Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Faça aqui o download do texto na integra em pdf.
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Segun<strong>do</strong> Bento e Mattos (2000, p. 107-109), era transportada para Pelotas boa parte da<br />
produção da região, como, por ex<strong>em</strong>plo, a de trigo, couro e lã, e retor<strong>na</strong>vam com<br />
merca<strong>do</strong>rias para abastecer os pequenos estabelecimentos comerciais da região. Nas<br />
entrevistas, escutamos relatos de antigos comerciantes, destacan<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong>s<br />
carreteiros para a relação comercial entre os produtores rurais e os comerciantes<br />
localiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> Pelotas, Canguçu, e <strong>na</strong>s localidades de Estação Cerrito e Cerro da<br />
Bue<strong>na</strong>. Os carroceiros e carreteiros representavam uma categoria profissio<strong>na</strong>l,<br />
contrata<strong>do</strong>s pelos comerciantes e produtores para transportar as merca<strong>do</strong>rias até o seu<br />
destino.<br />
Conforme Bento e Mattos (2000), o caminho que ligava Pelotas a Canguçu era<br />
conheci<strong>do</strong> como Estrada Santo Antônio ou Estrada <strong>do</strong>s Fojos, 176 utilizada pelos<br />
tropeiros que conduziam o ga<strong>do</strong> para as charqueadas de Pelotas, vin<strong>do</strong>s da região das<br />
Missões e de Cima da Serra (Vacaria <strong>do</strong>s Pinhais ou Campos de Vacaria), passan<strong>do</strong><br />
pelos atuais municípios de Caçapava e Santa<strong>na</strong> da Boa Vista. Mais tarde,<br />
aproximadamente 1870, começam a explorar uma nova estrada entre as duas vilas,<br />
estrada que dispunha melhores condições que o antigo caminho. 177<br />
Retor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> ao perío<strong>do</strong> que antecede à Proclamação da Independência, início <strong>do</strong><br />
século XIX, achamos conveniente relatar algumas características de sociedade<br />
canguçuense. Bento (1983, p. 52-53) recorre a John Luccock para caracterizar a<br />
população de Canguçu. Luccock, <strong>em</strong> passag<strong>em</strong> por Rio Grande <strong>em</strong> 1809, descreve a<br />
população: “Eram a maioria das vezes, homens baixos e robustos cuja mestiçag<strong>em</strong> com<br />
o sangue índio se denunciava <strong>na</strong> barba rala, nos cabelos finos e nos olhos vivos.” Para<br />
Bento (1983), muitos desses, descritos por Luccock, poderiam ser oriun<strong>do</strong>s de Canguçu,<br />
já que Rio Grande era uma das vilas freqüentadas pelos comerciantes e produtores de<br />
Canguçu. Esses traços físicos são comuns à população canguçuense, a miscige<strong>na</strong>ção<br />
com o índio e o negro fez parte de um processo de inter-relação de grupos raciais. Interrelação<br />
que tinha no português e no espanhol como superiores – militares, estancieiros,<br />
capatazes e comerciantes – no índio, no negro e no mestiço como subalternos –<br />
solda<strong>do</strong>s, peões, <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mésticos e escravos. No fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século XVIII, o índio e<br />
o negro eram comuns <strong>na</strong> região de Pelotas e Canguçu. O índio habitava a região, mas<br />
também egresso de outras regiões, principalmente charruas e minuanos pertencentes ao<br />
grupo pampiano, atraí<strong>do</strong> pelas charqueadas, trabalhava <strong>na</strong> lida com o ga<strong>do</strong> – <strong>na</strong>s<br />
estâncias, <strong>na</strong>s tropeadas e <strong>na</strong>s arreadas. O negro escravo, como mencio<strong>na</strong><strong>do</strong><br />
anteriormente, <strong>na</strong>s estâncias trabalhava <strong>em</strong> serviços <strong>do</strong>mésticos, <strong>na</strong> agricultura e, <strong>em</strong><br />
menor escala, <strong>na</strong> lida com o ga<strong>do</strong>; <strong>na</strong>s charqueadas trabalhava diretamente <strong>na</strong> produção<br />
<strong>do</strong> charque, e, no comércio, des<strong>em</strong>penhava diversas ocupações.<br />
Nesta breve recuperação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, observamos que questões <strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong> ainda permanec<strong>em</strong> nos t<strong>em</strong>pos atuais. Entre elas a dependência de Canguçu <strong>em</strong><br />
relação a Pelotas, seu desenvolvimento, no passa<strong>do</strong>, deu-se <strong>em</strong> função das charqueadas<br />
e das lutas de configurações de <strong>do</strong>mínios territoriais e de oligarquias regio<strong>na</strong>is<br />
para se adaptar a regiões de maior dificuldade de acesso (áreas acidentadas) e principalmente para<br />
adequar-se ao menor tamanho <strong>do</strong>s animais de tração (bois mais jovens). Também utiliza<strong>do</strong>s os “faitos” e<br />
as aranhas, compostos de duas rodas raiadas e puxa<strong>do</strong>s por ape<strong>na</strong>s um cavalo, normalmente utiliza<strong>do</strong>s<br />
para o transporte de uma ou duas pessoas.<br />
176 Para Bento (1983, p. 38), o caminho que ligava Canguçu a Pelotas era conheci<strong>do</strong> como Estrada <strong>do</strong>s<br />
Fojos, pelas dificuldades que esse caminho apresentava aos carreteiros e tropeiros. O termo “Fojos”,<br />
segun<strong>do</strong> o autor, como sinônimo de armadilhas, sumi<strong>do</strong>uros de água, valetas estreitas e profundas. No<br />
nosso entender, armadilhas não só <strong>na</strong>turais, também existiam grupos de escravos fugi<strong>do</strong>s e de<br />
saquea<strong>do</strong>res, que atacavam propriedades e viajantes.<br />
177 Na primeira metade <strong>do</strong> século XX foi concluída a estrada de ferro que ligava Pelotas a Canguçu, mas<br />
chegou a pouco mais de 10 anos de vida útil, <strong>em</strong> 1961 foi desativada <strong>em</strong> conseqüência da subtilização.<br />
80