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CAPÍTULO IV<br />

DA CRISÁLIDA AO NOVO RINCÃO DOS MAIA:<br />

CAMINHOS PARA COMUNIDADE<br />

A caminho <strong>do</strong> primeiro contato com a sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, paramos<br />

<strong>em</strong> um armazém a beira da estrada, entre a cidade de Canguçu e a localidade, para<br />

confirmarmos o caminho. Era nov<strong>em</strong>bro de 2003, logo após o meio-dia, num dia quente<br />

e abafa<strong>do</strong> apesar da chuva. Entramos no armazém, estavam presentes a senhora<br />

proprietária <strong>do</strong> estabelecimento comercial e <strong>do</strong>is jovens senta<strong>do</strong>s num banco de madeira<br />

encosta<strong>do</strong> <strong>na</strong> parede. Dirigimo-nos à senhora para obter informação a respeito <strong>do</strong><br />

caminho; no meio <strong>do</strong> diálogo um <strong>do</strong>s jovens interrompe afirman<strong>do</strong> que nos conhecera<br />

de Pelotas. Rapidamente pensamos: “Bom, morei <strong>em</strong> Pelotas lá <strong>na</strong> década de 1970, era<br />

criança, mas será que ele é bom fisionomista?” Nesse meio t<strong>em</strong>po, observamos que os<br />

jovens estavam <strong>em</strong>briaga<strong>do</strong>s. Não nos importamos com o jov<strong>em</strong> e prosseguimos no<br />

diálogo com a senhora. Novamente fomos interrompi<strong>do</strong>s pelo jov<strong>em</strong> insistente: “Te<br />

conheço lá <strong>do</strong> sa<strong>na</strong>tório de Pelotas!” Pensamos: “Estou rouba<strong>do</strong>, além de bêba<strong>do</strong> é<br />

maluco!” E o jov<strong>em</strong> rapidamente completou: “Estamos in<strong>do</strong> para a Escola 20 de<br />

Set<strong>em</strong>bro! Nos dá uma caro<strong>na</strong> que nós te mostramos o caminho!” Observan<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong><br />

de alegria da senhora quan<strong>do</strong> vislumbrou a possibilidade de livrar-se <strong>do</strong>s jovens,<br />

aceitamos a proposta. Achamos que tínhamos entra<strong>do</strong> numa fria, mas, pelo contrário,<br />

fomos rapidamente apresenta<strong>do</strong>s à localidade de Rincão <strong>do</strong>s Maia. Entramos no carro,<br />

um fusca setenta e alguma coisa <strong>em</strong>presta<strong>do</strong> por um colega de curso, um no banco ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong> motorista e o outro no banco traseiro com uma garrafa plástica de cachaça.<br />

Durante o trajeto conversamos sobre a localidade (falamos <strong>do</strong> rápi<strong>do</strong> desenvolvimento e<br />

<strong>do</strong>s estigmas atribuí<strong>do</strong>s a população <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia) e da <strong>na</strong>morada que<br />

aban<strong>do</strong>nou um deles (mostran<strong>do</strong> fotos e <strong>do</strong>r). Chegan<strong>do</strong> <strong>na</strong> Escola 20 de Set<strong>em</strong>bro, nos<br />

despedimos e seguiram para o armazém situa<strong>do</strong> <strong>em</strong> frente à escola e não nos<br />

encontramos mais. Alguns dias depois, já éramos conheci<strong>do</strong>s <strong>na</strong> localidade pelo carro<br />

que circulava de um la<strong>do</strong> para outro e pela caro<strong>na</strong> aos jovens.<br />

Esta rápida experiência e digamos entrevista informal (não gravada), nos<br />

adiantou informações que foram importantes <strong>na</strong> exploração <strong>do</strong>s depoimentos registra<strong>do</strong>s<br />

<strong>na</strong> localidade. Talvez pelo efeito <strong>do</strong> álcool, os jovens deixaram certos pu<strong>do</strong>res de la<strong>do</strong>,<br />

expon<strong>do</strong> uma das maiores feridas da sociedade local – estigmas. Fomos entender a <strong>do</strong>r<br />

da população de Rincão <strong>do</strong>s Maia durante as entrevistas <strong>em</strong> que os mora<strong>do</strong>res<br />

relatavam, por ex<strong>em</strong>plo: “Aquela pessoa ignorante que não conhece o Rincão <strong>do</strong>s Maia<br />

começa a falar bobag<strong>em</strong>. (...) pessoas que não têm educação, que não têm cultura”. 384<br />

Na mesma linha, o senhor Paulo (63 anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia,<br />

compl<strong>em</strong>enta:<br />

Essa nossa região até tinha um nome muito ruim até por si<strong>na</strong>l. Até muitos anos<br />

atrás foi um nome que não t<strong>em</strong> escrúpulo, que o nosso Rincão tinha por apeli<strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong> Pulgue<strong>do</strong>. Aqui era uma região das mais pobres que tinha, quase não<br />

tinha nenhuma região mais pobre que <strong>aqui</strong>!<br />

Mas a <strong>do</strong>r, <strong>em</strong> parte, foi diminuin<strong>do</strong> com o passar <strong>do</strong>s anos. Hoje l<strong>em</strong>bra<strong>do</strong><br />

como forma de destacar e d<strong>em</strong>onstrar o feito da comunidade, o desenvolvimento, <strong>em</strong><br />

curto espaço de t<strong>em</strong>po. O senhor Manoel (57 anos) resume:<br />

De primeiro nosso lugazinho tinha por apeli<strong>do</strong> de pulgue<strong>do</strong>, isso foi um ignorante<br />

de Canguçu. O nosso Rincão era um rincão pobre, era muito difícil encontrar uma<br />

384 O senhor Antônio (63 anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia, refere-se a pessoas da cidade de Canguçu,<br />

como no ex<strong>em</strong>plo destaca<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong> capítulo sobre a forma <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r local denomi<strong>na</strong>r a<br />

localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

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