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vai sabe comê capim. E assim, não comparan<strong>do</strong> mal, nós cristão é a mesma coisa.<br />
Se começa a entrosá e a ensiná ele aprende tu<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong>!” 502<br />
O senhor Horácio, <strong>na</strong> sua simplicidade e meiguice, usa de ex<strong>em</strong>plo para explicar<br />
o processo de desenvolvimento psicológico da sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia,<br />
<strong>em</strong>pregan<strong>do</strong> o mesmo modelo explicativo que psicólogos e sociólogos utilizam para<br />
descrever o processo de aprendizag<strong>em</strong> <strong>na</strong> socialização <strong>do</strong> ser humano – a partir da<br />
criança, interdependente. 503 A sociedade <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia encontrava-se, segun<strong>do</strong><br />
opinião <strong>do</strong> senhor Horácio e de outros entrevista<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> (quase) estacionário. A<br />
dificuldade de acesso à comunicação (estradas, etc.) representava, de alguma forma,<br />
restrição ao desenvolvimento da localidade, impedin<strong>do</strong> o contato com outros grupos<br />
sociais e a troca de informações que auxiliaria no avançar <strong>do</strong> crescimento intelectual.<br />
Schneider (1978, p. 3-4), recorren<strong>do</strong> a Lindley (1954), l<strong>em</strong>bra que a existência<br />
parasítica <strong>do</strong> hom<strong>em</strong> (como <strong>na</strong>scituro) significa que sua introdução deve ser feita<br />
através das mãos de alguém, e, ressalta, que “(...) a necessidade básica não é o alimento,<br />
mas sim um agente através <strong>do</strong> qual o alimento pode ser obti<strong>do</strong>.” O autor está tratan<strong>do</strong> da<br />
relação <strong>do</strong> recém <strong>na</strong>sci<strong>do</strong> com o meio social, a incapacidade leva a depender de outros<br />
que estão <strong>em</strong> estágio de desenvolvimento mais avança<strong>do</strong>. Os determi<strong>na</strong>ntes hereditários<br />
da criança, com o processo de desenvolvimento, são envolvi<strong>do</strong>s e modela<strong>do</strong>s num “(...)<br />
processo formativo biossociogênico amplo, difuso, complexo, contínuo, variável e<br />
decisivo <strong>na</strong> caracterização pessoal de motivos, interesses, traços, atitudes, opiniões,<br />
aptidões, habilidades e conhecimentos.” 504 Reportan<strong>do</strong> às palavras <strong>do</strong> senhor Horácio,<br />
no entendimento popular, o desenvolvimento <strong>do</strong> ser humano depende de estímulos<br />
externos, a falta destes pode frear o processo, impedin<strong>do</strong> que avance muito além das<br />
necessidades instintivas de sobrevivência. O acesso à inter-relação social (trocas de<br />
informação: afeto, conhecimento, etc.), 505 por intermédio das aberturas de sociabilidade,<br />
permite que a sociedade desenvolva-se, contribuin<strong>do</strong> para o melhor aproveitamento <strong>do</strong>s<br />
meios disponíveis. Consideramos aberturas de sociabilidade agentes ou instrumentos<br />
que sirvam, de alguma forma, como ponte (meio) de ligação (ou de aproximação) entre<br />
pessoas, tanto no interior da própria sociedade como <strong>na</strong>s relações com o externo.<br />
A igreja católica foi um desses agentes ou instrumentos que proporcionou o<br />
maior entrosamento entre as pessoas da localidade e, mesmo, com a sociedade<br />
abrangente. Os ensi<strong>na</strong>mentos católicos, nos primeiros anos de contato com a sociedade<br />
<strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Maia, estimularam mudanças de hábitos sociais, principalmente <strong>na</strong>s<br />
relações familiares. Conforme os relatos <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, a igreja católica estimulava a<br />
vivência de comunidade, valorizan<strong>do</strong> o comportamento altruísta, cooperativo, cordial,<br />
decente, ético, frater<strong>na</strong>l, solidário, de ajuda e incentivo, inician<strong>do</strong>-se <strong>na</strong> família e<br />
irradian<strong>do</strong>-se para a sociedade local, desenvolven<strong>do</strong>-se, <strong>em</strong> certa medida, sentimentos<br />
comunitários, cívicos, patrióticos e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Em Schneider (1978, p. 165) é possível<br />
encontrar indicações no mesmo senti<strong>do</strong>, o autor reflete sobre o desenvolvimento prósocial<br />
com base nos complexos sentimentos gregários familiares, tribais,<br />
socioeconômicos, regio<strong>na</strong>is, étnicos e <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Como postula o autor, “(...) <strong>do</strong> amor<br />
502<br />
Horácio (74 anos), aposenta<strong>do</strong> e agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Maia.<br />
503<br />
Berger (1986), Elias (1999), Mendras (1975), e Schneider (1978).<br />
504<br />
Schneider (1978, p. 04).<br />
505<br />
As trocas de informação, no nosso entendimento, utilizam os cinco senti<strong>do</strong>s (tato, visão, audição,<br />
olfato e paladar) como meios de comunicação. Os senti<strong>do</strong>s estimulam reações, comportamentos,<br />
manifestações ou experiências, que ocorr<strong>em</strong> <strong>na</strong>s mais variadas situações e relações <strong>do</strong> indivíduo com o<br />
meio, a sociedade, o mun<strong>do</strong> e a cultura.<br />
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