06.05.2013 Views

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

Faça aqui o download do texto na integra em pdf.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

intensificação das relações sociais, aproximação com o meio urbano e o acesso a meios<br />

de comunicação. A senhora Marília, residente <strong>na</strong> cidade de Canguçu, apresenta sua<br />

percepção sobre as pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia:<br />

Era um povo que chamava atenção por ser<strong>em</strong> diferentes e ser<strong>em</strong> muito pobres.<br />

(...) O que chamava a atenção quan<strong>do</strong> eu olhava para eles: tamanho das pessoas,<br />

eles eram menores que a estatura média <strong>do</strong> nosso povo d<strong>aqui</strong> de Canguçu; a<br />

carreta era menor, eles eram menores e os bois eram menores. Por quê? Pelo que<br />

eu ouvi contar é que eles cruzaram muito entre eles, então significa que <strong>em</strong> algum<br />

momento da história deles eles estiveram isola<strong>do</strong>s, então precisaram se unir. Eles<br />

eram muito brabos, atacavam ou se defendiam, eu não sei! A arma deles era o<br />

facão <strong>na</strong>quela época, rolava peleia grossa! Por isso só já chamava a atenção. (...)<br />

Eles traziam junto com eles; vinha a família, vinha os cabritos, vinha os cachorros<br />

e se tivesse um boi vinha junto. Por quê? Uns roubavam <strong>do</strong>s outros! (...) Eles<br />

tinham um jeito diferente de se posicio<strong>na</strong>r<strong>em</strong>, eles não sentavam, eles se<br />

acocavam, era característico deles, eles eram um povo diferente. Hoje eles entram<br />

<strong>aqui</strong> tu não conhece mais, a não ser pela fala. Eles falam alto, falam muito alto, e<br />

estão maior no porte deles. (...) É um povo muito festeiro, eu achei que eram<br />

ciganos, mas depois conversan<strong>do</strong> com eles, é mistura de negro com índio, eles<br />

têm um tom de pele diferencia<strong>do</strong>. A maneira que as mulheres mais velhas se<br />

vest<strong>em</strong> numa festa que estiv<strong>em</strong>os lá, elas vêm com uma saia rodada, mais rodada,<br />

comprida, e muito colorida e brincos diferentes também, não sei por que mas me<br />

l<strong>em</strong>brou espanhóis. (...) É o to<strong>do</strong> junto que a gente olhan<strong>do</strong> a gente nota, eu até<br />

n<strong>em</strong> sei explicar, mas é diferente, que é diferente. Eles tinham aparência de<br />

judia<strong>do</strong>s. (...) A mulherada não dava muita conversa, eram muito fechadas! Outra<br />

coisa que me chamava a atenção, andavam os homens <strong>na</strong> frente e as mulheres<br />

atrás, tu<strong>do</strong> um atrás <strong>do</strong> outro, eles não andavam juntos <strong>na</strong> calçada, era que n<strong>em</strong><br />

um carreiro. Era o hom<strong>em</strong> <strong>na</strong> frente, a mulher atrás e os filhos um atrás <strong>do</strong> outro.<br />

Era outra característica. A mulher falava pouco, qu<strong>em</strong> falava era o mari<strong>do</strong>.<br />

Andavam de pé no chão, até <strong>na</strong> cidade! (...) Eles eram muito inteligentes! Eles<br />

conseguiram sair daquele inferno, porque <strong>aqui</strong>lo era um inferno. 397<br />

O senhor Arlin<strong>do</strong> também caracteriza as pessoas <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia:<br />

Era uma região muito pobre e se caracterizava por um povo, por pessoas que se<br />

casavam entre famílias. Então eram umas pessoas pequenininhas, tipo uns índios<br />

pequenos, e viviam num esta<strong>do</strong> de miséria total. (...) pessoas simples, eles vinham<br />

para a cidade vender carvão com carretas b<strong>em</strong> pequenininhas, boizinhos, eram<br />

terneiros, não eram boi manso. Acampavam <strong>na</strong> volta da cidade e vinham para a<br />

cidade para vender os produtos deles. Eram pessoas excluídas da sociedade, não<br />

se inseriam muito. Eles viviam excluí<strong>do</strong>s! O Rincão <strong>do</strong>s Maia era chama<strong>do</strong> de<br />

pulgue<strong>do</strong>. Eles eram subdesenvolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong> atividade agrícola, <strong>na</strong> questão física e<br />

eram pessoas muito humildes. (...) As carretas eram peque<strong>na</strong>s e os bois também.<br />

Isso diferenciavam das outras comunidades, quan<strong>do</strong> enxergavam aquelas pessoas<br />

o pessoal já dizia: o pessoal <strong>do</strong> pulgue<strong>do</strong>! (...) Eles eram caracteriza<strong>do</strong>s como<br />

vende<strong>do</strong>res de carvão, lenha eles traziam também. 398<br />

Características produzidas pelas adversidades a que estavam submeti<strong>do</strong>s e pela<br />

sociedade exter<strong>na</strong> ao Rincão <strong>do</strong>s Maia. O Rincão <strong>do</strong>s Maia era antigamente um <strong>do</strong>s<br />

últimos focos de resistência da cultura indíge<strong>na</strong> <strong>em</strong> meio ao avançar <strong>do</strong>s colonos de<br />

orig<strong>em</strong> germânica que subiam a Serra <strong>do</strong> Sudeste vin<strong>do</strong>s de São Lourenço <strong>do</strong> Sul.<br />

Também <strong>em</strong> épocas passadas, os italianos começaram a chegar <strong>na</strong> região e a ocupar<br />

áreas próximas à localidade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia. Esse cercamento étnico levou ao<br />

isolamento, tanto por iniciativa própria como por parte <strong>do</strong>s invasores, talvez os últimos<br />

sejam mais responsáveis <strong>do</strong> que os primeiros, principalmente pela segregação étnica<br />

imposta pelos mais claros. Atitude historicamente conhecida <strong>na</strong>s relações étnicas. O<br />

isolamento possivelmente tenha colabora<strong>do</strong> <strong>na</strong> produção das características de<br />

perso<strong>na</strong>lidade descritas acima, formas <strong>na</strong>turais de defesa <strong>do</strong> ser humano quan<strong>do</strong> nessas<br />

397 Funcionária pública municipal.<br />

398 Representante <strong>do</strong> poder municipal.<br />

154

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!