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apurada, poderia-se supor que a parte européia seria a boa e a indíge<strong>na</strong> a ruim; ou ainda,<br />

a ética e a moral jesuítica como boa e as outras como ruins. Se se levar <strong>em</strong> consideração<br />

estas suposições, arriscar-se-ia a dizer que, <strong>na</strong> relação entre jesuítas/índios e caça<strong>do</strong>res<br />

de ga<strong>do</strong> e de índios (paulistas), encontrar-se-ia também a atribuição, pelos primeiros,<br />

das características negativas aos últimos, estes identifica<strong>do</strong>s como gaúchos por pilhar<strong>em</strong><br />

o ga<strong>do</strong> introduzi<strong>do</strong> pelos jesuítas espanhóis (1634). Sobre as características ruins, essas<br />

são influências da região, não são até <strong>aqui</strong> hereditárias, mas o meio produz e reproduz<br />

suas animosidades <strong>na</strong> perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>s habitantes <strong>do</strong> pampa. Retor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> à seção<br />

anterior, sobre a região, e comparan<strong>do</strong> com a exposição de Ornellas, constata-se que<br />

atribu<strong>em</strong> à região, <strong>na</strong> maioria das vezes, senti<strong>do</strong> negativo, quan<strong>do</strong> atribu<strong>em</strong> o oposto,<br />

esse acompanha<strong>do</strong> de sentimento pouco agradável; ex<strong>em</strong>plo, quan<strong>do</strong> se refer<strong>em</strong> à<br />

sensação de liberdade que o pampa proporcio<strong>na</strong>, mas esta acompanhada <strong>do</strong> isolamento,<br />

da solidão.<br />

Retoman<strong>do</strong> a discussão sobre a gênese <strong>do</strong> gaúcho, Ornellas (1966, p. 125)<br />

estabelece cronologicamente uma distinção <strong>na</strong> formação <strong>do</strong> gaúcho, e confirma sua<br />

afirmação sobre a orig<strong>em</strong> espanhola <strong>do</strong> gaúcho: “(...) o que se pretende dizer é que o<br />

gaúcho espanhol <strong>na</strong>sceu antes <strong>do</strong> gaúcho brasileiro e que o gaúcho brasileiro – com<br />

sangue português – adaptou-se à vida e aos hábitos de seu vizinho espanhol.” Isso v<strong>em</strong><br />

auxiliar <strong>na</strong> compreensão da orig<strong>em</strong> de características típicas da colonização espanhola,<br />

principalmente no linguajar da população da região da Campanha. O gaúcho brasileiro<br />

incorporou ao seu habitus muito da cultura castelha<strong>na</strong>, identifican<strong>do</strong>-se como hermanos<br />

<strong>do</strong>s uruguaios e argentinos, apesar da animosidade tradicio<strong>na</strong>l que a fronteira alimenta.<br />

A contribuição da herança cultural espanhola <strong>na</strong> formação <strong>do</strong> gaúcho brasileiro foi (é)<br />

significativa, os espanhóis <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ram, como apresentou-se anteriormente, por largo<br />

espaço de t<strong>em</strong>po o território rio-grandense, seria um equívoco não reconhecer essas<br />

influências. Para corroborar as colocações acima, Ornellas (1966, p. 126-127),<br />

resgatan<strong>do</strong> Alfre<strong>do</strong> Varella, destaca ex<strong>em</strong>plos da proximidade e da miscige<strong>na</strong>ção entre<br />

portugueses e espanhóis no pampa rio-grandense, entre esses a união matrimonial de<br />

Bento Gonçalves com uma uruguaia e a descendência <strong>do</strong> General Manuel Luís Osório<br />

com os troncos raciais da velha Castela. O autor ainda salienta a fixação de espanhóis<br />

<strong>na</strong>s regiões de São Gabriel, Piratini, Jaguarão e <strong>na</strong> região da Boca <strong>do</strong> Monte (Santa<br />

Maria) e <strong>na</strong> Campanha rio-grandense, onde se localizaram famílias oriundas das terras<br />

cisplati<strong>na</strong>s. 103<br />

Ornellas (1966) retrocede no t<strong>em</strong>po para identificar o que ele chama de<br />

denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>res comuns da identidade <strong>do</strong> espanhol e <strong>do</strong> português e que,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, está presente <strong>na</strong> formação étnica <strong>do</strong> gaúcho. Esses denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>res<br />

comuns seriam os árabes e os berberes 104 que influenciaram culturalmente toda a região<br />

ocidental da Espanha, hoje Portugal. 105 Seguin<strong>do</strong> sua argumentação, Ornellas (1966, p.<br />

128) resgata a obra “História de Portugal” de David Lopes, a qual destaca a ocupação da<br />

Península pelos mouros, resultan<strong>do</strong> <strong>na</strong> islamização <strong>do</strong>s hispanogo<strong>do</strong>s e <strong>na</strong> decisiva<br />

influência <strong>do</strong>s hábitos e costumes <strong>do</strong> povo português. 106 O mesmo destaca Gilberto<br />

103 Ornellas (1966, p. 127) salienta que a participação espanhola <strong>na</strong> formação étnica <strong>do</strong> brasileiro não se<br />

deu somente <strong>na</strong> fronteira <strong>do</strong> extr<strong>em</strong>o sul <strong>do</strong> Brasil, mas que São Paulo conta com nomes de destaque <strong>na</strong>s<br />

Bandeiras, vários espanhóis viviam <strong>na</strong> velha Piratininga.<br />

104 Povo nômade que habita o norte da África (Argélia, Egito, Líbia, Marrocos e Tunísia).<br />

105 A raiz étnica que Ornellas (1966) destaca como denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>r comum entre espanhóis e portugueses<br />

aparece no trabalho de Vian<strong>na</strong> (1987, p. 195) quan<strong>do</strong> se refere ao alentejano, coloniza<strong>do</strong>r da região da<br />

Campanha, descreven<strong>do</strong>-o como um ariano mescla<strong>do</strong> de sangue s<strong>em</strong>ita.<br />

106 Dentre as influências <strong>do</strong>s mouros, Ornellas (1966, p. 128) recupera a obra “Legendas de Lisboa”<br />

(1945) de Norberto de Araújo, a qual destaca os pequenos palácios mouriscos rodea<strong>do</strong>s de jardins e<br />

laranjais. Nos relatos <strong>do</strong>s viajantes encontram-se descrições de estâncias <strong>em</strong> que as casas eram rodeadas<br />

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