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1.2 O Gaúcho: conjunção étnica<br />

Ao iniciar a seção, reporta-se a Holanda (1995, p. 44) para caracterizar, <strong>em</strong><br />

parte, os primeiros coloniza<strong>do</strong>res: “Nas formas de vida coletiva pod<strong>em</strong> assi<strong>na</strong>lar-se <strong>do</strong>is<br />

princípios que se combat<strong>em</strong> e regulam diversamente as atividades <strong>do</strong>s homens. Esses<br />

<strong>do</strong>is princípios encar<strong>na</strong>m-se nos tipos <strong>do</strong> aventureiro e <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r.” Logo adiante o<br />

autor caracteriza os <strong>do</strong>is tipos, inician<strong>do</strong> pelo aventureiro:<br />

Esse tipo humano ignora as fronteiras. No mun<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> se apresenta a ele <strong>em</strong><br />

generosa amplitude e, onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos<br />

ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo <strong>em</strong> trampolim. Vive <strong>do</strong>s espaços<br />

ilimita<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s projetos vastos, <strong>do</strong>s horizontes distantes.<br />

Sobre o trabalha<strong>do</strong>r o autor acrescenta:<br />

O trabalha<strong>do</strong>r, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer,<br />

não o triunfo a alcançar. O esforço lento, pouco compensa<strong>do</strong>r e persistente, que,<br />

no entanto, mede todas as possibilidades de esperdício e sabe tirar o máximo<br />

proveito <strong>do</strong> insignificante, t<strong>em</strong> senti<strong>do</strong> b<strong>em</strong> níti<strong>do</strong> para ele. Seu campo visual é<br />

<strong>na</strong>turalmente restrito. A parte maior <strong>do</strong> que o to<strong>do</strong>.<br />

Holanda (1995) aborda esses <strong>do</strong>is princípios, encar<strong>na</strong><strong>do</strong>s no aventureiro e no<br />

trabalha<strong>do</strong>r, para reforçar seu argumento sobre o processo coloniza<strong>do</strong>r desleixa<strong>do</strong> e<br />

descuida<strong>do</strong> que os portugueses <strong>em</strong>preenderam no Brasil, não desmerecen<strong>do</strong>, conserta o<br />

autor, a grandeza <strong>do</strong> esforço português. Identifica tanto os portugueses como os<br />

espanhóis com o tipo aventureiro. Observan<strong>do</strong> o processo de colonização português no<br />

Brasil, percebe-se que esses desbrava<strong>do</strong>res, num certo momento, incorporam parte <strong>do</strong><br />

tipo trabalha<strong>do</strong>r para adaptar-se à realidade ou para compensar certa frustração –<br />

riqueza mineral fácil. 84<br />

Não há um tipo puro, aventureiro ou trabalha<strong>do</strong>r, há seres híbri<strong>do</strong>s, mais<br />

aventureiros ou mais trabalha<strong>do</strong>res – decorrência de um processo <strong>na</strong>tural de adaptação<br />

às adversidades que constitu<strong>em</strong> o meio ambiente <strong>em</strong> que a sociedade, num da<strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

t<strong>em</strong>poral, está inserida. Esta é a forma como Holanda (1995, p. 44-45) orde<strong>na</strong> seu<br />

argumento sobre a formação e evolução da sociedade brasileira:<br />

Entre esses <strong>do</strong>is tipos não há, <strong>em</strong> verdade, tanto uma oposição absoluta como uma<br />

incompreensão radical. Ambos participam, <strong>em</strong> maior o menor grau, de múltiplas<br />

combi<strong>na</strong>ções e é claro que, <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> absoluto, n<strong>em</strong> o aventureiro, n<strong>em</strong> o<br />

trabalha<strong>do</strong>r, possu<strong>em</strong> existência real fora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das idéias. Mas também não<br />

há dúvida que os <strong>do</strong>is conceitos nos ajudam a situar e a melhor orde<strong>na</strong>r nosso<br />

conhecimento <strong>do</strong>s homens e <strong>do</strong>s conjuntos sociais. 85<br />

A disposição de certa sociedade a adaptar-se ao meio e o grau de envolvimento<br />

com o objetivo, momentâneo ou de vida, constitu<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos determi<strong>na</strong>ntes para o<br />

sucesso ou fracasso de uma <strong>em</strong>preitada. Os tipos utiliza<strong>do</strong>s por Holanda (1995) pod<strong>em</strong><br />

ser encara<strong>do</strong>s como formas de estilos de vida, influencia<strong>do</strong>s por múltiplas dimensões,<br />

corporificadas no indivíduo, sociedade, meio ambiente, etc. Elias (1994, p. 22)<br />

ex<strong>em</strong>plifica, <strong>na</strong> dimensão individual, a constituição <strong>do</strong> caráter específico de uma<br />

sociedade:<br />

Numa palavra, cada pessoa que passa por outra, como estranhos aparent<strong>em</strong>ente<br />

desvincula<strong>do</strong>s <strong>na</strong> rua, está ligada a outras por laços invisíveis, sejam estes laços<br />

de trabalho e propriedade, sejam de instintos e afetos. Os tipos mais díspares de<br />

funções tor<strong>na</strong>ram-<strong>na</strong> dependente de outr<strong>em</strong> e tor<strong>na</strong>ram outros dependentes dela.<br />

Ela vive, e viveu desde peque<strong>na</strong>, numa rede de dependências que não lhe é<br />

possível modificar ou romper pelo simples giro de um anel mágico, mas somente<br />

até onde a própria estrutura dessas dependências o permita; vive num teci<strong>do</strong> de<br />

84 Para Buesco e Tapajós (1969), o espírito aventureiro <strong>do</strong>s primeiros coloniza<strong>do</strong>res não tinha ape<strong>na</strong>s<br />

aspecto especulativo, era acompanha<strong>do</strong> da aceitação <strong>do</strong> esforço físico pessoal.<br />

85 As palavras de Holanda induz<strong>em</strong> a uma psicologia <strong>do</strong> coletivo, talvez nos moldes de Schneider (1978).<br />

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