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de trabalhar e nisso se enquadra o Rincão <strong>do</strong>s Marques, falta auto-estima para<br />

melhorar de vida, para melhorar suas condições. Então se acomodaram! (...)<br />

Quase todas as famílias t<strong>em</strong> um ou <strong>do</strong>is aposenta<strong>do</strong>s, os aposenta<strong>do</strong>s são que<br />

garant<strong>em</strong> o sustento das famílias, os filhos e netos acabam viven<strong>do</strong> <strong>na</strong>s costas das<br />

pessoas aposentadas. 350<br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques, basea<strong>do</strong> nos relatos, foi até a década de 1970 uma<br />

localidade com vida social movimentada, comparada à atual. A evasão de parte <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res, principalmente <strong>do</strong>s jovens, transformou a estrutura etária, envelhecen<strong>do</strong> a<br />

população. Os depoimentos <strong>do</strong>s residentes pod<strong>em</strong> ser dividi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> <strong>do</strong>is grupos: os que<br />

justificam a acomodação como conseqüência <strong>do</strong> excesso <strong>do</strong> individualismo,<br />

desconfiança e falta de esperança, conforme o imaginário social de longo prazo; e os<br />

que alegam o envelhecimento da população, caso <strong>do</strong> senhor Francisco.<br />

Inicialmente, as <strong>na</strong>rrativas coletadas falam da acomodação como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

êxo<strong>do</strong> e, conseqüent<strong>em</strong>ente, <strong>do</strong> envelhecimento da população. Para os entrevista<strong>do</strong>s, as<br />

pessoas que saíram da localidade eram aquelas que queriam melhorar de vida, “(...)<br />

estavam procuran<strong>do</strong> uma alter<strong>na</strong>tiva para poder crescer.” 351 Insatisfeitos com as<br />

condições de vida que a localidade (meio rural) oferecia, tomaram o rumo das cidades<br />

(Canguçu, Pelotas, Rio Grande e região metropolita<strong>na</strong> de Porto Alegre). 352 Eram as<br />

pessoas com capacidade de mudar, jovens e com atitude. Os que ficaram, os <strong>na</strong>rra<strong>do</strong>res,<br />

sentiam-se satisfeitos com a situação (resig<strong>na</strong><strong>do</strong>s), apega<strong>do</strong>s à família e à terra (bens<br />

materiais), não queriam e n<strong>em</strong> tinham ânimo para enfrentar o desconheci<strong>do</strong>. Para esses,<br />

o espírito aventureiro, trazi<strong>do</strong> no sangue <strong>do</strong>s conquista<strong>do</strong>res, 353 perdeu-se pelas gerações<br />

intermediárias, e a audácia, característica comum da perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho primitivo,<br />

ficou sobre a garupa <strong>do</strong> cavalo, e o horizonte reduziu-se diante de suas reti<strong>na</strong>s. O apear<br />

<strong>do</strong> cavalo, maneira figurada de referirmo-nos ao processo de fracio<strong>na</strong>mento das<br />

estâncias e da incorporação da agricultura como meio de subsistência, produziu<br />

mudanças <strong>na</strong> perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho no senti<strong>do</strong> figura<strong>do</strong> e literal, este aborda<strong>do</strong> por<br />

Vian<strong>na</strong> (1987) e Goulart (1985).<br />

A permanência das famílias de m<strong>em</strong>bros de maior faixa-etária e provavelmente<br />

as que apresentavam piores condições de vida pode ser entendida como forma de<br />

autopercepção da fragilidade diante <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>. O avançar da idade e a<br />

experiência de vida funcio<strong>na</strong>m, psicologicamente, como indutores de cautela,<br />

restringin<strong>do</strong> as possibilidades de transformação significativa das condições de vida.<br />

Funcio<strong>na</strong>m como indutores de aversão ao risco, por vezes entendi<strong>do</strong>s como<br />

característica psicológica depreciativa – acomodação, mas esquec<strong>em</strong> que, para grupos<br />

sociais frágeis, uma tomada de decisão equivocada pode render danos, materiais e<br />

psicológicos, irr<strong>em</strong>ediáveis.<br />

Galbraith (1979) abor<strong>do</strong>u a questão da acomodação <strong>do</strong> pobre rural <strong>em</strong> trabalho<br />

que teve por objetivo refletir sobre as causas da pobreza <strong>na</strong>s comunidades de atividade<br />

rural da Índia. Argumenta que o probl<strong>em</strong>a da pobreza rural está <strong>na</strong> aculturação – <strong>na</strong><br />

acomodação à cultura da pobreza. A falta de aspiração, a ausência de esforço para<br />

escapar da condição de pobreza parece entrar <strong>em</strong> conflito com um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong><br />

comportamento humano: a recusa de lutar contra o impossível. Esse comportamento é<br />

descrito pelo autor:<br />

350 Representante <strong>do</strong> poder municipal.<br />

351 Inácio (71 anos), agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

352 A migração de boa parte da população pode ser interpretada como atitude plausível contra a pobreza.<br />

Para Thompson (1998, p. 206), contra a fome, há outras alter<strong>na</strong>tivas além da migração, como, por<br />

ex<strong>em</strong>plo: rebeliões, petições <strong>em</strong> massa junto às autoridades, jejuns, sacrifícios e orações.<br />

353 Conforme Holanda (1995).<br />

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