaca o que lhe motiva a plantar o<br />

feijão e o milho: Olha eu até não sei por que planto milho e feijão. Milho é porque eu gosto da<br />

lavoura de milho e a gente tanto faz colher no verão ou no inverno, é milho<br />

s<strong>em</strong>pre. O feijão é uma coisa da panela, então procura plantar. (...) Eu gosto <strong>do</strong><br />

milho porque dá fartura <strong>em</strong> tu<strong>do</strong>, tu engorda os animais, o porco, a galinha, o<br />

cavalo, a gente come milho <strong>na</strong> canjica, <strong>na</strong> farinha, <strong>em</strong> tu<strong>do</strong>. Milho é uma coisa<br />

quase que completa!<br />

Dos produtos cultiva<strong>do</strong>s <strong>na</strong> localidade, <strong>do</strong>is chamaram a atenção pela<br />

importância dada pelos agricultores <strong>na</strong>s deposições – trigo e fumo de corda. O trigo era<br />

planta<strong>do</strong> tanto para a comercialização como, mas principalmente, para o autoconsumo<br />

familiar. Na localidade existia um moinho colonial, como é denomi<strong>na</strong><strong>do</strong> pelos<br />

mora<strong>do</strong>res, que transformava o trigo e o milho <strong>em</strong> farinha. Sobre parte da história <strong>do</strong><br />

trigo e <strong>do</strong>s moinhos coloniais <strong>na</strong> localidade, o senhor Otávio (65 anos) relata:<br />

O colono trazia o trigo, saca de 60kg, o milho e levava a farinha pronta. Trazia<br />

um saco de 60 kg de trigo e levava 46 quilos de farinha no rolão. Tinha a farinha<br />

de primeira, a farinha de segunda e a <strong>do</strong> rolão, farinha de terceira. O rolão era a<br />

melhor farinha que tinha, era escura porque pegava b<strong>em</strong> <strong>na</strong> beirinha da casca, ali<br />

é onde está toda a vitami<strong>na</strong> <strong>do</strong> trigo, é a que chamam de <strong>integra</strong>l. Hoje não se usa<br />

mais isso, v<strong>em</strong> <strong>do</strong> supermerca<strong>do</strong> a farinha especial, aquela branquinha, e a farinha<br />

boa, que é boa para a saúde o pessoal dispensa, não quer<strong>em</strong>. (...) Era uma coisa<br />

que não se visava lucro como hoje, hoje é lucro senão não vão <strong>em</strong>bora. Naquela<br />

época era tipo comunitário! Vinha muita gente, <strong>na</strong>quela época a gente quase moía<br />

dia e noite. (...) O pessoal vinha de carroça e cavalo, vinha com meia saca de trigo<br />

<strong>na</strong> garupa <strong>do</strong> cavalo, uma lata de cada la<strong>do</strong>. Era como uma carreira de formiga, ia<br />

in<strong>do</strong> uns e ia vin<strong>do</strong> outros! 285<br />

Relatos como este foram vários, to<strong>do</strong>s <strong>em</strong> tom de sau<strong>do</strong>sismo; l<strong>em</strong>branças <strong>do</strong>s<br />

t<strong>em</strong>pos que a sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques produzia o pão de cada dia com o trigo<br />

da sua terra, e que a lógica <strong>do</strong> lucro não se fazia tão presente <strong>na</strong>s relações das pessoas.<br />

Este moinho colonial operou entre 1922 e 1964, quan<strong>do</strong> encerrou suas atividades por<br />

força da proibição <strong>do</strong> governo federal, conforme relato <strong>do</strong> senhor Otávio (65 anos):<br />

Naquela época o governo man<strong>do</strong>u baixar o decreto 210 proibin<strong>do</strong> os moinhos<br />

coloniais de funcio<strong>na</strong>r. Então houve uma perseguição das multi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is dizen<strong>do</strong><br />

que nós éramos clandestinos e sonega<strong>do</strong>r de imposto. Aí veio a fiscalização da<br />

Su<strong>na</strong>b lá <strong>do</strong> Rio de Janeiro com a papelada, queriam saber o quanto que a gente<br />

comprava no ano, mas nós éramos só beneficiamento, o colono trazia uma lata de<br />

trigo ou de milho, a gente mói e eles levam a farinha para consumir <strong>em</strong> casa.<br />

Para operar, o proprietário <strong>do</strong> moinho teria que arcar com altos custos para a<br />

legalização e passar a comprar o trigo e não mais prestar serviço <strong>na</strong> moag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s grãos.<br />

284 Nos depoimentos pode-se observar o valor da<strong>do</strong>, pelos agricultores, ao cultivo <strong>do</strong> milho. O milho, para<br />

alguns, era o combustível da propriedade, valor atribuí<strong>do</strong> pela importância <strong>na</strong> alimentação <strong>do</strong>s animais<br />

(aves, suínos e bovinos). Desses animais depende, relativamente, a subsistência familiar – alimentação e<br />

força de trabalho. A compra deste produto representaria custo eleva<strong>do</strong> <strong>na</strong> reprodução <strong>do</strong>s meios de<br />

produção e familiar.<br />

285 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

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