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casinha de material, era mais casinha de barro, de pau-a-pique, de capim. Hoje<br />
não encontra casa de capim ou de barro, até t<strong>em</strong> casa de tábua, mas é difícil de<br />
encontrar. (...) Depois que começou a melhorar o nosso lugar, porque começou a<br />
fazer plantio de pessegueiro. Melhorou muito! Então botaram o nosso lugar de<br />
Novo Rincão <strong>do</strong>s Maia! 385<br />
Uma das primeiras questões abordadas <strong>na</strong>s entrevistas era sobre o passa<strong>do</strong> da<br />
sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, s<strong>em</strong>pre compl<strong>em</strong>entada, pelos depoentes, com a<br />
comparação aos dias atuais, como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>na</strong> fala acima. Esse era um <strong>do</strong>s<br />
momentos marcantes das conversas, expressavam orgulho pela transformação que<br />
foram capazes que realizar. Literalmente assumiram a localidade como obra e<br />
propriedade deles, como pod<strong>em</strong>os ver nos depoimentos acima, <strong>em</strong> que <strong>em</strong>pregam a<br />
palavra nosso, de alguma forma expressan<strong>do</strong> apreço e orgulho pelo Rincão <strong>do</strong>s Maia. 386<br />
Dedicam-nos, neste capítulo, a conhecer e compreender o processo de<br />
desenvolvimento da localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, destacan<strong>do</strong> alguns el<strong>em</strong>entos que,<br />
segun<strong>do</strong> a opinião da sociedade local, participaram da mudança social e econômica. A<br />
discussão deste capítulo t<strong>em</strong> característica um pouco diferente da <strong>do</strong> anterior, <strong>em</strong> que<br />
abordamos questões relativas ao comportamento da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques,<br />
aspectos subjetivos. Neste dedicamo-nos aos el<strong>em</strong>entos indutores da transformação e<br />
<strong>do</strong>s reflexos no comportamento da sociedade local. Mas antes, reportam-nos ao passa<strong>do</strong><br />
da localidade para termos noção da dimensão das transformações que iniciaram a partir<br />
da década de 1970 e que são responsáveis por declarações como a <strong>do</strong> senhor Jo<strong>aqui</strong>m<br />
(57 anos), <strong>em</strong> tom eufórico e <strong>em</strong>ocio<strong>na</strong><strong>do</strong>:<br />
Hoje estou feliz, me sinto feliz mesmo! (...) Eu nunca pensei que eu ia chegar<br />
nessa situação, ter uma casa boa! Da maneira que a gente estava enxergan<strong>do</strong> as<br />
coisas e da maneira que era <strong>na</strong>quele t<strong>em</strong>po, não ia conseguir <strong>na</strong>da nunca porque<br />
eu tinha que trabalhar de peão, muitas vezes, a s<strong>em</strong>a<strong>na</strong> inteirinha e no <strong>do</strong>mingo<br />
para mim. Precisava trazer o pão para casa porque tinha filhos pequeno. (...)<br />
Antes eu vivia triste porque só trabalhava para os outro, hoje vivo feliz porque<br />
trabalho para mim. Graças a Deus, isso é verdade e vai ficar grava<strong>do</strong> aí: eu deixei<br />
de trabalhar de peão faz uns quantos anos e não tenciono trabalhar mais! (...)<br />
Então hoje não vivo mais essa vida, não vivo mais sacrifica<strong>do</strong>, e hoje posso dizer<br />
que vivo feliz e acho que vou termi<strong>na</strong>r os meus dias nessa tranqüilidade. 387<br />
4.1 O Passa<strong>do</strong> <strong>na</strong> M<strong>em</strong>ória Coletiva e o Presente aos Nossos Olhos e Ouvi<strong>do</strong>s<br />
Eu me criei <strong>aqui</strong>, nós éramos de uma família humilde, uma família pobre. Nós<br />
éramos onze irmãos, nós nos criamo numa área peque<strong>na</strong> de terra, meu pai<br />
trabalhava de terceiro <strong>na</strong>s terra <strong>do</strong>s colono, eles tinham mais terra. Teve<br />
dificuldade de nos criar, a coisa não era fácil. Eu me casei <strong>em</strong> 1970, daquela data<br />
para cá o que mu<strong>do</strong>u (...), é um desenvolvimento, coisa muito séria! A zo<strong>na</strong> era<br />
pobre, a gente não tinha muito apoio <strong>do</strong>s órgãos <strong>do</strong> governo, que transmitisse<br />
ajuda para o povo. Daí começou os divertimento, a gente era esqueci<strong>do</strong>, eu me<br />
criei s<strong>em</strong> ver isso aí [divertimentos]. A gente inté tá numa localidade que não<br />
tinha n<strong>em</strong> uma religião para freqüentar, as igreja eram poucas. Eu mesmo, sou<br />
católico porque minha mãe quan<strong>do</strong> me batizou me levou num padre católico. Me<br />
criei s<strong>em</strong>pre dizen<strong>do</strong> que sou católico porque minha mãe s<strong>em</strong>pre dizia que eu era<br />
católico. (...) A gente fez a comunidade [igreja], foi feito o colégio, hoje já t<strong>em</strong>os<br />
385 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia. Observa-se a contra-estigmatização <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res de Rincão <strong>do</strong>s<br />
Maia, como nos ex<strong>em</strong>plos acima. Discutir<strong>em</strong>os esta questão no desenrolar deste capítulo. Ver Elias e<br />
Scotson (2000).<br />
386 No Rincão <strong>do</strong>s Marques não observamos a utilização da palavra nosso como forma de referir a<br />
localidade. Comparações entre as duas localidades são inevitáveis, nos limitamos a notas de rodapé para<br />
destacar diferenças e s<strong>em</strong>elhanças ou simples observações sobre Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />
387 Relatos como este foram vários, alguns às lágrimas, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> o valor das conquistas e a dimensão<br />
<strong>do</strong> caminho trilha<strong>do</strong> <strong>em</strong> cerca de 30 anos.<br />
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