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Gaúchos. A distribuição espacial, fruto <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a de colonização imposto pelo<br />

governo, contribuiu para o isolamento e para a formação de uma diversidade cultural;<br />

al<strong>em</strong>ães e italianos continuaram a falar suas línguas de orig<strong>em</strong> e cultivar as tradições e<br />

costumes que trouxeram <strong>na</strong> bagag<strong>em</strong> – reação espontânea ao isolamento e ao aban<strong>do</strong>no<br />

que foram submeti<strong>do</strong>s: mecanismo de defesa, mas também, segun<strong>do</strong> Manfroi (1975, p.<br />

125), “(...) busca ansiosa da própria identidade étnica, face à perplexidade causada pelos<br />

traumatismos da <strong>em</strong>igração.”<br />

Apesar das migrações inter<strong>na</strong>s e <strong>do</strong> processo de miscige<strong>na</strong>ção, o Rio Grande <strong>do</strong><br />

Sul ainda guarda as marcas da colonização, encontra-se regiões com características<br />

muito presentes das etnias coloniza<strong>do</strong>ras, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> a lenta <strong>integra</strong>ção. Entretanto,<br />

<strong>na</strong>s comunidades al<strong>em</strong>ãs e italia<strong>na</strong>s, o isolamento proporcionou, forçosamente, a<br />

aproximação e união <strong>do</strong>s imigrantes, estreitan<strong>do</strong> laços de amizade e cooperação. Na<br />

reflexão de Manfroi (1975, p. 189-190), a sociabilidade e <strong>integra</strong>ção no interior das<br />

colônias italia<strong>na</strong>s <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul foram estimuladas através da reconstituição de<br />

valores culturais centraliza<strong>do</strong>s <strong>na</strong> religião católica, crença que contribuiu para a<br />

superação das dificuldades iniciais e da saudade da terra <strong>na</strong>tal. Inicialmente as famílias<br />

reuniam-se espontaneamente <strong>na</strong>s casas, realizavam pequenos encontros religiosos, até<br />

começar a surgir, <strong>na</strong>s localidades, as capelas. Foi <strong>na</strong>s capelas que “(...) pouco a pouco, a<br />

sociedade foi se organizan<strong>do</strong> e se estruturan<strong>do</strong> até constituir uma sólida comunidade,<br />

<strong>em</strong> que a participação de to<strong>do</strong>s nos ofícios religiosos <strong>na</strong>s festas, <strong>na</strong> alegria e <strong>na</strong> <strong>do</strong>r foi<br />

crian<strong>do</strong> uma ligação afetiva à terra e à localidade.” 130<br />

Nas colônias al<strong>em</strong>ãs o processo foi pareci<strong>do</strong> com o das colônias italia<strong>na</strong>s; a<br />

religião teve papel importante no desenvolvimento das comunidades, desenvolvimento<br />

proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>, conforme Roche (1969, p. 671), pela coesão familiar e <strong>do</strong> relativo<br />

isolamento da vida pioneira. Entre os <strong>do</strong>is grupos de imigrantes (al<strong>em</strong>ães e italianos) há<br />

s<strong>em</strong>elhanças, mas também diferenças marcantes relacio<strong>na</strong>das, <strong>em</strong> parte, ao cre<strong>do</strong>. Os<br />

italianos funda<strong>do</strong>s <strong>na</strong> crença católica e os al<strong>em</strong>ães, a maioria, <strong>na</strong> protestante; distinções<br />

de concepção filosófica e de normas de comportamento.<br />

A distinção entre idiomas também é relevante para entender-se a união no<br />

interior das comunidades al<strong>em</strong>ãs e italia<strong>na</strong>s. A dificuldade de entendimento, pela<br />

linguag<strong>em</strong>, entre os grupos étnicos favorecia, de alguma forma, a intensificação das<br />

relações no interior das comunidades, compensan<strong>do</strong>, <strong>em</strong> certa medida, as dificuldades<br />

de relacio<strong>na</strong>mento com os outros grupos sociais.<br />

A religião parece ter si<strong>do</strong> um importante el<strong>em</strong>ento <strong>na</strong> formação e consolidação<br />

no que diz respeito à sociabilidade e <strong>integra</strong>ção <strong>na</strong>s colônias européias. O que não se<br />

pode dizer sobre a região da Campanha; a religiosidade coletiva 131 parece ter sucumbi<strong>do</strong><br />

diante da imensidão <strong>do</strong> pampa, ausência referida por vários historia<strong>do</strong>res. A pouca<br />

visibilidade da religiosidade <strong>do</strong> gaúcho pode ser reflexo <strong>do</strong> processo de ocupação <strong>do</strong><br />

território rio-grandense, acreditamos que alguns el<strong>em</strong>entos foram determi<strong>na</strong>ntes, como:<br />

a) a ocupação portuguesa <strong>do</strong> território rio-grandense tinha, inicialmente, como objetivo<br />

a exploração <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> xucro e a defesa <strong>do</strong> território, resultan<strong>do</strong> no ingresso, quase que<br />

exclusivamente, de indivíduos <strong>do</strong> sexo masculino, s<strong>em</strong> família. A família constitui o<br />

núcleo base da sociabilidade e da interação, é nela que a religião toma forma de<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>integra</strong><strong>do</strong>r da sociedade, a ausência <strong>do</strong> grupo familiar repercute <strong>na</strong> formação<br />

religiosa da sociedade, mas, no entanto, não elimi<strong>na</strong> o religioso da sociedade; b) a<br />

130 Sobre colonização italia<strong>na</strong> no Rio Grande <strong>do</strong> Sul e o papel das capelas no processo de adaptação e<br />

fixação <strong>do</strong>s imigrantes, ver também Frosi e Mioranza (1975) e Azeve<strong>do</strong> (1982).<br />

131 Talvez a matriz da religiosidade coletiva estivesse nos sincretismos religiosos das missões: imaginários<br />

sagra<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s índios e <strong>do</strong>s padres missioneiros. Entretanto, sobre a religiosidade individual <strong>do</strong> gaúcho não<br />

t<strong>em</strong>-se muito conhecimento, t<strong>em</strong>a de pesquisa para os antropólogos.<br />

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