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Logo depois os comerciantes da região começaram a trocar a farinha de trigo por trigo<br />

<strong>em</strong> grão, <strong>na</strong> mesma proporção, e retor<strong>na</strong>r mais uma determi<strong>na</strong>da quantia <strong>em</strong> dinheiro,<br />

ação estimulada, segun<strong>do</strong> os agricultores, pelos moinhos de Pelotas que aproveitavam<br />

<strong>do</strong>s subsídios que o governo concedia. Os agricultores continuaram a plantar trigo até<br />

mea<strong>do</strong>s da década de 1970, mas preferiam trocá-lo por farinha a levá-lo para o moinho<br />

colonial. Com a redução da fertilidade <strong>do</strong> solo e a má qualidade da s<strong>em</strong>ente, guardada<br />

de um ano para outro, o cultivo <strong>do</strong> trigo foi reduzin<strong>do</strong> até sua extinção <strong>na</strong> localidade.<br />

Entretanto, outros el<strong>em</strong>entos estavam relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s com a redução no cultivo <strong>do</strong> trigo,<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, a mudança <strong>na</strong>s relações econômicas e a possível heg<strong>em</strong>onia da<br />

agroindústria <strong>em</strong> relação ao moinho colonial. Do moinho colonial da família <strong>do</strong> senhor<br />

Otávio sobrou ape<strong>na</strong>s um prédio aban<strong>do</strong><strong>na</strong><strong>do</strong> a beira <strong>do</strong> arroio, o qual movimentava a<br />

roda de água, e declarações sau<strong>do</strong>sas como a da senhora Natália (53 anos):<br />

O que faz falta <strong>na</strong> região são os moinhos coloniais, que foram desativa<strong>do</strong>s, foi<br />

uma pe<strong>na</strong> porque tinha fartura para este povo! (...) To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> plantava uma<br />

lavourinha de trigo e já sabia que se não vendesse, porque de primeiro o vendeiro<br />

comprava, mas se não vendesse fazia farinha. 286<br />

O fumo de corda mobilizava a família por alguns meses, inician<strong>do</strong> pelo plantio,<br />

como descreve, pausadamente, o senhor Quirino (69 anos):<br />

De primeiro se queimava muito mato, se fazia carvão <strong>em</strong> forno de chão, armava<br />

um forno no chão, tapava com terra e botava fogo depois. Até isso hoje <strong>em</strong> dia<br />

está proibi<strong>do</strong>. Então <strong>na</strong>quela carvoeira a gente aproveitava e fazia uma s<strong>em</strong>enteira<br />

de fumo, fazia um canteiro de fumo. Quan<strong>do</strong> a muda estava neste porte assim a<br />

gente agarrava uma estaca e um ia abrin<strong>do</strong> cova e o outro ia botan<strong>do</strong> a muda e<br />

apertan<strong>do</strong> a mudita de fumo e dali uns dias já vinha a capi<strong>na</strong> e era assim. Hoje <strong>em</strong><br />

dia é tu<strong>do</strong> deferente, capi<strong>na</strong> eles capi<strong>na</strong>m, mas até a capi<strong>na</strong> já é deferente. De<br />

primeiro era tu<strong>do</strong> <strong>em</strong> enxada braçal, enxada de mão. 287<br />

Após a colheita <strong>do</strong> fumo começava a confecção das cordas:<br />

A gente tirava a folha de fumo, destalava ela, depois <strong>do</strong>brava ela b<strong>em</strong> <strong>do</strong>bradinha,<br />

fazia um maço, <strong>do</strong>bradinha, pranchadinha, depois então se colocava num banco,<br />

igual aquele ali [banco de madeira], estendia mais ou menos quatro ou cinco<br />

folhas de fumo, depois fazia um enchimento, uma bucha dentro, e se enrolava,<br />

fazia torcida. Depois, acorda era feita campo a fora, eram cordas de 20 a 30<br />

metros, ou até com mais, de acor<strong>do</strong> com o pessoal que tinha <strong>em</strong> casa para agarrar<br />

<strong>na</strong> corda para levantar para frente, aí a gente ia <strong>em</strong>butin<strong>do</strong> a torcida e iam<br />

torcen<strong>do</strong> a corda e o faze<strong>do</strong>r da corda só ia <strong>em</strong>butin<strong>do</strong> a torcida. Era como a<br />

gente, de primeiro, trabalhava era assim! Naquele t<strong>em</strong>po a dificuldade era coisa<br />

muito séria! Era coisa muito séria! Hoje <strong>em</strong> dia está tu<strong>do</strong> mais fácil, mais<br />

moderno. Agora mesmo, esses fumo o pessoal já faz e já é tu<strong>do</strong> nessas estufas, já<br />

botam a secar, já enfardam a folha, esses de estufa eu não sou conhece<strong>do</strong>r, nunca<br />

trabalhei nesses de estufa.<br />

Além da lavoura e da criação de animais, as famílias <strong>do</strong> Rincão <strong>do</strong>s Marques<br />

tinham outros meios para suprir as necessidades de subsistência, como a extração de<br />

madeira, para a produção de lenha e carvão, e da casca de aroeira e de catiguá,<br />

atividades <strong>do</strong>s mais humildes. Como salienta o senhor Quirino: “Meu pai era queima<strong>do</strong>r<br />

de carvão, (...) qu<strong>em</strong> era gente pobre queimava carvão <strong>em</strong> forno de chão.”<br />

S<strong>em</strong> disponibilidade de meios de produção adequa<strong>do</strong>s para a atividade agrícola,<br />

uma das alter<strong>na</strong>tivas era o corte da mata <strong>na</strong>tiva para transformá-la <strong>em</strong> achas de lenha ou<br />

carvão para comercializar <strong>na</strong>s localidades de Estação Cerrito e Cerro da Bue<strong>na</strong>, ou,<br />

quan<strong>do</strong> o merca<strong>do</strong> estava satura<strong>do</strong>, levar para Canguçu e Pelotas. Preferiam entregar o<br />

carvão para os compra<strong>do</strong>res mais distantes, já que era mais leve e valoriza<strong>do</strong> que a<br />

lenha. Com o resulta<strong>do</strong> da venda de mais ou menos quarenta sacos de carvão, os<br />

agricultores compravam os produtos necessários para garantir por mais de seis meses a<br />

286 Agricultora no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

287 Agricultor no Rincão <strong>do</strong>s Marques.<br />

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