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carregan<strong>do</strong> cargas e cargas de quan<strong>do</strong> eu fazia limpeza no meu campo, eu tirava a<br />

carqueja e a ca<strong>na</strong> e levava para a lavoura, no lugar de queimar a gente levava para<br />

a lavoura. Eles me olhavam e chegavam a me chamar várias e várias vezes de<br />

louco. Principalmente aqueles que não foram lá <strong>em</strong> Pelotas. Hoje é difícil<br />

enxergar um fogo, é difícil. Olha, faz vinte e <strong>do</strong>is anos que eu não boto fogo, só<br />

botei fogo nuns espinhos por causa das cobras. Fogo só no fogão! Tinha uma terra<br />

que não dava mais <strong>na</strong>da, só uns gravatazinhos. Depois que eu fui <strong>na</strong> agregação eu<br />

resolvi esse probl<strong>em</strong>a.” 449<br />

Três percepções sobre as contribuições <strong>do</strong> Programa de Desenvolvimento de<br />

Comunidade, de certa forma distintas, mas há uma questão comum nos depoimentos,<br />

apesar da forma como é expressa <strong>em</strong> cada um deles. Essa questão é a transformação da<br />

mentalidade das pessoas da comunidade, ten<strong>do</strong> participa<strong>do</strong> direta ou indiretamente das<br />

atividades <strong>do</strong> Programa. Deve-se a essa transformação o acesso ao conhecimento, não<br />

só pela educação convencio<strong>na</strong>l (institucio<strong>na</strong>l), mas, também, pelo conhecimento de<br />

novas experiências, como as excursões a outras comunidades, l<strong>em</strong>bradas pelo senhor<br />

Daniel. Acesso, até mesmo, ao autoconhecimento, como <strong>na</strong>s palavras <strong>do</strong> senhor<br />

Frederico ao (re)conhecer o seu valor como pessoa e agente da própria transformação.<br />

Não só desse Programa, mas <strong>do</strong> processo de desenvolvimento da comunidade <strong>do</strong> Rincão<br />

<strong>do</strong>s Maia, uma das maiores conquistas, senão a maior, é a mudança de mentalidade da<br />

sociedade local, salientada pela senhora Beatriz.<br />

Elias (1994a), ao perceber a sociedade como uma configuração mutante, indica<br />

que as estruturas de perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong>s seres humanos mudam, acompanhan<strong>do</strong> as<br />

mudanças de configuração. Entende a sociedade como um conjunto de pessoas<br />

interdependentes, ligadas por relações de dependência. As pessoas são mais ou menos<br />

dependentes entre si, como destaca o autor, “(...) inicialmente por ação da <strong>na</strong>tureza mais<br />

tarde através da aprendizag<strong>em</strong> social, da educação, socialização e necessidades<br />

recíprocas socialmente geradas (...).” 450 A sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia mu<strong>do</strong>u sua<br />

estrutura de perso<strong>na</strong>lidade à medida que as relações inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s foram<br />

intensificadas, geran<strong>do</strong> necessidades recíprocas. A intensificação das relações pode<br />

ocorrer, ora <strong>em</strong> maior velocidade, ora <strong>em</strong> menor velocidade, depende de uma série de<br />

fatores inter-relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s, alguns desses induzi<strong>do</strong>s intencio<strong>na</strong>lmente. Neste momento da<br />

discussão, a participação <strong>do</strong> Programa de Desenvolvimento de Comunidade da<br />

SUDESUL <strong>na</strong> localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia é responsável por alguns desses fatores<br />

induzi<strong>do</strong>s intencio<strong>na</strong>lmente (políticas públicas), estimulan<strong>do</strong> e proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> acesso a<br />

outros meios (sociais) pouco conheci<strong>do</strong>s pela sociedade, crian<strong>do</strong>, de certa forma,<br />

necessidade de aprendizag<strong>em</strong> social (conhecimento) e contribuin<strong>do</strong> para a referida (pela<br />

própria sociedade) mudança de mentalidade.<br />

A intensificação das relações sociais dentro da localidade produzidas pela<br />

curiosidade de uns e pelo entusiasmo de outros, 451 processo relacio<strong>na</strong>l reflexivo,<br />

contaminou a sociedade local, diss<strong>em</strong>i<strong>na</strong>n<strong>do</strong> conhecimento e informação e agregan<strong>do</strong> as<br />

pessoas. Os ensi<strong>na</strong>mentos adquiri<strong>do</strong>s <strong>na</strong> Agregação foram repassa<strong>do</strong>s aos que ficaram<br />

<strong>na</strong> localidade, <strong>integra</strong>n<strong>do</strong> e equalizan<strong>do</strong> o sentimento de nós <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, o Programa de Desenvolvimento de Comunidade parece ter si<strong>do</strong> d<strong>em</strong>ocrático,<br />

mas lacu<strong>na</strong>s ou clãs foram esqueci<strong>do</strong>s ou deixa<strong>do</strong>s de la<strong>do</strong>, talvez por vontade própria.<br />

Entrevistamos excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Programa de Desenvolvimento de Comunidade, como o<br />

senhor Gustavo (68 anos), agricultor, que, ao ser pergunta<strong>do</strong> sobre a 1° Agregação de<br />

Produtores Rurais <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia respondeu com desdém: “Ouvi falar, mas não<br />

449 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />

450 Elias (1994a, p. 249).<br />

451 Grosseiramente, pela curiosidade <strong>do</strong>s que não participaram da 1° Agregação de Produtores Rurais <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Maia e pelo entusiasmo <strong>do</strong>s que foram à reunião.<br />

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