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O índio, segun<strong>do</strong> Saint-Hilaire (1974, p. 132), não era alto, tinha a pele<br />

bronzeada, cabelos negros e muito finos, características comuns <strong>na</strong> raça america<strong>na</strong>. A<br />

índia, uma bela fêmea, despertava o desejo <strong>do</strong>s homens, sua beleza selvag<strong>em</strong> era capaz<br />

de arrebatar o coração <strong>do</strong> europeu, como se vê <strong>na</strong> <strong>em</strong>polgada <strong>na</strong>rrativa de Avé-<br />

Lall<strong>em</strong>ant (1980, p. 264): 117<br />

A esse t<strong>em</strong>po chegou a cavalo, montada à moda masculi<strong>na</strong>, a sua nora, uma<br />

jov<strong>em</strong> guarani muito clara, de formas opulentas. Logo que chegou, pôs-se à<br />

vontade e apareceu, <strong>em</strong>bora vestida à européia, de pés descalços, que ela estendeu<br />

negligent<strong>em</strong>ente cruza<strong>do</strong>s, talvez não somente por ingenuidade <strong>na</strong>tural, pois <strong>na</strong><br />

sua pessoa aliás satisfatoriamente b<strong>em</strong> constituída, eram os pés, a formação <strong>do</strong><br />

tornozelo e a parte inferior das panturrilhas verdadeiros modelos de belas<br />

proporções. S<strong>em</strong> dúvida, <strong>aqui</strong>, teria visto o meu amigo Burmeister 118 o ideal da<br />

humanidade, <strong>em</strong>bora esse ideal não fosse além de tomar mate, cuspir e sorrir<br />

timidamente.<br />

O cotidiano <strong>do</strong> gaúcho peão era a lida e a captura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, as arreadas ou<br />

vacarias para a extração <strong>do</strong> couro. O peão passava vários dias <strong>na</strong> captura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>,<br />

<strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> ao relento e enfrentan<strong>do</strong> os índios hostis e o ga<strong>do</strong> xucro, animal violento. As<br />

arreadas consistiam <strong>na</strong> reunião <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> disperso no campo e, logo depois, começavam,<br />

com uma vara comprida equipada com um objeto cortante <strong>na</strong> extr<strong>em</strong>idade, a ceifar-lhes<br />

os tendões da per<strong>na</strong> (jarreta), impedin<strong>do</strong> sua locomoção, após imobilizar a quantidade<br />

desejada retor<strong>na</strong>vam para dar-lhes o golpe fatal e retirar o couro, que posteriormente era<br />

estaquea<strong>do</strong> para secar e ser comercializa<strong>do</strong>. 119 Para Freitas (1980), a captura <strong>do</strong> ga<strong>do</strong><br />

vivo, desti<strong>na</strong><strong>do</strong> às estâncias de criação, era uma atividade de maior risco; dada a<br />

agressividade <strong>do</strong>s animais, muitos peões morriam nessas expedições. Devi<strong>do</strong> ao risco da<br />

atividade, os patrões, gaúchos estancieiros, optavam pela contratação de mão-de-obra<br />

livre, ditos el<strong>em</strong>entos de vida duvi<strong>do</strong>sa, os gaúchos ou gaudérios (para nós o gaúcho<br />

peão), mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s anteriormente. Recebiam como pagamento alguns animais, o<br />

dinheiro era pouco utiliza<strong>do</strong> como forma de r<strong>em</strong>uneração.<br />

Nas estâncias de criação o peão observava permanent<strong>em</strong>ente os animais e, <strong>em</strong><br />

perío<strong>do</strong>s determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s, realizava a marcação, a castração <strong>do</strong>s touros, os cuida<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> o animal a<strong>do</strong>ecia, além da busca pelos desgarra<strong>do</strong>s. De acor<strong>do</strong> com Freitas<br />

(1980), também realizava o rodeio, localiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> terreno eleva<strong>do</strong>. Cravava-se um poste<br />

no centro <strong>do</strong> terreno para orientar o peão sobre o local que deveria reunir os animais,<br />

com os animais reuni<strong>do</strong>s começava as atividades de tratamento <strong>do</strong> ga<strong>do</strong>, curava,<br />

castrava, apartava, costeava e, dependen<strong>do</strong> da qualidade <strong>do</strong> campo, oferecia sal aos<br />

animais para suprir alguma deficiência alimentar. Com os animais trata<strong>do</strong>s e prontos<br />

para o abate, iniciava-se outra incursão, segun<strong>do</strong> o autor, não menos arriscada, levan<strong>do</strong><br />

de 20 a 30 dias para percorrer a distância que separava a estância das charqueadas.<br />

Roche (1969, p. 26-27) l<strong>em</strong>bra que esse trabalho <strong>do</strong> peão era pratica<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

determi<strong>na</strong>das estações <strong>do</strong> ano, sobran<strong>do</strong>-lhe t<strong>em</strong>po para as rodas de chimarrão <strong>em</strong> volta<br />

<strong>do</strong> fogo de chão, local preferi<strong>do</strong> para as reuniões onde relatavam as aventuras pelo Rio<br />

Grande. 120 Segun<strong>do</strong> o autor, “o cria<strong>do</strong>r rio-grandense leva uma vida alter<strong>na</strong>tivamente<br />

117<br />

Avé-Lall<strong>em</strong>ant começa sua <strong>na</strong>rrativa de forma sutil e sere<strong>na</strong>, mas quan<strong>do</strong> percebe que a sua mente está<br />

povoada por pensamentos libidinosos procura desqualificar a beleza da bela índia acrescentan<strong>do</strong><br />

rapidamente hábitos <strong>na</strong>da condizentes com a figura f<strong>em</strong>ini<strong>na</strong>.<br />

118<br />

Segun<strong>do</strong> nota <strong>do</strong> tradutor, deve referir-se a Hermann Burmeister, <strong>na</strong>turalista al<strong>em</strong>ão que viajou pelo<br />

Brasil.<br />

119<br />

Sobre o sist<strong>em</strong>a de arreada ou de preia, ver Vian<strong>na</strong> (1987) e Freitas (1980).<br />

120<br />

Sobre o linguajar <strong>do</strong> gaúcho, ver Laytano (1981).<br />

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