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Tanto nos relatos <strong>do</strong>s extensionistas rurais como <strong>na</strong>s conversas com os<br />

agricultores, observamos que as inovações tecnológicas introduzidas <strong>na</strong> década de 1980<br />

foram modificadas, alguns agricultores foram aperfeiçoan<strong>do</strong>, com o auxílio da<br />

assistência técnica, as formas de cultivo, outros introduziram, por iniciativa própria,<br />

novas práticas, e há também aqueles que retor<strong>na</strong>ram às velhas práticas herdadas <strong>do</strong>s<br />

antepassa<strong>do</strong>s. Não há uma homogeneização <strong>do</strong> conhecimento técnico <strong>do</strong>s cultivos, mas<br />

isso é constata<strong>do</strong>, de certa forma, nos cultivos não comerciais, como milho e feijão. Há<br />

uma distinção entre o que é produzi<strong>do</strong> para autoconsumo e o que é desti<strong>na</strong><strong>do</strong><br />

exclusivamente ao merca<strong>do</strong>. O conhecimento técnico nos cultivos de pêssego e fumo,<br />

atividades produtivas estritamente comerciais, é distribuí<strong>do</strong>, relativamente, de forma<br />

igualitária entre os agricultores, ou pelo menos é o que parece. Nesses as exigências<br />

tanto <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> (competitivo) como da indústria funcio<strong>na</strong>m como mecanismos de<br />

pressão, tanto que estas impõ<strong>em</strong> procedimentos técnicos à atividade produtiva,<br />

selecio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> os agricultores que acatam as recomendações (principalmente no cultivo<br />

de fumo, que é <strong>integra</strong><strong>do</strong> com a indústria de tabacos).<br />

Observamos que, <strong>na</strong> concepção da lógica <strong>do</strong>s agricultores (referimo-nos à forma<br />

de racioci<strong>na</strong>r) sobre a reprodução social, há, inicialmente, duas maneiras de perceber o<br />

ambiente produtivo (instrumentos ou fatores que estão <strong>em</strong> jogo). Uma segmentada<br />

(setorial) e outra <strong>na</strong> totalidade (única). A primeira distingue, por ex<strong>em</strong>plo, a atividade<br />

produtiva para autoconsumo familiar da atividade produtiva para comercialização,<br />

diferencian<strong>do</strong> o comportamento quanto à tradição (ou estag<strong>na</strong>ção tecnológica) e à<br />

inovação (ou acompanhamento tecnológico), respectivamente. Talvez uma forma de<br />

contentar as cobranças instintivas de reprodução cultural (consideração e respeito pelas<br />

formas de reprodução responsáveis pela perpetuação <strong>do</strong> grupo familiar) 485 e de<br />

competitividade (acompanhar o processo, inovar, destacar), ambas sensíveis a críticas<br />

da sociedade local. 486 Aqui também observamos uma distinção sobre a qualidade <strong>do</strong><br />

produto para o consumo da própria família e para o consumo de outros, os cuida<strong>do</strong>s<br />

sobre a pureza (alimentos livres de agrotóxicos, saudáveis). 487 A competitividade <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> pode levar ao relaxamento <strong>do</strong>s princípios éticos, ou a submissão à lógica<br />

capitalista, abrin<strong>do</strong> mão, <strong>em</strong> parte, de ensi<strong>na</strong>mentos cultiva<strong>do</strong>s, pelo menos<br />

aparent<strong>em</strong>ente, pela sociedade. Ex<strong>em</strong>plo <strong>na</strong>s palavras <strong>do</strong> senhor Jo<strong>aqui</strong>m (57 anos) ao<br />

relatar sobre sua horta: “A nossa produção é sadia, s<strong>em</strong> químico nenhum, s<strong>em</strong> veneno<br />

nenhum. O que se planta é sadio. Isso a gente nunca cui<strong>do</strong> pra negócio, s<strong>em</strong>pre cui<strong>do</strong><br />

para a casa.”<br />

Na concepção da totalidade, o agricultor apreende seu ambiente produtivo como<br />

um sist<strong>em</strong>a único, <strong>em</strong>pregan<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> distinção, os novos conhecimentos técnicos.<br />

Assume a perso<strong>na</strong>lidade de inova<strong>do</strong>r, s<strong>em</strong> esboçar reação à crítica <strong>do</strong>s seus pares, abre<br />

mão <strong>do</strong> respeito à tradição pelo “status” social alicerça<strong>do</strong> no des<strong>em</strong>penho econômico,<br />

identifica<strong>do</strong> pela sociedade local como um produtor, um agricultor <strong>do</strong>s (mais) forte, ou<br />

um <strong>do</strong>s graú<strong>do</strong>s. Emprega os novos conhecimentos tanto nos cultivos para a<br />

subsistência da família como nos dedica<strong>do</strong>s exclusivamente à comercialização, muitas<br />

vezes compran<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> local boa parte <strong>do</strong>s produtos para alimentação, esses que<br />

poderiam ser produzi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> propriedade. Isso poderia representar uma outra<br />

sociabilidade, com novas redes de relação social e econômica e novos lugares <strong>na</strong><br />

hierarquia social, mediada por valores, relativamente, distintos.<br />

485 Pod<strong>em</strong>os inferir, também, num mo<strong>do</strong> de cultuar e de se aproximar <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong><br />

fidelidade aos ensi<strong>na</strong>mentos passa<strong>do</strong>s por gerações.<br />

486 Reportar ao trecho da fala <strong>do</strong> senhor Belarmino que destacamos acima.<br />

487 Sugestio<strong>na</strong> discussão sobre ética <strong>na</strong> produção de alimentos, reportan<strong>do</strong> ao cultivo orgânico.<br />

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