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características, relações sociais (sociabilidade) e aspectos da perso<strong>na</strong>lidade, el<strong>em</strong>entos<br />

presentes no processo de formação <strong>do</strong> tipo social gaúcho.<br />

1.2.1 A região sul <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul e a formação das características de<br />

perso<strong>na</strong>lidade <strong>do</strong> gaúcho<br />

Quan<strong>do</strong> se reporta à região sul rio-grandense, também conhecida como região da<br />

Campanha, pampa gaúcho ou Metade Sul, logo v<strong>em</strong> à mente a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s verdes<br />

campos infindáveis ocupa<strong>do</strong>s pelas estâncias de criação de ga<strong>do</strong>. 95 Esquece-se que<br />

também se t<strong>em</strong> outra característica geográfica com representação espacial significativa<br />

<strong>na</strong> região, a Serra <strong>do</strong> Sudeste. Região de relevo acidenta<strong>do</strong>, ocupada por peque<strong>na</strong>s<br />

propriedades familiares dedicadas à agricultura de subsistência. Segun<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>res,<br />

no perío<strong>do</strong> colonial, a região da Campanha estava entregue ao acaso, terra de ninguém,<br />

<strong>em</strong> que a única companhia era a solidão.<br />

A Serra <strong>do</strong> Sudeste abrigava famílias de agricultores e escravos fugi<strong>do</strong>s das<br />

charqueadas e estâncias, estes últimos procuravam a região para formar núcleos de<br />

resistência – quilombos, favoreci<strong>do</strong>s pelos acidentes <strong>na</strong>turais e pela vegetação densa. 96<br />

Para apresentar a região <strong>do</strong> pampa gaúcho, recorre-se a três escritores que<br />

descrev<strong>em</strong> esta região de prismas diferentes. Roche (1969, p. 38), com base <strong>em</strong> autores<br />

regio<strong>na</strong>is e talvez <strong>na</strong> sua própria percepção, apresenta detalhadamente as características<br />

geográficas da região da Campanha, numa <strong>na</strong>rrativa solene e melancólica:<br />

Venhamos da Lagoa <strong>do</strong>s Patos ou <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Jacuí, elevamo-nos lentamente nos<br />

granitos da Serra <strong>do</strong> Sudeste. Extensas faixas que se prolongam entre os vales que<br />

as penetram profundamente, longos declives suaves, cujas leves curvas se<br />

recortam regularmente, depois se soldam <strong>em</strong> linhas horizontais, eis as coxilhas da<br />

terra gaúcha.<br />

Em quase to<strong>do</strong>s os relatos ou descrições sobre a região sul <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul, observa-se o uso de palavras que exprim<strong>em</strong>, <strong>em</strong> algum grau, algo<br />

monótono, enfa<strong>do</strong>nho, cansativo, por ex<strong>em</strong>plo, palavras ou expressões utilizadas por<br />

Roche como: extensas, prolongam, profundamente, regularmente, longos declives<br />

suaves, leves curvas, linhas horizontais. Parece que a região t<strong>em</strong> o poder de envolver as<br />

pessoas, poder de criar ou despertar o sentimento de tristeza, de melancolia. O espaço, o<br />

silêncio e a solidão invad<strong>em</strong> a alma <strong>do</strong>s viventes <strong>do</strong> pampa, levan<strong>do</strong>-os, quase, à<br />

desesperança, ao comodismo, esperan<strong>do</strong> somente a morte. 97<br />

José de Alencar, apesar de não ter conheci<strong>do</strong> a região, descreve <strong>na</strong> obra “O<br />

Gaúcho” (romance classifica<strong>do</strong> como ruralista) a paisag<strong>em</strong> bucólica, exploran<strong>do</strong> os<br />

senti<strong>do</strong>s que espiam a vida rural no extr<strong>em</strong>o-sul <strong>do</strong> Brasil <strong>do</strong> século XIX. 98 O pampa<br />

gaúcho, segun<strong>do</strong> José de Alencar (s.d., p. 14-15):<br />

95 Azeve<strong>do</strong> (1982, p. 43) recorta o Rio Grande <strong>do</strong> Sul <strong>em</strong> três regiões, segun<strong>do</strong> o povoamento, a<br />

economia e o fácies <strong>na</strong>tural, que poderiam ser classificadas como as três grandes áreas culturais: “a<br />

gaúcha, plati<strong>na</strong> ou da fronteira; a rio-grandense origi<strong>na</strong>l, constituída pelo litoral e a depressão central; e a<br />

que viria a ser conhecida como colonial.” Parte das regiões gaúcha e rio-grandense origi<strong>na</strong>l constitu<strong>em</strong> a<br />

atual região da Campanha.<br />

96 Sobre a questão da escravidão, ver Bernd e Bakos (1998), Flores (2003), Freitas (1982), Maestri (1993,<br />

2002), Moura (1987), Pesavento (1989), Queiroz (1993).<br />

97 Nas andanças pelo pampa gaúcho, sentimos algo pareci<strong>do</strong>, produzi<strong>do</strong> pela imag<strong>em</strong> que se descorti<strong>na</strong><br />

frente aos olhos, tu<strong>do</strong> estático, silencioso e imenso. Talvez seja este o sentimento que habita os indivíduos<br />

da Campanha gaúcha – solidão, profunda solidão. Nas tardes quentes de verão, sob sol a pino, para<br />

quebrar com o silêncio somente o som <strong>do</strong> vento baten<strong>do</strong> no pasto, o canto <strong>do</strong> cardeal, <strong>do</strong> canário-da-terra<br />

ou <strong>do</strong> tico-tico.<br />

98 Na introdução da obra “O Gaúcho”, M. Cavalcanti Proença aponta falhas de José de Alencar por não<br />

conhecer o Rio Grande <strong>do</strong> Sul, pecan<strong>do</strong> num fator importante para qu<strong>em</strong> faz romance regio<strong>na</strong>lista. Apesar<br />

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