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produtiva, mas esbarra <strong>na</strong> restrição de terra, poden<strong>do</strong> levá-los ao êxo<strong>do</strong> ou a<br />

comercialização da mão-de-obra disponível. A necessidade <strong>do</strong> uso intensivo da mão-deobra<br />

familiar colabora com a evasão escolar nos perío<strong>do</strong>s críticos como o perío<strong>do</strong> de<br />

poda e colheita <strong>do</strong> pêssego ou nos perío<strong>do</strong>s de plantio e colheita <strong>do</strong> milho, feijão e<br />

fumo. Entretanto, encontramos pessoas que sent<strong>em</strong> falta da alfabetização, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, o senhor Nilton, <strong>em</strong> tom de arrependimento:<br />

O estu<strong>do</strong> é bom! Tá certo, eu não aprendi, mas é coisa tão boa qu<strong>em</strong> sabe lê,<br />

qu<strong>em</strong> sabe. E pode ter uma boa oportunidade e arrumar um bom <strong>em</strong>prego, qu<strong>em</strong><br />

estuda, qu<strong>em</strong> sabe lê b<strong>em</strong>, qu<strong>em</strong> sabe escreve b<strong>em</strong>. Eu sinto falta <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, eu<br />

gostaria sabê lê. Se eu soubesse lê eu ia procura, pela minha própria sabe<strong>do</strong>ria,<br />

fazer para mim. 473<br />

Além de expressar a importância da alfabetização, o agricultor d<strong>em</strong>onstra sua<br />

angústia pela incapacidade de poder desenvolver-se como pessoa e agricultor. A<br />

angústia refere à falta de autonomia, no que diz respeito à <strong>aqui</strong>sição de conhecimento<br />

pela leitura, não t<strong>em</strong> acesso a outras formas de aprendiza<strong>do</strong>, condicio<strong>na</strong><strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s ao<br />

que vê e ouve. Apesar de a condição de vida ter melhora<strong>do</strong> significativamente nos<br />

últimos 20 anos, confirma<strong>do</strong> pelo senhor Nilton, o agricultor d<strong>em</strong>onstra certa<br />

insatisfação com sua condição, resig<strong>na</strong><strong>do</strong> à restrição à capacidade de mudança. Aspecto<br />

observa<strong>do</strong> também com outras pessoas (s<strong>em</strong>i) a<strong>na</strong>lfabetas, o auto-reconhecimento da<br />

incapacidade e, conseqüent<strong>em</strong>ente, a submissão, a humildade excessiva, e a restrita<br />

participação <strong>na</strong>s questões reivindicatórias. 474<br />

A união da sociedade, independente das características particulares das<br />

lideranças, para a instalação de uma unidade de ensino primário (1° a 4° série) <strong>em</strong> 1965<br />

foi um <strong>do</strong>s primeiros passos para o desenvolvimento da localidade. No início, com o<br />

simples papel de alfabetizar, mas, com as adaptações e mudanças no decorrer <strong>do</strong>s anos,<br />

capacitou a sociedade para o desenvolvimento. 475<br />

A educação formal, como destaca Thompson (1998, p. 18), “motor da aceleração<br />

(e <strong>do</strong> distanciamento) cultural”. Independente <strong>do</strong>s aspectos positivos ou negativos da<br />

educação formal no mo<strong>do</strong> de vida da sociedade (principalmente <strong>na</strong>s heranças culturais),<br />

como insinua Thompson, a alfabetização das pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia contribuiu no<br />

processo de desenvolvimento, quan<strong>do</strong> olha-se para questões sociais e econômicas,<br />

condição preexistente que cooperou para os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Programa de<br />

Desenvolvimento de Comunidade da SUDESUL, e por esta maximiza<strong>do</strong>. Iniciativas da<br />

própria comunidade que muitas vezes passam desapercebidas ou, por estratégias de<br />

outr<strong>em</strong>, menosprezadas.<br />

O processo de desenvolvimento da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia também<br />

compreende el<strong>em</strong>entos externos à localidade, mas que estão <strong>em</strong> relação, num sist<strong>em</strong>a de<br />

trocas de informação e conhecimento, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> transformações sociais relevantes,<br />

quan<strong>do</strong> se percebe a realidade numa condição dinâmica – forças que produz<strong>em</strong> ou<br />

modificam seus movimentos. Nessa relação com o meio externo, destaca-se alguns<br />

el<strong>em</strong>entos referentes à localização e à interferência, <strong>na</strong> forma de vida, das relações com<br />

a vizinhança.<br />

Como mencio<strong>na</strong><strong>do</strong> anteriormente, a localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia está<br />

encravada no meio de localidades de descendentes de imigrantes al<strong>em</strong>ães e, <strong>em</strong> menor<br />

proporção, de italianos. No início, as relações sociais eram restritas, as pessoas <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Maia eram menos comunicativas pela própria condição social,<br />

estigmatizadas etnicamente e segregadas pelo mo<strong>do</strong> de vida precário. O contato externo<br />

era especificamente comercial, transportavam para Canguçu e Pelotas carvão e lenha,<br />

473 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

474 Ver Thompson (1998).<br />

475 Ver Sen (2000).<br />

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