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polonês, entre outros. Mas, já referi<strong>do</strong> anteriormente, estamos interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> conhecer<br />

os gaúchos típicos <strong>do</strong> pampa, julgamos que este aprofundamento poderá auxiliar <strong>na</strong><br />

melhor compreensão das sociedades estudadas (Rincão <strong>do</strong>s Marques e Rincão <strong>do</strong>s<br />

Maia).<br />

Para Oliven (1996, p. 23): “(...) o modelo que é construí<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se fala <strong>na</strong>s<br />

coisas gaúchas está basea<strong>do</strong> num passa<strong>do</strong> que teria existi<strong>do</strong> <strong>na</strong> região pastoril da<br />

Campanha (...) e <strong>na</strong> figura real ou idealizada <strong>do</strong> gaúcho;” não deixan<strong>do</strong> claro, a nosso<br />

ver, a distinção entre o real e o idealiza<strong>do</strong>. Julga-se que entre as duas concepções podese<br />

encontrar diferenças marcantes, distancian<strong>do</strong>-as significativamente. A figura real<br />

(verdadeira) <strong>do</strong> gaúcho pode ser encontrada nos <strong>do</strong>cumentos históricos, 101 e a figura<br />

idealizada encontra-se nos <strong>do</strong>cumentos de exaltação, nos centros tradicio<strong>na</strong>listas, que,<br />

no afã de incorporar mo<strong>do</strong>s e costumes, caricaturam o tipo social <strong>do</strong> pampa. Desta<br />

forma, buscamos <strong>na</strong> historiografia informações que nos auxili<strong>em</strong> a conhecer e entender<br />

um pouco a figura real <strong>do</strong> gaúcho <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Entretanto, Castoriadis (1982, p. 192-<br />

197) destaca que <strong>na</strong> história há um senti<strong>do</strong>, desde as origens, que não é um senti<strong>do</strong> de<br />

real, n<strong>em</strong> de racio<strong>na</strong>l, n<strong>em</strong> de verdadeiro e n<strong>em</strong> de falso, é, no entanto, da ord<strong>em</strong> da<br />

significação, e que é “(...) a criação imaginária da própria história, <strong>aqui</strong>lo <strong>em</strong> que e pelo<br />

que a história se constitui para começar.” Resumidamente, os registros <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos passa<strong>do</strong>s são expressos somente <strong>na</strong> linguag<strong>em</strong>, esta não é, como ressalta<br />

Castoriadis (1982), código equivalente; porque <strong>na</strong> sua estruturação as significações<br />

imaginárias representam papel central. Levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> consideração as contribuições de<br />

Castoriadis, a figura real <strong>do</strong> gaúcho <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, no senti<strong>do</strong> estrito, não se encontrará,<br />

mas a historicidade dará conta, de acor<strong>do</strong> com o autor, <strong>do</strong> simbólico-racio<strong>na</strong>l, <strong>aqui</strong>lo<br />

que representa o real ou então é indispensável para pensá-lo.<br />

Na busca da gênese <strong>do</strong> gaúcho, defrontou-se com o ensaio de Ornellas (1966), o<br />

qual r<strong>em</strong>onta a formação étnica <strong>do</strong> gaúcho com incursões <strong>em</strong> perío<strong>do</strong>s anteriores à<br />

chegada <strong>do</strong>s portugueses ao sul <strong>do</strong> Brasil. Segun<strong>do</strong> Ornellas (1966, p. 123), antes da<br />

chegada das primeiras famílias açoria<strong>na</strong>s (perío<strong>do</strong> anterior a 1748), o Rio Grande <strong>do</strong><br />

Sul, Província de Tapes, era dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> dez grandes fazendas jesuíticas (jesuítas<br />

espanhóis) dedicadas à criação de ga<strong>do</strong>. A criação de ga<strong>do</strong> estava sob os cuida<strong>do</strong>s de<br />

homens que vestiam chiripá e montavam a cavalo, “(...) os primeiros gaúchos <strong>do</strong> século<br />

XVIII, mestiços de espanhóis e de índias.” 102 Para o autor (1966, p. 124), essa<br />

miscige<strong>na</strong>ção, <strong>em</strong> terras brasileiras, que originou o gaúcho primitivo, <strong>do</strong>no de “(...)<br />

todas as vantagens e prejuízos da sua condição de mestiço e todas as influências<br />

perniciosas <strong>do</strong> meio bárbaro.”<br />

Esse mestiço, <strong>do</strong>no <strong>do</strong> espírito ousa<strong>do</strong> <strong>do</strong> conquista<strong>do</strong>r e da agilidade e<br />

perspicácia <strong>do</strong> <strong>na</strong>tivo, deu o primeiro rastrea<strong>do</strong>r, o primeiro desgarra<strong>do</strong>r, o<br />

primeiro changa<strong>do</strong>r e, por vezes, egresso <strong>do</strong>s redutos subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s à lei, foi<br />

também o quatrero, vagabun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s campos e ladrão de ga<strong>do</strong>s.<br />

Observa-se que o autor distingue as características <strong>do</strong> gaúcho <strong>em</strong> <strong>do</strong>is grupos, as<br />

características boas e as ruins. As boas são herdadas <strong>do</strong> sangue espanhol e indíge<strong>na</strong>,<br />

como se pode destacar alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong> <strong>texto</strong> acima reproduzi<strong>do</strong>: ousadia, agilidade<br />

e perspicácia. Trata, aparent<strong>em</strong>ente, com igualdade as duas etnias, mas quan<strong>do</strong> usa a<br />

palavra mestiço carrega-a com certo senti<strong>do</strong> de inferioridade. Numa análise mais<br />

101<br />

Entretanto, os <strong>do</strong>cumentos históricos, <strong>em</strong> certa medida, retratam a visão <strong>do</strong> vence<strong>do</strong>r que escreve os<br />

registros históricos.<br />

102<br />

As índias, além de ser<strong>em</strong> oferecidas pelos índios aos coloniza<strong>do</strong>res, despertavam o interesse <strong>do</strong>s<br />

homens brancos a ponto de se apaixo<strong>na</strong>r<strong>em</strong> por elas. Para Saint-Hilaire (1974, p. 136), a explicação para<br />

tal atração estaria <strong>na</strong> estupidez dessas mulheres, “(...) levan<strong>do</strong>-as a agir como animais, entregan<strong>do</strong>-se<br />

totalmente à voluptuosidade, aumentan<strong>do</strong> por isso o prazer <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> por elas recebi<strong>do</strong> nos braços (...),”<br />

o que evident<strong>em</strong>ente é uma visão eurocêntrica e civilizada da sexualidade da indíge<strong>na</strong> e da mulher.<br />

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