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anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques, também destaca essa mudança de<br />

comportamento: No t<strong>em</strong>po que me criei a gente não conversava quan<strong>do</strong> tinha visita. A criança<br />

ficava s<strong>em</strong>pre <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora, não participava das conversas <strong>do</strong>s adultos. Existia<br />

muito mais autoritarismo. Hoje não, eu criei os meus filhos com to<strong>do</strong> o carinho, o<br />

carinho que eu não tive eu dei pra eles. (...) As crianças que são maltratadas pelos<br />

pais já se cria revoltada!<br />

Observa-se que a relação entre pais e filhos está mais afetiva que a descrita <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong>, motivada, segun<strong>do</strong> os entrevista<strong>do</strong>s, pela educação escolar, o acesso aos meios<br />

de comunicação e o aprendiza<strong>do</strong> da própria vida. A escola trouxe contribuições para<br />

essa mudança, as professoras, algumas da cidade, incorporavam ao ensino questões de<br />

higiene e comportamento que eram repassadas aos pais pelos filhos. A televisão passou<br />

a ser uma das opções de lazer <strong>do</strong>s fi<strong>na</strong>is de jor<strong>na</strong>da, como destaca o senhor Miguel (59<br />

anos – agricultor): “Agora a gente t<strong>em</strong> os conforto, chega <strong>em</strong> casa e vai olhar uma<br />

televisão. Naquele t<strong>em</strong>po era diferente, tu vinha para casa, ia se lavar, tomar um mate e<br />

jantar para no outro dia se levantar ce<strong>do</strong> para ir pro serviço.” E o senhor Otávio (65<br />

anos) compl<strong>em</strong>enta: “O rádio, televisão. Apesar que a televisão t<strong>em</strong> muitas coisas que<br />

não deveriam aparecer, mas isso tu<strong>do</strong> ajuda <strong>na</strong> cultura!” A experiência de vida também<br />

foi importante para a transformação, a comparação <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de educação repassa<strong>do</strong>s<br />

pelos pais e os resulta<strong>do</strong>s contribuíram <strong>na</strong> mudança da forma de tratamento <strong>do</strong>s filhos.<br />

A educação reta e autoritária <strong>do</strong>s pais poderia resultar <strong>em</strong> crianças rancorosas e<br />

revoltadas, como salientou o senhor Otávio, e, de certa forma, refletir <strong>na</strong> sociedade local<br />

<strong>em</strong> que os conflitos eram comuns, gera<strong>do</strong>s por questões ba<strong>na</strong>is. Provavelmente o<br />

conhecimento de outras formas de sociedade, por ex<strong>em</strong>plo, a urba<strong>na</strong> de Canguçu e<br />

Pelotas, tenha provoca<strong>do</strong> a reflexão sobre o mo<strong>do</strong> como eram dadas as relações sociais<br />

familiares e extrafamiliares. Nas comparações no t<strong>em</strong>po, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de ser das pessoas da<br />

localidade, o termo civiliza<strong>do</strong>, precedi<strong>do</strong> das palavras mais ou menos, é utiliza<strong>do</strong> para<br />

qualificar a sociedade local no presente e no passa<strong>do</strong>, respectivamente (valorizan<strong>do</strong> o<br />

presente como mais civiliza<strong>do</strong>).<br />

A mulher ocupava e ainda ocupa, mas <strong>em</strong> menor grau, posição secundária <strong>na</strong><br />

sociedade patriarcal autoritária, a submissão f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong> é característica da sociedade rural<br />

de Canguçu. No Rincão <strong>do</strong>s Marques não era diferente. Segun<strong>do</strong> o senhor Otávio (65<br />

anos):<br />

A mulher, <strong>na</strong>quela época, não tinha voz ativa pra <strong>na</strong>da, não resolvia <strong>na</strong>da! Isso era<br />

um grande erro! Eu mesmo me criei saben<strong>do</strong> que isso era uma coisa errada. Só o<br />

mari<strong>do</strong> que decidia! A mulher tinha que ouvir de cabeça gaixa e seguir as ordens<br />

<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Gostasse ou não gostasse, tinha que fingir que estava gostan<strong>do</strong>. Hoje<br />

não! Já existe, por ex<strong>em</strong>plo, a negociação, se a mulher não aceita fazer o negócio<br />

ele não faz, já cede.<br />

E a senhora Olívia (63 anos), agricultora, compl<strong>em</strong>enta:<br />

Eu acho que t<strong>em</strong> que ser assim, se um está erra<strong>do</strong> o outro t<strong>em</strong> que dizer que está<br />

erra<strong>do</strong>! São os <strong>do</strong>is os <strong>do</strong>nos da casa e da família, desde que não faça <strong>na</strong>da erra<strong>do</strong>,<br />

é obrigação tanto <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> como da esposa de ver o que está certo e o que não<br />

está. Não pode ficar um submisso ao outro!<br />

Nos depoimentos observa-se que a mulher v<strong>em</strong> conquistan<strong>do</strong> espaço, respeito e<br />

consideração no meio rural. O processo percorre cada grupo social <strong>na</strong> velocidade que<br />

lhes é permiti<strong>do</strong>, nuns mais rápi<strong>do</strong> e noutros mais lentos, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> grau de<br />

abertura concedi<strong>do</strong> pela própria sociedade, promoven<strong>do</strong> transformações para melhorar a<br />

qualidade de vida das mulheres. 279 No passa<strong>do</strong>, o papel da mulher era servir o chefe da<br />

família, s<strong>em</strong> poder opi<strong>na</strong>r ou decidir sobre assuntos ditos de responsabilidade<br />

279 As mudanças estão relacio<strong>na</strong>das à liberdade de poder opi<strong>na</strong>r, de ser ouvida e respeitada, mas <strong>na</strong><br />

divisão <strong>do</strong> trabalho os papéis não tiveram transformações significativas.<br />

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