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necessárias para alimentar a família por determi<strong>na</strong><strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, o restante era distribuí<strong>do</strong>.<br />

O mesmo era feito quan<strong>do</strong> carneavam um porco ou preparavam uma for<strong>na</strong>da de pão:<br />

Pão não tinha essa mor<strong>do</strong>mia de fazer pão, então lá <strong>em</strong> casa a mãe fazia uma<br />

cozedura, n<strong>em</strong> sei quantos pão, era um forno grande, e saía a cavalo entregar pão<br />

nos vizinhos, <strong>na</strong> tia, <strong>na</strong> vó. Então nós saía de a cavalo com uma sacada de pão<br />

para entregar <strong>na</strong>s tia e pra vó, aí elas faziam uma cozedura de pão, então voltava<br />

pão de volta! A gente matava <strong>do</strong>is porcos porque um era para os vizinhos, a<br />

costela é <strong>do</strong> fulano, o quarto é <strong>do</strong> beltrano e lá ia. Depois matavam e mandavam<br />

para a gente, às vezes a gente s<strong>em</strong> carne e quan<strong>do</strong> via chegava aqueles quarto, o<br />

coisa b<strong>em</strong> boa! 294<br />

Conforme o relato da senhora Maria<strong>na</strong>, a matança de animais para consumo (ou<br />

a produção de pão), a reunião de familiares e amigos, e a distribuição de parte <strong>do</strong>s<br />

alimentos configura uma sociabilidade da matança e conservação <strong>do</strong> alimento, seja <strong>na</strong><br />

relação intrafamiliar, seja extrafamiliar (vizinhos). A reciprocidade fundada <strong>na</strong> regra de<br />

sociabilidade moral e ética, não mercantil. Redes de afeto, solidariedade e de<br />

pertencimento. 295<br />

A crise das charqueadas de Pelotas e os altos e baixos <strong>do</strong>s frigoríficos<br />

desestimularam a criação de animais de corte <strong>na</strong> região, principalmente <strong>na</strong>s<br />

propriedades de menor área. Nessas propriedades, o rebanho bovino foi reduzi<strong>do</strong> a<br />

poucos animais para o consumo da família e para o serviço (tração), a atividade de<br />

criação de ga<strong>do</strong> de corte tomou novo fôlego com o aumento <strong>do</strong> preço da carne e com a<br />

melhoria das estradas.<br />

A alimentação <strong>do</strong>s mais humildes, diferente <strong>em</strong> qualidade e diversidade da <strong>do</strong>s<br />

produtores, teve poucas alterações com os anos, a dieta alimentar era angu de milho,<br />

feijão, batata-<strong>do</strong>ce e arroz (compra<strong>do</strong>), a carne era consumida esporadicamente e,<br />

principalmente, de galinha, porco ou de caça. Essas famílias não tinham criação de ga<strong>do</strong><br />

de corte e muitos não possuíam animais de tração (junta de bois) e vacas de leite, dada a<br />

dificuldade que enfrentavam para suprir as necessidades de subsistência.<br />

O café da manhã era basicamente uma bebida produzida com grãos torra<strong>do</strong>s de<br />

cevadinha, milho e amen<strong>do</strong>im, e pão de milho. O café era produzi<strong>do</strong> com um desses<br />

grãos torra<strong>do</strong> e soca<strong>do</strong> no pilão ou a combi<strong>na</strong>ção de <strong>do</strong>is ou mais, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

paladar da família. “Café mesmo só comprava aquele que era rico.” 296<br />

O bolo de milho era à base de água e farinha de milho, s<strong>em</strong> fermento, duro e<br />

seco. Colocavam uma pedra no meio <strong>do</strong> fogo até ela ficar branca (muito quente),<br />

puxavam-<strong>na</strong> para o la<strong>do</strong> e colocavam o bolo <strong>em</strong> cima para cozinhar. O pão de trigo ou<br />

misto (farinha de milho e de trigo) era pouco freqüente <strong>na</strong>s famílias mais humildes pela<br />

dificuldade <strong>em</strong> cultivá-lo.<br />

Sobre a vida social no Rincão <strong>do</strong>s Marques, encontramos opiniões distintas, mas<br />

todas são unânimes <strong>em</strong> afirmar que a localidade perdeu muito <strong>do</strong> seu di<strong>na</strong>mismo após a<br />

evasão de parte da população, principalmente os jovens, <strong>na</strong> década de 1980 e <strong>na</strong><br />

primeira metade da década de 1990. Algumas atividades sociais, como o futebol <strong>do</strong>s<br />

fi<strong>na</strong>is de s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>, praticamente desapareceram da localidade, restan<strong>do</strong> poucas opções de<br />

lazer para a sociedade.<br />

Outra questão que a maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s concorda diz respeito à mudança<br />

de comportamento. No passa<strong>do</strong>, as discussões e brigas eram freqüentes, as pessoas eram<br />

violentas e qualquer pequeno desentendimento era motivo para puxar a arma ou a adaga<br />

294 Maria<strong>na</strong> (54 anos), agricultora no Rincão <strong>do</strong>s Marques. Candi<strong>do</strong> (2001, p. 262-264) discute estas<br />

práticas de solidariedade que estão diretamente ligadas ao aspecto econômico e que interessa à discussão<br />

sobre os meios de vida – este objeto de pesquisa <strong>do</strong> autor.<br />

295 Rede de alguma identidade de nós definiria essas relações de sociabilidade.<br />

296 Quirino (69 anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

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