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adequadas como, por ex<strong>em</strong>plo, a Serra <strong>do</strong> Sudeste. A permanência da pecuária <strong>na</strong> região<br />

é questão de herança cultural e de falta de alter<strong>na</strong>tiva ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista as características<br />

ambientais e sociais da localidade. A atividade agrícola que começou a (re)tomar<br />

importância paralelamente à pecuária era herança <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, algumas famílias<br />

açoria<strong>na</strong>s instalaram-se <strong>na</strong> região de Canguçu nos primeiros anos de colonização,<br />

dedicavam-se quase que exclusivamente à agricultura de subsistência, comercializan<strong>do</strong><br />

o excedente no comércio de Pelotas. Grosso mo<strong>do</strong>, as famílias de coloniza<strong>do</strong>res<br />

instala<strong>do</strong>s <strong>em</strong> peque<strong>na</strong>s áreas de terra, as datas, inicialmente eram agricultores, mas,<br />

pelo apelo econômico das charqueadas, logo se transformaram <strong>em</strong> pecuaristas. As<br />

limitações produtivas impostas pelo relevo acidenta<strong>do</strong> da Serra <strong>do</strong> Sudeste não<br />

permitiram acúmulo de capital, impossibilitan<strong>do</strong> a <strong>aqui</strong>sição de novas terras, a ex<strong>em</strong>plo<br />

de regiões de campos e de relevo mais suaves. A crise da pecuária e os<br />

desm<strong>em</strong>bramentos das estâncias de criação pela comercialização, herança e <strong>do</strong>ação,<br />

reduziram a capacidade produtiva <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as de criação, motivan<strong>do</strong> a incorporação <strong>do</strong><br />

cultivo de produtos agrícolas para garantir a subsistência das famílias. Atualmente, os<br />

herdeiros culturais <strong>do</strong>s produtores são denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>s de pecuaristas familiares, 270 as<br />

propriedades têm <strong>em</strong> média de 15 a 20 hectares <strong>em</strong> que a criação de ga<strong>do</strong> conserva o<br />

modelo tradicio<strong>na</strong>l (pecuária extensiva), apesar das limitações, e dedicam-se às lavouras<br />

de milho e feijão para a alimentação <strong>do</strong>s animais e da família, respectivamente,<br />

comercializan<strong>do</strong> parte da produção.<br />

Os mais humildes eram as famílias descapitalizadas e com baixa disponibilidade<br />

de meios de produção, provavelmente descendentes de agrega<strong>do</strong>s e mesmo <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s<br />

permanentes das estâncias. Os mais humildes realizavam algumas atividades produtivas<br />

de mo<strong>do</strong> a garantir a subsistência <strong>do</strong> grupo familiar, cultivavam peque<strong>na</strong>s lavouras de<br />

milho e feijão <strong>na</strong> base <strong>do</strong> trabalho braçal, extraíam a casca de árvores, identificadas<br />

como aroeirinha, para comercializar com os curtumes, cortavam a mata <strong>na</strong>tiva para a<br />

produção de lenha e carvão, ambos os produtos vendi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s cidades de Canguçu e<br />

Pelotas, e trabalhavam como t<strong>em</strong>porários <strong>na</strong>s propriedades da região ou viajavam para<br />

as cidades de Arroio Grande, Jaguarão, Rio Grande, Santa Vitória <strong>do</strong> Palmar, entre<br />

outras, para trabalhar <strong>na</strong>s granjas de arroz, ou ainda trabalhavam como carroceiros<br />

(frete) transportan<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>rias para terceiros. Hoje os mais humildes dedicam-se a<br />

peque<strong>na</strong>s lavouras de milho e feijão e ao trabalho de diarista <strong>na</strong>s propriedades vizinhas.<br />

Com o grau de carência acentua<strong>do</strong> com o passar <strong>do</strong>s anos, essas famílias dispõ<strong>em</strong> de<br />

precárias condições de vida, casas s<strong>em</strong> nenhum conforto, algumas de pau-a-pique,<br />

pouca noção de higiene e atividade agrícola com técnicas rudimentares.<br />

A região <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques mu<strong>do</strong>u pouco com os anos, 271 alguns<br />

entrevista<strong>do</strong>s destacaram, como acontecimentos que marcaram a localidade, a chegada<br />

da energia elétrica e a construção da escola. Na atividade produtiva pouco foram os<br />

perío<strong>do</strong>s de destaque, como, por ex<strong>em</strong>plo, a produção de tomates e de ervilhas para a<br />

indústria de conserva de Pelotas, perío<strong>do</strong>s curtos e de baixo impacto <strong>na</strong> economia da<br />

localidade. Talvez a maior transformação tenha aconteci<strong>do</strong> no comportamento das<br />

pessoas, mudança facilmente reconhecida pela sociedade local, incentivada pelos meios<br />

de comunicação (rádio e televisão) e pela educação escolar. A paisag<strong>em</strong>, segun<strong>do</strong> os<br />

270 Em nenhum momento os entrevista<strong>do</strong>s identificaram-se com pecuaristas familiares, mesmo os que<br />

detinham rebanhos relativamente expressivos. Esta denomi<strong>na</strong>ção foi construída <strong>em</strong> ambiente externo,<br />

possivelmente no âmbito acadêmico. Os entrevista<strong>do</strong>s identificam-se como agricultores, indiferente à<br />

proporção entre rebanho e lavoura. Pecuarista familiar representa uma categoria a<strong>na</strong>lítica que, de alguma<br />

forma, fixa a esse grupo social características que não lhe são gratas. Por força <strong>do</strong>s estigmas, esse grupo<br />

social busca desvincular-se das relações e das características <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> de pastoreio.<br />

271 Na percepção <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> consideração o t<strong>em</strong>po vivi<strong>do</strong> (no máximo 75 anos atrás).<br />

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