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a vida cultural ple<strong>na</strong>. A <strong>em</strong>ergência da vida familiar (blocos familiais) como unidade<br />

social representa, para o autor, uma regressão adaptativa, “(...) uma defesa <strong>do</strong>s padrões<br />

culturais pela redução às formas mais instáveis de convivência. Uma volta a esta<strong>do</strong>s que<br />

tradicio<strong>na</strong>lmente se associam ao perigo de anomia.” O melhor aproveitamento <strong>do</strong>s<br />

meios de vida (vida cultural ple<strong>na</strong>) será possível no momento que as famílias<br />

ampliar<strong>em</strong> suas relações, como salienta o autor, no plano de vida municipal, <strong>integra</strong>n<strong>do</strong>se<br />

compensa<strong>do</strong>ramente. 375<br />

A sociedade de Rincão <strong>do</strong>s Marques conhece suas qualidades e defeitos, seus<br />

limites, e as dificuldades a enfrentar para promover uma transformação. Reconhece <strong>na</strong><br />

união das pessoas uma alter<strong>na</strong>tiva viável ao desenvolvimento, união por interesses<br />

comuns, para o b<strong>em</strong> da sociedade local, mas a união talvez só seja alcançada, <strong>na</strong><br />

percepção da maioria <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, por inspiração divi<strong>na</strong> – espírito de comunidade.<br />

3.2.5 Necessidade de tutor<br />

Acúmulo, <strong>em</strong> parte, de experiências negativas e falta de perspectiva<br />

(desesperança) pod<strong>em</strong> produzir marcas psicológicas que funcio<strong>na</strong>m como mecanismos<br />

inibi<strong>do</strong>res de tomadas de iniciativa, interpretadas, relativamente, como apatia, falta de<br />

significa<strong>do</strong> de vida, depressão, acomodação e resig<strong>na</strong>ção. O indivíduo sentin<strong>do</strong>-se<br />

incapaz de promover mudança e com auto-estima baixa, qualquer peque<strong>na</strong> crítica pode<br />

causar-lhe impacto psicológico negativo e desestruturar to<strong>do</strong> um projeto futuro, de<br />

alguma forma estimulan<strong>do</strong> a aversão à responsabilidade por atitudes ou decisões. Talvez<br />

o espírito crítico da sociedade local, dada as condições sociais e econômicas pouco<br />

favoráveis, tenha forte poder para afetar a reputação <strong>do</strong>s eleitos à análise depreciativa.<br />

No depoimento <strong>do</strong> senhor Re<strong>na</strong>to (36 anos), funcionário <strong>do</strong> poder público e mora<strong>do</strong>r no<br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques, há repulsa das pessoas à posição de representante da sociedade<br />

local:<br />

A associação poderia ser b<strong>em</strong> mais desenvolvida se houvesse união, t<strong>em</strong> gente <strong>na</strong><br />

zo<strong>na</strong> que não concorda com a maioria. (...) As pessoas são unidas <strong>na</strong> hora de<br />

ajudar <strong>na</strong> colheita, mas para procurar outro benefício para a turma, elas, não<br />

quer<strong>em</strong> se comprometer com alguma coisa. (...) não quer<strong>em</strong> se responsabilizar,<br />

não quer<strong>em</strong> ter responsabilidade. Não quer<strong>em</strong> ser cobra<strong>do</strong>s pelos outros!<br />

A sociedade de Rincão <strong>do</strong>s Marques é constituída por um grupo relativamente<br />

pequeno de famílias, que se reconhec<strong>em</strong> mutuamente. Em universos sociais reduzi<strong>do</strong>s,<br />

os mecanismos de controle social são instrumentos potentes para regular o<br />

comportamento <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> grupo, utiliza<strong>do</strong>s, usualmente, através da fofoca<br />

depreciativa (ou valorativa). Os mecanismos de controle social correspond<strong>em</strong> a formas<br />

de expor o transgressor perante o grupo, ridicularizan<strong>do</strong>-o ou difaman<strong>do</strong>-o; ou<br />

<strong>em</strong>pregan<strong>do</strong>-os como instrumento de persuasão. 376 No Rincão <strong>do</strong>s Marques é plausível<br />

que os mecanismos de controle social sejam <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> certa medida, de forma<br />

pouco flexível, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> marcas mais profundas, pelo menos é o que pod<strong>em</strong>os<br />

depreender <strong>do</strong> depoimento <strong>do</strong> senhor Re<strong>na</strong>to. Entretanto, os gaúchos peões <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

colonial, pelo mo<strong>do</strong> de vida e pelo tipo de trabalho, eram pouco exigi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> termos de<br />

responsabilidade, des<strong>em</strong>penhavam trabalhos sob coman<strong>do</strong>. Acostuma<strong>do</strong>s por gerações<br />

a trabalhar sob tutela de estancieiros, subordi<strong>na</strong><strong>do</strong>s e submissos, não apreenderam à<br />

perso<strong>na</strong>lidade o espírito de coman<strong>do</strong>, de atribuir, e de des<strong>em</strong>penhar funções como<br />

representante da sociedade.<br />

375 O que ver<strong>em</strong>os, <strong>em</strong> certa medida, <strong>na</strong> sociedade de Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

376 Ver Elias e Scotson (2000) e Berger (1986).<br />

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