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instigavam à solidão. O gaúcho – vivente <strong>do</strong>s pampas – buscava <strong>na</strong> construção de uma<br />

outra perso<strong>na</strong>lidade – alegre e espaçosa – reduzir os efeitos da vida solitária nos campos<br />

rio-grandenses. Nos momentos de descanso, nos intervalos da lida de campo, o gaúcho<br />

reunia-se à beira <strong>do</strong> fogo de chão para saborear o churrasco e o chimarrão, num<br />

ambiente descontraí<strong>do</strong> <strong>em</strong> que os causos e as canções estavam presentes, versan<strong>do</strong><br />

sobre conquistas amorosas, façanhas de batalhas e <strong>do</strong> dia-a-dia <strong>na</strong> atividade campeira<br />

junto <strong>do</strong> seu companheiro – o cavalo. Parte das características da vida desse gaúcho está<br />

presente, ainda hoje, <strong>na</strong> perso<strong>na</strong>lidade e <strong>na</strong> atividade produtiva <strong>do</strong>s habitantes <strong>do</strong> Rincão<br />

<strong>do</strong>s Marques. Essas características, de mo<strong>do</strong> geral, passam a ser interpretadas como<br />

desprezíveis e indig<strong>na</strong>s de uma sociedade, assum<strong>em</strong> o caráter de comodismo.<br />

Interpretadas e definidas negativamente, inicialmente, por grupos rivais e,<br />

posteriormente, incorporadas pelos detentores das características, causan<strong>do</strong>, aos últimos,<br />

efeitos danosos à auto-estima.<br />

A segunda hipótese: Se aceitarmos essa primeira hipótese interpretativa, a<br />

localidade de Rincão <strong>do</strong>s Marques ainda guardaria características de um sist<strong>em</strong>a pastoril<br />

extensivo aplica<strong>do</strong> a pequenos estabelecimentos, denomi<strong>na</strong><strong>do</strong>, nos últimos anos, de<br />

pecuária familiar. O processo de transformação e adaptação a um modelo agrícola<br />

diversifica<strong>do</strong> encontraria obstáculos <strong>na</strong> cultura produzida pelo passa<strong>do</strong> pastoril, mas<br />

também pelos limites de localização e pelas características da região a que Rincão <strong>do</strong>s<br />

Marques pertence, restringin<strong>do</strong> a incorporação de novos el<strong>em</strong>entos culturais à sua<br />

estrutura produtiva e social. Por ex<strong>em</strong>plo, as localidades vizinhas têm el<strong>em</strong>entos<br />

constitutivos pareci<strong>do</strong>s aos de Rincão <strong>do</strong>s Marques – não há localidades de al<strong>em</strong>ães e<br />

italianos, somente poucos agricultores descendentes de imigrantes italianos espalha<strong>do</strong>s<br />

pela localidade. Esses não influenciaram a sociedade local, pelo contrário, adaptaram-se<br />

ao mo<strong>do</strong> de vida <strong>do</strong>s antigos mora<strong>do</strong>res, talvez pela aparente inferioridade econômica<br />

<strong>do</strong>s descendentes de imigrantes italianos <strong>em</strong> relação aos já estabeleci<strong>do</strong>s descendentes<br />

de portugueses. Pode-se presumir que os estancieiros <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques, apesar da<br />

peque<strong>na</strong> dimensão das propriedades, apresentavam, relativamente, ares de uma classe<br />

rural intermediária, pelo menos <strong>na</strong> relação gaúchos brasileiros (estabeleci<strong>do</strong>s) e<br />

estrangeiros (“outsiders”). Outro aspecto nos parece relevante, a estrutura fundiária <strong>do</strong><br />

Rincão <strong>do</strong>s Marques e as características <strong>do</strong> relevo e da vegetação contribuíram, <strong>em</strong> certa<br />

medida, para a perpetuação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a pastoril. Parece-nos que o processo (lento) de<br />

fragmentação das estâncias e a distância <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, de alguma forma,<br />

auxiliaram <strong>na</strong> construção da imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques (<strong>na</strong> relação com a<br />

sociedade abrangente): a pecuária familiar huma<strong>na</strong>mente inferior e s<strong>em</strong> vínculos<br />

agrícolas com a sociedade local abrangente; nesse senti<strong>do</strong> é vista como de<br />

autoconsumo.<br />

A terceira hipótese: Entre os condicio<strong>na</strong>ntes para o desenvolvimento <strong>do</strong> Rincão<br />

<strong>do</strong>s Marques, segun<strong>do</strong> seus habitantes, figurariam o individualismo e a desunião – falta<br />

de solidariedade. 46 Solidariedade presente <strong>na</strong>s disputas territoriais e nos interesses da<br />

sociedade <strong>na</strong> história da formação <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Referin<strong>do</strong>-nos à sociedade riograndense<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial, os gaúchos eram ti<strong>do</strong>s como solidários, uni<strong>do</strong>s pelas<br />

causas <strong>do</strong> povo. Solidariedade despertada <strong>em</strong> momentos de ameaça, como destaca<br />

Vian<strong>na</strong> (1987), o gaúcho era solidário <strong>na</strong> guerra. Era nos conflitos que a união pelas<br />

causas sociais e as lideranças surgiam, precisavam de estímulo para formar os vínculos<br />

de reciprocidade entre as pessoas, estímulo <strong>na</strong> maioria das vezes externo. Passa<strong>do</strong>s os<br />

perío<strong>do</strong>s de guerra, das ameaças, a relação de responsabilidade entre as pessoas unidas<br />

46 Empréstimos de animais e equipamentos, laços de parentesco e outras formas de ajuda mútua indicam<br />

algum grau de coesão <strong>na</strong> sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques, entretanto restringe-se a pequenos grupos<br />

isola<strong>do</strong>s. Comportamentos incapazes de abarcar a sociedade local, de unir por uma causa comum.<br />

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