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apresentan<strong>do</strong> outras formas de sociedade, contribuin<strong>do</strong> para a troca de experiências e,<br />

de certa forma, despertan<strong>do</strong> o senso crítico.<br />

Para Thompson (1998), a cultura (educação) pode determi<strong>na</strong>r a capacidade de<br />

uma comunidade organizar-se para reivindicar benefícios que propici<strong>em</strong> melhor<br />

qualidade de vida. A educação (conhecimento) não só amplia como multiplica os<br />

desejos da sociedade, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong>-a insatisfeita e questio<strong>na</strong><strong>do</strong>ra. A sociedade que adquire<br />

com o aprendiza<strong>do</strong> da leitura, da escrita e da aritmética a capacidade de questio<strong>na</strong>r,<br />

transforma-se <strong>em</strong> uma sociedade com grande potencial e facilidade para organizar ações<br />

coletivas <strong>em</strong> favor <strong>do</strong>s seus interesses.<br />

Nos últimos anos, as educa<strong>do</strong>ras observaram a aproximação <strong>do</strong>s pais com a<br />

escola, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> que o ensino está adquirin<strong>do</strong> valorização entre as famílias da<br />

localidade, com a maior freqüência <strong>na</strong>s reuniões de avaliação e <strong>na</strong> colaboração <strong>na</strong><br />

organização e realização de eventos sociais <strong>em</strong> que há <strong>integra</strong>ção entre escola e<br />

sociedade local. Essa mudança de comportamento foi observada a partir <strong>do</strong> momento<br />

que os alunos começaram a levar para casa soluções para o dia-a-dia da família, como,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, a produção de hortaliças ou de novas técnicas de cultivo. 471<br />

Até poucos anos atrás, os pais tinham outra concepção de ensino, valorizavam a<br />

transferência de experiência de vida, aquela estritamente suficiente para garantir o<br />

conhecimento necessário à reprodução social de âmbito familiar. O ensino escolar não<br />

des<strong>em</strong>penhava papel importante <strong>na</strong> forma de viver da sociedade, talvez por se<br />

caracterizar como algo compartimenta<strong>do</strong>, isola<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> relação direta e prática com o<br />

dia-a-dia das famílias. A escola participava de uma relação de disputa com os pais <strong>do</strong>s<br />

alunos, de um la<strong>do</strong> o conhecimento e de outro a mão-de-obra familiar necessária para<br />

suprir as necessidades imediatas. O ensino era visto pelos pais, de certa forma, como um<br />

investimento de muito longo prazo ou simplesmente perda de t<strong>em</strong>po, principalmente ao<br />

se tratar de agricultores familiares que não dispunham de condições adequadas para<br />

garantir a reprodução social <strong>do</strong> grupo familiar, a lógica reprodutiva desses talvez não<br />

vislumbrasse mais de <strong>do</strong>is ou três anos como concepção de longo prazo, já que<br />

organizam suas atividades produtivas, geralmente, <strong>em</strong> ciclos anuais.<br />

Segun<strong>do</strong> as representantes da Escola Municipal 20 de Set<strong>em</strong>bro, os pais, quase<br />

que exclusivamente os homens, têm as seguintes formas de perceber a relação <strong>do</strong>s filhos<br />

com a educação escolar: “Se eu não precisei estudar para viver, os meus filhos também<br />

não precisam!”, e “Eu fiz filho para ficar comigo, para ajudar <strong>na</strong> agricultura, e não para<br />

vir para a escola!” De acor<strong>do</strong> com uma das representantes da escola: “A gente consegue<br />

ganhar os pais com a bolsa escola, senão eles não mandariam os filhos para a escola”, 472<br />

nessa relação de troca, os pais repassam, à escola, a responsabilidade <strong>em</strong> suprir o<br />

material escolar e de cuidar da saúde <strong>do</strong>s alunos.<br />

Apesar das transformações observadas <strong>na</strong> sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, muito<br />

<strong>do</strong> pensamento e da cultura <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> se faz presente <strong>na</strong> lógica <strong>do</strong>s agricultores, os<br />

filhos ainda são contabiliza<strong>do</strong>s, independente da idade, como mão-de-obra familiar,<br />

como no ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> senhor Raul, que t<strong>em</strong> oito filhos com idades entre nove meses e 12<br />

anos: “D<strong>aqui</strong> a três, quatro anos eu teria condições de trabalhar, talvez, cinco ou seis<br />

vezes mais <strong>do</strong> que eu trabalho hoje.” Conta com os filhos para aumentar a capacidade<br />

471 Isso foi possível com a aproximação de técnicos agrícolas com a escola, colaboran<strong>do</strong> <strong>na</strong> formação de<br />

uma horta para ser utilizada <strong>na</strong> merenda escolar. Exercício prático que ensinou novas técnicas de cultivo<br />

para os alunos. Essa relação foi incentivada no âmbito <strong>do</strong> Programa de Desenvolvimento de Comunidade<br />

da SUDESUL.<br />

472 A bolsa escola é de R$ 15,00 por criança matriculada <strong>na</strong> escola, restringin<strong>do</strong> a um máximo de três<br />

beneficiários por família, representan<strong>do</strong> uma renda mensal de R$ 45,00, além <strong>do</strong> vale gás. Valores de<br />

nov<strong>em</strong>bro de 2003.<br />

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