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localidades rurais, passávamos por salões de festas ou paroquiais apinha<strong>do</strong>s de<br />

produtores rurais <strong>em</strong> reunião com representantes da indústria de tabacos. Di<strong>na</strong>mismo<br />

que está trazen<strong>do</strong> para o meio rural aqueles que um dia saíram <strong>em</strong> busca de melhor<br />

oportunidade <strong>na</strong> cidade. Técnicos da EMATER, da Secretaria Municipal da Agricultura<br />

e da indústria de tabaco, professores das escolas rurais, comerciantes das localidades e<br />

agricultores relatam o retorno de famílias ao meio rural, exclusivamente para plantar<br />

fumo. O depoimento <strong>do</strong> senhor Justino, responsável pelo escritório de uma das três<br />

<strong>em</strong>presas de tabacos, 235 nos dá indicativos para entender esse di<strong>na</strong>mismo:<br />

As pessoas não estavam ten<strong>do</strong> oportunidade e o produto que eles estavam<br />

colhen<strong>do</strong>, é uma pe<strong>na</strong> até a gente falar isso daí, feijão, milho, não é valoriza<strong>do</strong> o<br />

produto, ele vale só para o consumi<strong>do</strong>r, o consumi<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> vai comprar paga<br />

alto o preço, mas o produtor quan<strong>do</strong> vai vender pega um preço mínimo. Então ele<br />

estava gastan<strong>do</strong> com insumos, com s<strong>em</strong>entes e o preparo <strong>do</strong> solo, só que não<br />

estava ten<strong>do</strong> retorno, mal estava se manten<strong>do</strong> no interior. Não conseguia<br />

progredir. Com a entrada <strong>do</strong> fumo o que aconteceu? To<strong>do</strong> produtor, hoje, está<br />

mais b<strong>em</strong> estrutura<strong>do</strong> no interior. Hoje ele não pensa mais <strong>em</strong> vir para a cidade. A<br />

gente t<strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos de vários produtores que vinham para a cidade, vieram para a<br />

cidade, hoje to<strong>do</strong>s, a maior parte está vin<strong>do</strong> <strong>aqui</strong> no escritório e tentan<strong>do</strong> voltar<br />

novamente para o interior, porque,... hoje mesmo trabalhan<strong>do</strong> <strong>na</strong> cidade vai<br />

ganhar quanto? Trezentos, trezentos e cinqüenta reais, com esse valor ele não<br />

consegue se manter, isso qu<strong>em</strong> trabalha, mas 90% não está trabalhan<strong>do</strong>! Então a<br />

<strong>em</strong>presa está fi<strong>na</strong>ncian<strong>do</strong> o produtor. Com quatro ou cinco hectares de terra ele<br />

t<strong>em</strong> condições, no primeiro ano, de plantar 40 ou 50 mil pés e sobrar para ele de<br />

15 a 20 mil reais. Isso ele nunca vai conseguir <strong>aqui</strong>! [<strong>na</strong> cidade].<br />

As <strong>em</strong>presas de tabaco oferec<strong>em</strong> uma série de vantagens que os agricultores não<br />

encontram <strong>em</strong> outras atividades agrícolas, entre elas: a) fi<strong>na</strong>nciamentos de dez a quinze<br />

mil reais s<strong>em</strong> juros, com prazo de cinco anos para o pagamento, para a construção de<br />

estufas de secag<strong>em</strong> <strong>do</strong> fumo e galpões; b) entrega de insumos <strong>na</strong> propriedade, as<br />

quantidades e a expedição <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s são encaminhadas pelo técnico agrícola; c) visita<br />

<strong>do</strong> orienta<strong>do</strong>r técnico, quan<strong>do</strong> solicita<strong>do</strong> ou a cada quinze dias; d) coleta da produção de<br />

fumo por responsabilidade das <strong>em</strong>presas de tabacos; e) pagamento da produção <strong>em</strong><br />

quatro dias úteis; f) seguro contra possíveis perdas de safra. Fatores que pesam <strong>na</strong> hora<br />

de o agricultor tomar suas decisões sobre o que plantar; não há outro produto que<br />

ofereça tantas comodidades ao produtor rural. E numa atividade que envolve tantos<br />

riscos, como a agricultura, qualquer garantia passa a assumir importância no momento<br />

das escolhas. Entretanto, conforme Moreira (1999, p. 33-34, 133), estas vantagens<br />

configuram formas de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção (<strong>integra</strong>ção) praticadas pela indústria processa<strong>do</strong>ra<br />

<strong>em</strong> relação aos pequenos produtores familiares, e segun<strong>do</strong> interesses da agroindústria<br />

<strong>em</strong> suas estratégias competitivas.<br />

No caso <strong>do</strong>s que retor<strong>na</strong>m ao meio rural para plantar fumo, geralmente são<br />

provenientes de cidades próximas e que não perderam totalmente o contato com a<br />

região, foram para o meio urbano, mas deixaram a propriedade aban<strong>do</strong><strong>na</strong>da. Saíram, <strong>na</strong><br />

maioria <strong>do</strong>s casos, <strong>na</strong> década de 1980 <strong>em</strong> direção às cidades mais próximas, Canguçu,<br />

Pelotas e Rio Grande, que também enfrentavam dificuldades, dada a crise econômica<br />

desse perío<strong>do</strong>. Submeten<strong>do</strong>-se a ocupações mal-r<strong>em</strong>uneradas, pela mão-de-obra<br />

desqualificada para as exigências <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de trabalho, e outras dificuldades de<br />

adaptação ao meio urbano, as condições de vida não diferiam muito das vividas no meio<br />

rural, mas retor<strong>na</strong>r ao campo seria uma derrota para as famílias e uma humilhação<br />

perante os antigos vizinhos. Retor<strong>na</strong>r nesse momento, <strong>em</strong> que o fumo justifica a<br />

retomada da vida de agricultor, não se trata de uma derrota ou humilhação, mas de<br />

agarrar uma oportunidade (questão psicológica <strong>em</strong> jogo).<br />

235 Dimon <strong>do</strong> Brasil Tabacos, Universal Tabacos e Souza Cruz.<br />

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